WILSON PEDROSO
A eleição da primeira mulher para o cargo de primeira-ministra do Japão marca um momento histórico para o país, tradicionalmente caracterizado por uma política dominada por homens. Esse avanço representa um importante passo para a equidade de gênero na liderança política japonesa. Mais que isso, é um recado ao mundo: as mulheres podem, sim, estar onde quiserem. São capazes de furar as bolhas mais densas e inacessíveis.
Mas afinal, o que podemos esperar de Sanae Takaichi? Embora a nova mandatária traga consigo novos ares, carregados do simbolismo da inovação e da ruptura de tabus que exigem os novos tempos, sua postura é altamente conservadora e se alinha mais às tradições políticas japonesas do que às transformações ideológicas que muitos poderiam esperar dela. Ou seja, na prática, a "Dama de Ferro Japonesa" não deverá surpreender o mundo com grandes novidades. Mas poderá mostrar a competência que a fez chegar à liderança do país.
Conhecida por sua sólida experiência e abordagem pragmática, a nova líder enfrentará desafios significativos em um cenário global cada vez mais complexo. Sua trajetória política é marcada pela adesão a princípios tradicionalistas, o que, paradoxalmente, pode ser visto tanto como uma âncora de estabilidade quanto como um potencial entrave para reformas mais progressistas.
A escolha de Sanae Takaichi para liderar o governo japonês pode ser atribuída a uma combinação de fatores. Entre eles, destaca-se a necessidade de revitalizar a imagem do partido governante, que está imerso em uma crise que envolve escândalos políticos e baixa popularidade, o que o obrigou a mostrar-se aberto a uma liderança diversificada. Isso sem, no entanto, romper com antigos alicerces, indicando que provavelmente o Governo continuará a valorizar práticas políticas já estabelecidas, priorizando a estabilidade econômica e a segurança nacional; o que atende às expectativas de uma parcela significativa do eleitorado conservador.
E é justamente a esse eleitor que não abre mão do conservadorismo para quem a primeira-ministra acena. Sua postura já arrancou elogios de Donald Trump, que estará em solo japonês em breve. Nesse contexto, deve-se destacar ainda que a nomeação de Takaichi fez surgir no Japão um fenômeno semelhante ao que se vê nos EUA, de animosidade em relação aos imigrantes. Alguns chamam isso de nacionalismo, mas Takaichi já foi acusada pela oposição de promover xenofobia e exclusão, ao que ela negou com veemência.
Portanto, a eleição de Sanae Takaichi merece atenção. Enquanto o Japão dá este passo histórico, devemos nos atentar às sutilezas dessa transição. A expectativa de uma gestão que equilibre inovação com tradições estabelecidas será um teste tanto para a primeira-ministra quanto para a capacidade do Japão de se adaptar aos novos tempos. É evidente que o simbolismo da liderança feminina exerce um forte impacto, mas o que definirá o futuro serão suas decisões e capacidade de governar em tempos de mudanças, sem deixar que a tradição obscureça a necessidade de progresso.
*Wilson Pedroso é analista político e consultor eleitoral com MBA nas áreas de Gestão e Marketing, além de sócio estrategista do Instituto de Pesquisa Real Time Big Data


















