Erros estratégicos de Mendes podem decidir eleição neste domingo

ANA ADÉLIA JÁCOMO

Após três meses de campanha, neste domingo (7) Cuiabá vive a expectativa de saber quem é o novo prefeito do município. A disputa este ano tem uma peculiaridade importante: o crescimento meteórico de Lúdio Cabral, que disputa a vaga do Palácio Alencastro pelo PT, e ameaça vencer no primeiro turno. Em contrapartida, Mauro Mendes (PSB), até meados de setembro, era o franco favorito nas intenções de voto e chegou a deixar críticos e analistas políticos certos de que venceria o pleito sem grandes problemas.

Contudo, há dois questionamentos importantes. Porque Mauro Mendes não conseguiu manter-se bem avaliado sob o olhar do eleitorado? E como o petista conseguiu assombrosos 48%, segundo o instituto Ibope de pesquisas? Sucessivos erros de campanha fizeram com que Mendes amargasse a possibilidade de ser derrotado pela terceira vez em eleições, já que ele disputou à prefeitura em 2008 e o Governo do Estado em 2010, mas perdeu as duas eleições. O primeiro grande erro do empresário, dono da Bimetal, foi ter demorado tanto tempo para decidir se seria candidato ou não.

Suas bases de apoio ficaram inseguras e o próprio movimento “Mato Grosso Muito Mais”, (formado pelos partidos PDT, PPS, PV e PSB) estiveram em vias de rompimento por diversas vezes. Mauro quase fez o PDT, do senador Pedro Taques, fechar uma aliança com Lúdio. O presidente municipal da legenda, o médico Kamil Fares, chegou a lançar-se pretenso candidato a prefeito e anunciou diversas vezes o iminente “racha”. Mas não foi apenas a indecisão que prejudicou Mendes. Após decidir-se como candidato, ele iniciou um verdadeiro “terremoto” nos bastidores dos dois maiores partidos do Estado: o PMDB e o PR.

Cometeu o erro infantil de fazer promessas e tentar unir as duas legendas no seu palanque. Tanto fez, que conseguiu derrubar duas candidaturas confirmadas, a do empresário dono do Grupo Gazeta Dorileo Leal (PDMB) e do vereador Francisco Vuolo (PR). Ambos viram seu desejo de disputar a prefeitura ir por água abaixo diante das articulações de Mendes, que, segundo os bastidores, teria conseguido convencer as duas cúpulas a abandonar o projeto próprio em troca de uma cadeira de vice-prefeito na sua chapa.

Dorileo desistiu. Vuolo ainda tentou viabilizar-se como o vice de Mendes, mas foi sucumbido pelas habilidades do deputado estadual João Malheiros (PR). A decepção de Vuolo foi tamanha, que desfiliou-se do PR, virou inimigo de Mendes e foi fortalecer a campanha de Lúdio Cabral. Quando enfim, Mauro lançou-se como candidato, tendo Malheiros de vice, o PMDB, que ficou até o último momento aguardando um posicionamento do empresário, foi abandonado no “altar”. Sem projeto próprio, sem aliança, sem qualquer noção de como se comportar diante do pleito, o partido do governador Silval Barbosa teria recebido uma ligação da alta cúpula peemedebista. A indicação era de que a agremiação deveria unir-se a Lúdio, sob ordens da presidente da República Dilma Rousseff (PT).

Lúdio, que até então não tinha conseguido viabilizar um partido sequer para seu projeto, e tinha vencido a guerra interna no PT a duras penas, afirmou que lançaria-se candidato numa chapa pura. Sem esperar, recebeu o apoio do PMDB no dia da convenção. Tamanha surpresa que nem mesmo os altos escalões do Governo puderam imaginar um desfecho como esse. Lúdio conseguiu o apoio do maior partido do país e da máquina estadual e federal. No entanto, as pesquisas ainda não demonstravam tanto impacto e o petista ainda tinha míseros 10% das intenções de voto.

Erros estratégicos fizeram com que Mendes fosse, aos poucos, perdendo espaço. Primeiro o candidato optou por permanecer calado diante das críticas do coordenador de campanha de Lúdio, o ex-secretário da Secopa Eder Moraes. Foi acusado de ser arrogante, metido e o pior, Eder afirmou que Mauro não gostava de pobre e que lavava as mãos com álcool depois de visitar periferias. Mauro nunca respondeu, apenas alegava, por meio de sua assessoria de imprensa, que Eder não fazia parte do processo eleitoral e que por isso não merecia resposta. Calou-se e no inconsciente popular, quem cala, consente.

O petista não perdeu tempo e tratou logo de massificar sua imagem de jovem médico, humilde e trabalhador. Mauro, quando percebeu que estava em queda-livre nas pesquisas optou por responder Eder Moraes. No entanto, da forma mais arcaica e retrógada possível. Ele preferiu censurar veículos de comunicação que exibiam entrevistas de Eder, do que rebater as acusações. A partir de então, o mal estar estava generalizado. Contudo, para surpresa de alguns, Mauro cometeu um erro ainda pior. Ele acusou indevidamente seu rival de ser caloteiro por não ter efetuado pagamentos do IPTU. Lúdio foi à Justiça e conseguiu o direito de resposta. Mostrou que os terrenos haviam sido vendidos há quatro anos.

Mauro cometeu o mesmo erro duas vezes. Ele voltou a atacar o petista sobre o IPTU. Lúdio conseguiu novamente o direito de resposta e para piorar, ganhou mais de cinco minutos de inserção na televisão e no rádio no último dia da propaganda eleitoral gratuita. Durante toda campanha, Lúdio evitou ao máximo atacar o adversário e escalou Eder Moraes para fazer a parte “suja” do negócio. Mauro, por sua vez, não soube explorar as oportunidades da campanha e agora vive a expectativa de ser derrotado no primeiro turno por um candidato que jamais fez sombra a seus projetos políticos. Esta noite o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) irá liberar os nomes dos vencedores, no entanto, em Cuiabá, o clima é de expectativa. Pode haver segundo turno, ou não.