MARIA JULIA SOUZA
DA REDAÇÃO
A linha do tempo dos fatos desencadeados pela delação do empresário Alan Malouf levanta a suspeita de uma manobra jurídica. Se confirmada a má-fé, o delator da Operação Gran Vizir pode perder a colaboração premiada, por ter mentido.
Ele realizou denúncias contra o ex-secretário de Segurança Pública, o advogado Fábio Galindo, a juíza aposentada Selma Arruda e o promotor de Justiça Marco Aurélio, que são apuradas como possíveis retaliações, na intenção de mudar as circunstâncias que travavam a colaboração premiada.
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De acordo com documentos obtidos pelo , o delator apresentou 14 volumes de documentos acusatórios ao Ministério Público Estadual (MPE), para deliberação de delação.
Os promotores de Justiça Marco Aurélio, Samuel Frungilo e Carlos Roberto Zarour argumentaram que quase toda a documentação apresentada por Malouf, com exceção do volume VIII, deveria ser avaliada pela Procuradoria-Geral da República. A medida se deu, em dezembro de 2016, devido o conteúdo envolver figuras de foro privilegiado no âmbito do Tribunal superior de Justiça (STJ).
Na análise dos membros do MPE, o único apenso analisado no Mato Grosso é repleto de omissões propositais em sua estrutura narrativa.
“Por ora, a base do relato contido no anexo VIII demonstra omissão, contradição e tentativa de atrapalhar a atividade investigativa na citada Operação Rêmora, em trâmite na Justiça Estadual de Mato Grosso”, deliberaram os promotores.
O empresário usou do recurso da “reserva mental” para tentar controlar a investigação, contrariando “prova obtida mediante árdua atividade investigativa”.
Na época, juíza da Sétima Vara Criminal, Selma Arruda (atualmente senadora), concordou com o Gaeco e negou a colaboração premiada e determinou a prisão preventiva de Alan Malouf, um dia após parecer do MPE.
Malouf se apresentou à Justiça, no dia 15 de dezembro, para cumprir o mandando de prisão cautelar. Na mesma data, ele apresentou diretamente ao então procurador geral da República, Rodrigo Janot, um pedido para anexar novo volume de denúncia.
A petição foi entregue diretamente ao cargo mais alto do Ministério Público devido, segundo o empresário, “a gravidade e peculiaridade do caso”.
O colaborar acusou, nos novos documentos, o advogado Fábio Galindo, a juíza Selma Arruda e o promotor de Justiça Marco Aurélio.
Os documentos relatam que Galindo teria oferecido seus trabalhos ao preço de R$ 3 milhões, com a garantia de blindagem.
Oferta teria se dado em encontro, numa chácara de um familiar de Fábio. Segundo acusação de Malouf, o advogado teria garantido proteção no Ministério Público (Marco Aurélio) e Judiciário (Selma Arruda).
Se for constatado que Malouf mentiu e agiu de má-fé, ele poderá perder seu acordo de colaboração premiada e responder pelo crime de denúncia caluniosa contra autoridades, o levando de volta para a cadeia.
Outro lado
A reportagem procurou a defesa do empresário Alan Malouf e ao , o advogado Huendel Rolim informou apenas que a defesa irá se manifestar nos autos do processo.
Delação
A Operação Rêmora levou para a cadeia agente spúblicos e empresários envolvidos em esquema de propina em licitações da Secretaria de Educação.
Alan Malou, preso na segunda fase da operação, a Gran Vizir, afirmou que foi coordenador financeiro da campanha do ex-governador Pedro Taques (PSDB), na qual houve esquema de caixa dois e que o esquema na Seduc foi feito para pagar contas de campanha.
Em seu depoimento, Malouf afirmou que Taques sabia do esquema. Ele também complicou o ex-deputado federal Nilson Leitão (PSDB), além do deputado estadual e hoje conselheiro do Tribunal de Contas, Guilherme Maluf. Todas as acusações foram negadas.
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