RAFAEL DE SOUSA
DA REDAÇÃO
O desembargador Orlando Perri – do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT) – defendeu que a prisão de oito pessoas, entre elas secretários de Estado, por suposta participação no esquema de grampos ilegais no Estado, foi necessária para garantir a integridade física do tenente-coronel da Polícia Militar, José Henrique Costa Soares.
Soares, que é citado na decisão como testemunha, foi quem denunciou à delegada Ana Cristina Feldner que o grupo supostamente liderado pelo ex-chefe da Casa Civil, Paulo Taques, e o secretário de Segurança do Estado, Rogers Jarbas, estaria tramando com o objetivo de afastar Orlando Perri da relatoria do processo, que investiga um esquema de arapongagem no âmbito das Polícias Civil e Militar de Mato Grosso.
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Segundo o desembargador, em depoimento, o militar disse temer pela integridade física e dele e do filho.
“Em razão das peculiaridades do caso concreto, especialmente quando houver circunstâncias excepcionais que imprimam urgência no deferimento delas, como no caso concreto, onde a sobredita testemunha e seu filho se encontram em risco real de vida”, destacou.
O fato de Soares temer pela vida também teria fortalecido a tese da prisão preventiva sem parecer do Ministério Público Estadual (MPE) ao qual o magistrado acusa de morosidade e omissão.
“O segundo ponto, e não menos importante, refere-se ao fato de que o Ministério Público Estadual tem levado em média sete dias para se manifestar sobre pedidos deste jaez, o que, no caso concreto, em razão de sua urgência, poderá prejudicar o cumprimento das diligências, colocando em risco, inclusive, a integridade física e moral da testemunha José Henrique Costa Soares, como também a do seu filho, também ameaçado por membro da organização criminosa”, diz trecho da decisão.
Denúncia
Em depoimento à Polícia Civil, o tenente-coronel José Henrique Costa Soares confessou que gravou áudio de uma conversa que teve com o desembargador Orlando Perri com o objetivo de afastá-lo da condução do processo que investiga um esquema interceptações telefônicas.
A confissão do militar culminou na Operação Esdras, da PJC, que prendeu, na manhã de quarta-feira (27), o secretário de Justiça e Direitos Humanos, coronel Airton Benedito Siqueira Júnior; o ex-chefe da Casa Militar do Estado, o coronel Evandro Lesco; o ex-chefe da Casa Civil, Paulo Taques e o secretário afastado de Segurança Pública, Rogers Jarbas, além de outras quatro pessoas.
De acordo com a decisão de Perri, o tenente-coronel foi procurado por um dos integrantes do grupo quando nomeado escrivão do Inquérito Policial Militar (IPM).
Porém, no último dia 22, o tenente-coronel José Henrique Costa Soares procurou a delegada Ana Cristina Feldner, responsável pelas investigações, para confessar que atuou juntamente com o grupo, de acordo com Perri, liderado por Paulo Taques e Rogers Jarbas, para obstruir as investigações.
“Revelou à autoridade policial toda a putredinosidade da inaudita trama criminosa, que estava a atentar não apenas contra o Relator dos procedimentos, mas contra o Estado de Direito e a própria democracia”.