WILSON CARLOS FUÁH
O período de pré-convenções é sempre marcado por uma intensa movimentação nos bastidores. Candidatos aos cargos municipais, estaduais e federais se desdobram em busca de apoios, acordos e coligações. Vale tudo para conquistar votos em todos os bairros ou garantir mais tempo no horário eleitoral. O problema é que, muitas vezes, essas alianças são firmadas sem qualquer critério — e o arrependimento vem logo depois.
Passada a eleição, começam os pedidos. E o que no início parecia simples agradecimento se transforma em exigência. É nesse momento que surge a famosa frase:
“Quem ajudou a eleger, também quer ajudar a governar.”
A pergunta que se impõe é: até que ponto é possível atender a quem colaborou na eleição sem comprometer a administração e o respeito à lei?
Durante os quatro anos de mandato, o eleito se vê cercado de solicitações — algumas legítimas, outras absolutamente indevidas. E, quando decide dizer “não”, os antigos aliados tornam-se inimigos ferozes. É assim que muitos governos perdem o equilíbrio e o sentido republicano.
A arte de dizer “não”.
A verdadeira inteligência administrativa está em saber recusar o que não é ético. O tempo é um aliado poderoso: adiar, repensar e até negar pedidos é sinal de firmeza e maturidade política. A palavra de negação, quando bem fundamentada, protege o gestor e o interesse público.
A história política mostra que coligações mal pensadas costumam transformar vitórias certas em derrotas inesperadas. Quantos candidatos líderes nas pesquisas desabaram ao se unirem a antigos adversários, acreditando que a soma de forças bastava?
O saudoso Dante de Oliveira, com quem tive o privilégio de caminhar politicamente, costumava repetir dois ensinamentos simples e sábios:
1. “Óleo não mistura com água.”
2. “Se algum dia você me vir abraçado a um adversário, aparte, porque é briga.”
Lições esquecidas
Mesmo assim, muitos dirigentes partidários parecem não aprender. Continuam formando alianças improváveis e comprometendo a integridade de seus governos. O resultado é um mandato refém de pressões, chantagens e pedidos nada republicanos — terreno fértil para a corrupção.
Por isso, no momento de pré-convenções, é melhor perder alguns minutos de horário eleitoral ou até uma eleição, do que passar quatro anos sob o peso de compromissos obscuros.
Na política, quando tudo é fácil demais, é sinal de perigo. A aparência de força pode esconder a fraqueza moral. E o gestor que se rende às chantagens perde a autoridade, o respeito e o próprio rumo.
Em tempos de alianças oportunistas, vale lembrar o velho ditado que nunca envelhece:
“Dize-me com quem andas e eu te direi quem és.”
Wilson Carlos Fuáh
Escritor, cronista e observador atento da vida política e social de Mato Grosso, é graduado em Ciências Econômica