RAYSSA MOTTA, FELIPE DE PAULA E FAUSTO MACEDO
DO ESTADÃO
Um novo relatório da Polícia Federal no âmbito da Operação Sisamnes reforça a suspeita de que servidores do Superior Tribunal de Justiça vinculados aos gabinetes dos ministros Isabel Gallotti, Nancy Andrighi e Og Fernandes mantinham contato direto com os lobista de Mato Grosso, Andreson de Oliveira Gonçalves e o advogado de Cuiabá, Roberto Zampieri, assassinado em dezembro de 2023.
Segundo a PF, o grupo articulava um esquema de venda de sentenças que envolvia antecipação de minutas, promessas de influência sobre ministros e contratos milionários de advocacia e consultoria usados para disfarçar o repasse de valores.
Os ministros não são alvo da investigação. Por sua assessoria, Og Fernandes afirmou que ‘não tem conhecimento desses novos fatos e reforçou que, respeitando o direito ao contraditório, quem cometer ato ilícito deve assumir as consequências legais cabíveis’.
O gabinete de Nancy Andrighi afirmou ‘que os processos de responsabilização encontram-se em andamento, a fim de que os fatos sejam devidamente esclarecidos e os responsáveis punidos de forma exemplar’.
Isabel Gallotti informou, por sua assessoria no STJ, que ‘desconhece o conteúdo da investigação, porque tramita em sigilo, e que seu gabinete está à disposição para auxiliar, no que seja necessário, a fim de que sejam cabalmente apurados os fatos ocorridos e responsabilizados todos os envolvidos’.
Pelo menos três assessores já estão sob suspeita da Sisamnes, mas outros podem ser identificados. Eles seriam responsáveis por manipular decisões, interferir em processos e vazar detalhes de investigações que envolviam magistrados ligados à suposta venda de sentenças.
O Estadão teve acesso ao documento, subscrito pelo delegado Marco Bontempo, que integra a equipe da PF para inquéritos sensíveis de competência do Supremo Tribunal Federal.
Fora pra dentro
Diálogos entre Andreson e Zampieri indicam como o esquema operava. Segundo os investigadores, as conversas revelam um primeiro fluxo de corrupção, descrito como ‘de fora para dentro’, no qual as partes interessadas - os ‘clientes’ - buscavam o Judiciário em troca de decisões favoráveis, tratadas posteriormente pelos intermediários. O mecanismo fica evidente, segundo a PF, em mensagens trocadas em 20 de junho de 2019, quando os lobistas discutem o pagamento relacionado a um processo que estaria em curso no gabinete de Gallotti.
O teor da conversa, na avaliação dos investigadores, levanta a suspeita de ligação de Zampieri com o gabinete da ministra - não há indicativos de que ela soubesse dos movimentos dos lobistas.
“Oi, assunto novo”, instigou Andreson.
“Boa noite. Está em segredo de Justiça? É pra negar liminar?”, devolveu Zampieri.
“Sim”, confirmou Andreson.
“Ok”, respondeu Zampieri. “Vou pedir agora”.
“Veja valor”, instruiu Andreson.
Quatro meses depois, em 16 de outubro de 2019, Andreson orienta Zampieri a cobrar o pagamento referente à mesma ação.
“Manda ele pagar o da Gallotti, que já resolveu”, insistiu Andreson.
“Eu não duvido, não, Andreson. É que tem momentos em que o povo não tem grana”, ponderou Zampieri.
“Aí é foda... sem grana não anda”, retrucou Andreson.
Para os investigadores a expressão ‘o da Galotti’ seria uma referência ao servidor do gabinete da ministra ligado ao esquema.
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