MARCIO CAMILO
DA REPORTAGEM
Réu pelo esquema de escutas clandestinas ilegais em Mato Grosso, o cabo da Polícia Militar Gerson Corrêa Júnior declarou ao juiz Murilo Moura Mesquita, da 11ª Vara Militar de Cuiabá, nesta segunda feira (27), que em uma suposta irregularidade do Grupo de Atuação e Combate ao Crime Organizado (Gaeco) teriam sido grampeados o ex-governador Silval Barbosa, o irmão dele, Antonio Cunha Barbosa e o empresário Filadelfio, sob a alegação de uma possível ameaça de morte à então juíza da 7ª Vara Criminal de Cuiabá, Selma Arruda.
A suposta investigação teria ocorrido em 2015. O cabo que era operador dos grampos, afirma que a situação teve anuência do promotor de Justiça Marco Aurélio e da própria juíza.
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“O promotor Marco Aurélio me chamou na sala, narrou que ela estava sofrendo ameaças etc. Depois fui até o gabinete da Selma dizendo que Marco Aurélio havia me procurado e pedido para ir até lá", disse.
Segundo o Gerson, em 2015, Selma procurou o chefe do Gaeco à época, o promotor Marco Aurélio, para dizer que estava sendo ameaçada pelo ex-deputado José Riva.
“Ele [promotor] determinou para que realizasse um levantamento, via denúncia anônima, com subsídio de meu relatório. Foi então que foi incluído o Filadélfio, Silval, Antonio Barbosa. Eles não tinham nada com a história. Criamos um cenário e inserimos os três no bojo dessa investigação”, declarou.
Conforme Gerson, a juíza disse ao promotor que a sua assessora tomou conhecimento de que a família do jornalista Antonio Carlos Millas tinha recebido pessoas em sua fazenda, em Nossa Livramento do Livramento, e nessa oportunidade estava o ex-deputado Riva.
Selma detalhou ao promotor que eles começaram a falar que seria a cabeça do Gaeco, sendo uma das idealizadoras da Operação Mestástase.
“Ele [promotor] determinou para que realizasse um levantamento, via denúncia anônima, com subsídio de meu relatório. Foi então que foi incluído o Filadélfio, Silval, Antonio Barbosa. Eles não tinham nada com a história. Criamos um cenário e inserimos os três no bojo dessa investigação”, declarou.
O cabo ainda ressaltou que o promotor teria mandado que o caso fosse instaurado como denúncia anônima, tratando sobre uma organização criminosa com vínculos na administração pública para matar a juíza.
Este é o segundo depoimento do cabo à Justiça Militar já que o primeiro durou das 23h50 às 5h20, a defesa de Gerson alegou que o réu foi prejudicado pelo cansaço e pediu novo interrogatório, que foi concedido.
Operador
Ao juiz, Gerson Correa afirmou que atuou entre os anos de 2004 a 2007 no Gaeco, onde era operador do sistema ‘guardião’ para escutas telefônicas.
Posteriormente, ele teria sido o operador do esquema implantado na Polícia Militar, que grampeou políticos, advogados, jornalistas e servidores públicos. Segundo o cabo, ele teria sido procurado em 2014 pelo ex-comandante da PM, coronel Zaqueu Barbosa para operar o sistema de escutas clandestinas. O militar afirma que o sistema de grampos não era novo, pois tinha conhecimento do mesmo desde 2012.
Outro lado
Em nota, o Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco) afirma que os fatos apontados pelo cabo Gérson Corrêa não configuram “barriga de aluguel”. Acrescenta que a utilização de dados cadastrais obtidos em investigações não é vedada e não pode ser confundida com a prática de espionagem clandestina.
Veja a íntegra a nota do Gaeco:
POSICIONAMENTO GAECO
O Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (GAECO) esclarece que, pelo teor das matérias divulgadas na imprensa, os fatos apontados pelo cabo Gérson Corrêa não configuram “barriga de aluguel”. A utilização de dados cadastrais obtidos em investigações não é vedada e não pode ser confundida com “barriga de aluguel”.
Reafirma que o GAECO não se utiliza de qualquer prática ilícita na obtenção da prova.
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