KAMILA GARCIA
De todas as dores que a vida nos impõe, a decepção talvez seja a mais pungente. É uma ferida que surge independentemente do motivo — seja por traição, deslealdade, omissão ou ingratidão.
A decepção nasce da quebra de uma expectativa, principalmente quando depositamos confiança nos bons sentimentos de alguém ou em um relacionamento. Ela fere a alma profundamente, lançando sombras sobre o futuro. Gera dúvidas e desconfiança, fazendo-nos questionar até mesmo quem, de fato, deseja o nosso bem.
Pode ser comparada a uma estalactite: suas gotas d'água se acumulam lentamente ao longo do tempo, solidificando-se até o momento em que, com dor, se desprende e se estilhaça em inúmeras fagulhas.
Essa dor é provocada por diferentes atitudes, mas quase sempre tem a mesma origem: o ser humano. Afinal, somente ao homem é dado o poder de trair — seus irmãos, cônjuges, amigos, sua comunidade — com os mais requintados níveis de crueldade.
Há quem traia com a palavra, utilizando informações para caluniar, distorcer, manipular. Gente que espalha boatos e envenena reputações em busca de notoriedade. Se a palavra pode ferir, a omissão não fica atrás: pessoas negligenciam os sentimentos dos que as cercam, ignoram chamados silenciosos, permitem abusos em cima da boa vontade alheia.
E a decepção também se manifesta na deslealdade, quando alguém finge caminhar ao seu lado, mas, sorrateiramente, prepara o terreno para a trapaça. Mas talvez a mais silenciosa e profunda das facadas seja a ingratidão. Aquele momento em que toda a bondade, tempo e dedicação oferecidos por alguém são ignorados, esquecidos, descartados.
Assim, a decepção se manifesta. Todos os dias, testemunhamos pessoas feridas pela falsidade de laços que pareciam verdadeiros. Gente que se disfarça de amiga para usar da sua generosidade como trampolim num jogo cruel de poder.
O desleal não cobiça apenas sua posição; ele anseia por sua dignidade. Faz de tudo para denegrir sua imagem, não por inveja do seu saber, mas porque precisa destruir o que legitima sua jornada. Diante de tamanha ferida, o grande aprendizado e a verdadeira libertação residem no perdão.
Perdoar aqueles que se corrompem por dinheiro, status ou vaidade é um desafio — e, ao mesmo tempo, uma libertação. O perdão é necessário para cicatrizar a dor da decepção, que, se não for enfrentada, pode se transformar em tristeza crônica, em amargura ou até em depressão. Sim, perdoar é difícil. Mas é o maior aprendizado de toda uma vida.
E se serve de consolo, a decepção é universal. Se você é daqueles que sofre mais decepções do que causa, é um forte sinal de que há bondade em seu coração. E se, mesmo ferido, você ainda foi capaz de perdoar, então carrega bênçãos Divinas sobre sua vida. Porque não é fácil encarar a traição, a deslealdade, a ingratidão... Contudo, ainda assim: perdoe. Porque resistir é nobre, mas perdoar é divino.
*Kamila Garcia é bacharel em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, com pós-graduação em Psicanálise. Estuda Psicologia Positiva e se dedica às terapias holísticas e à espiritualidade voltada ao autoconhecimento.