VANESSA MORENO
DO REPÓRTERMT
O marido e pai das vítimas da chacina de Sorriso, Regivaldo Batista Cardoso, recebeu com indignação a notícia de que o assassino Gilberto Rodrigues dos Anjos não vai participar de forma presencial do julgamento pelo júri popular, marcado para a próxima quinta-feira (07). A participação dele será por meio de videoconferência.
Gilberto responde pelo assassinato da mulher e das filhas de Regivaldo, Cleci Calvi Cardoso, de 46 anos; Miliani Calvi Cardoso, de 19; Manuela Calvi Cardoso, de 13; e Melissa Calvi Cardoso, de 10. Três delas foram estupradas pelo assassino. O crime aconteceu em novembro de 2023.
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“Fiquei muito decepcionado e a família também. Achamos muito injusto isso”, disse Regivaldo ao RepórterMT.
Julgamento sem o réu presente é um circo. Uma palhaçada essa nossa Justiça
Conforme apurado pela reportagem, Gilberto, que está preso na Penitenciária Central do Estado (PCE), em Cuiabá, manifestou à Defensoria Pública de Mato Grosso, responsável por sua defesa, o desejo de não participar do julgamento de forma presencial, mas sim por videoconferência e o pedido foi atendido pela Justiça.
Para Regivaldo, a permissão mostra que a Justiça se preocupa mais com o réu do que com as vítimas. Ele gostaria que o assassino estivesse presente para receber uma condenação justa pelo crime bárbaro que cometeu.
“A Justiça se preocupa mais com o assassino do que com as vítimas. Ele deveria ser obrigado a estar no júri”, defendeu.
Por fim, o marido e pai das vítimas criticou a forma como o julgamento será feito. “Julgamento sem o réu presente é um circo. Uma palhaçada essa nossa Justiça”, concluiu.
O conversou ainda com o advogado da família das vítimas, Conrado Pavelski Neto, que explicou que o réu tem o direito de escolher a forma como participar do tribunal do júri, se presencial ou remotamente, pois a forma e até mesmo a ausência do réu não impedem que o julgamento ocorra.
Ainda segundo advogado, era um desejo das famílias Calvi e Cardoso que o assassino estivesse presente no júri popular, mas, de acordo com o jurista, nada será impedimento para a condenação do assassino, pois há provas robustas contra ele.
“Para o julgamento, é indiferente, pois, por tudo o que tem de provas no processo, ele será condenado. A família queria a presença dele, porém, infelizmente, nesta situação, é o direito de todo e qualquer acusado, por mais bárbaras que tenham sido as suas condutas”, disse Conrado Neto.
A sessão de julgamento será realizada no plenário da 1ª Vara Criminal de Sorriso, a partir das 8h.
Regras para o júri popular
O juiz Rafael Depra Panichella, da 1ª Vara Criminal de Sorriso, determinou, no último dia 31 de julho, algumas regras para o júri popular de Gilberto Rodrigues dos Anjos.
Conforme decisão, o julgamento não será transmitido ao vivo e está proibido o uso de quaisquer aparelhos eletrônicos em plenário, tais como telefones, smartphones, gravadores de voz, tablets, câmeras, notebooks, entre outros.
O plenário onde ocorrerá a sessão tem capacidade para 120 pessoas. Desse número, 20 lugares serão reservados para a imprensa.
Apesar de permitir a presença de jornalistas no local, somente a assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT) poderá fazer gravações de áudios e vídeos referentes ao júri popular e, posteriormente, disponibilizá-los de forma controlada aos veículos de imprensa.
Além disso, apenas um representante por veículo de comunicação poderá participar do Tribunal do Júri e é preciso fazer o credenciamento prévio.
Familiares das vítimas também poderão participar, desde que comprovem o grau de parentesco e proximidade.
Caso haja disponibilidade no local, outras autoridades poderão assistir, mas a manifestação pública dentro do plenário será proibida, a fim de criar eventual politização.
O crime
Gilberto Rodrigues dos Anjos trabalhava em uma construção quando invadiu uma casa ao lado e matou Cleci Calvi Cardoso, de 46 anos; Miliani Calvi Cardoso, de 19; Manuela Calvi Cardoso, de 13; e Melissa Calvi Cardoso, de 10. O crime aconteceu enquanto o marido e pai das filhas, o caminhoneiro Regivaldo Batista Cardoso, estava fora de casa a trabalho.
O assassino responde na Justiça por homicídio qualificado, estupro e estupro de vulnerável.
Com relação à Clecy e Miliane, que são maiores de idade, o crime vem acompanhado de quatro qualificadores, sendo feminicídio, recurso que dificultou a defesa da vítima, meio cruel e meio para assegurar a execução de outro crime.
Com relação às vítimas menores de idade, Manuela e Melissa, além das quatro qualificadoras, ainda pesa sobre ele a qualificadora de ambas serem menores de 14 anos.
As quatro vítimas foram mortas pelo criminoso entre os dias 24 e 25 de novembro de 2023.
À polícia, ele contou que entrou na casa pela janela do banheiro e se deparou com Clecy no corredor. Ele a jogou no chão e a esfaqueou no pescoço.
Em seguida, ele entrou no quarto da filha mais velha e a do meio e também cortou os pescoços delas.
Por fim, ele entrou no quarto da caçula e a matou por asfixia.
Enquanto as vítimas agonizavam no chão, ele cometeu o estupro contra três delas, exceto a mais nova.