APARECIDO CARMO
DO REPÓRTERMT
Andreson de Oliveira Gonçalves, o lobista de Mato Grosso que chegou a ser preso em unidade de segurança máxima em Brasília acusado de ser um dos principais articuladores de um esquema de venda de sentenças em diversos tribunais brasileiros, fingia ter os números de telefone de servidores do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Ele fazia isso para conseguir clientes.
Conforme a investigação da Polícia Federal realizada a partir da extração dos dados encontrados no telefone de Andreson, ele salvava os números de advogados com nomes relacionados à ministros do STJ. Dessa forma, ele fazia parecer ter influência sobre as sentenças proferidas por aquela Corte e cobrava para intermediar decisões judiciais.
>>> Clique aqui e receba notícias de MT na palma da sua mão
O relatório, obtido e divulgado pelo Estadão, mostra que em um dos casos o número salvo realmente dizia respeito a servidor do STJ. Márcio José Toledo Pinto, que trabalhou nos gabinetes das ministras Isabel Gallotti e Nancy Andrighi, recebeu de Andreson comprovantes de depósito que totalizaram pelo menos R$ 4 milhões. Em troca, ele recebia as minutas das decisões.
LEIA MAIS - Lobista de MT envolvido em esquema de venda de sentenças é novamente alvo da PF
Márcio José foi demitido do STJ neste ano após responder a um Processo Administrativo Disciplinar (PAD).
Em nota, a ministra Nancy disse ter colocado seu gabinete à disposição para auxiliar nas apurações “a fim de que o assunto seja esclarecido e os envolvidos punidos de forma exemplar”. A ministra Isabel Gallotti e a defesa de Márcio José Toledo Pinto não se posicionaram.
Dois contatos falsos salvos no telefone do lobista tinham os nomes de Daimler Alberto de Campos, que era chefe de gabinete da ministra Isabel Gallotti, e Rodrigo Falcão, vinculado ao gabinete do ministro Og Fernandes. A conclusão dos investigadores é que os números, na verdade, eram de outras pessoas, que sequer tinham relação com o STJ.
“Importa ressaltar, contudo, que a prática de salvar números telefônicos sob nomes de terceiros é expediente recorrente em contextos de ocultação e dissimulação de ilícitos, justamente para despistar eventual vinculação entre o interlocutor real e as comunicações mantidas”, diz trecho do relatório da PF citado na matéria do Estadão.
O relatório conclui pedindo ao ministro Cristiano Zanin, que é o relator desse caso no Supremo Tribunal Federal (STF), que permita um maior aprofundamento das investigações diante dos indícios de “uso sistemático de linguagem cifrada, codinomes, contatos fictícios e documentos mascarados, além da possível utilização de aparelhos e aplicativos voltados à ocultação da origem, identidade dos interlocutores e da natureza ilícita das tratativas”.