VANESSA MORENO
O grupo criminoso que desviou mais de R$ 21 milhões dos cofres do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT), por meio de fraudes judiciais, era composto por membros da mesma família, advogados e servidores do Poder Judiciário. Liderado pelo empresário João Gustavo Ricci Volpato, o esquema contava com a participação da mãe, do irmão, da esposa e da cunhada dele.
João Gustavo é genro do desembargador do TJ, Rubens de Oliveira, e foi preso, junto com os demais envolvidos, na manhã dessa quarta-feira (30), durante a Operação Sepulcro Caiado, deflagrada pela Polícia Civil de Mato Grosso.
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De acordo com as investigações, João Gustavo é sócio das empresas Labor Fomento Mercantil Ltda e da RV Empresa de Cobrança Ltda. Ele ajuizava ações de cobrança no Poder Judiciário, tanto no nome dele, quanto no nome das empresas, com documentos e assinaturas falsas.
O líder e os advogados alvos da operação falsificavam também procurações para representar as vítimas dos processos, sem que elas soubessem.
Além disso, o grupo criminoso simulava a quitação da dívida via depósito judicial, juntando comprovantes de pagamentos falsificados na ação.
Já os servidores do TJ que estavam envolvidos no esquema criavam planilhas falsas simulando os depósitos na Conta Única da Corte estadual, permitindo assim a obtenção fraudulenta de alvarás judiciais para fazer a migração do respectivo valor da conta do Tribunal de Justiça para a conta vinculada ao processo.
A mãe de João Gustavo, Luiza Rios Ricci Volpato, também estava envolvida no esquema, foi presa na manhã dessa quarta, e depois solta em audiência de custódia. Ela é uma das sócias da RV Empresa de Cobrança Ltda, que era usada como parte autora das ações fraudulentas.
Luiza foi apontada pela polícia como beneficiária indireta de repasses oriundos do esquema, estimados em cerca de R$1 milhão.
Augusto Frederico Ricci Volpato, irmão de João Gustavo, também foi preso. De acordo com a polícia, ele é sócio da empresa Labor Fomento Mercantil Ltda, outra empresa que foi utilizada no esquema. Ele foi apontado como braço operacional do irmão e fez movimentações superiores ao seu rendimento declarado.
Conforme as investigações, Augusto movimentou cerca de R$6 milhões entre 2020 e 2021, R$ 10 milhões entre 2021 e 2023 e ainda transferiu quantias milionárias para os pais e para o cunhado.
Ainda de acordo com a polícia, Augusto atuava em articulação com João Gustavo e com os advogados, sendo peça importante no esquema criminoso.
Flávia de Oliveira Santos Volpato, esposa de João Gustavo, também está entre as investigadas, mas não foi presa. Ela foi alvo de busca e apreensão, pois recebia valores direto da conta do marido e chegou a comprar um imóvel, pagando mais de R$37 mil em espécie.
Ela é filha do desembargador Rubens de Oliveira.
Já a cunhada de João Gustavo, Júlia Maria Assis Asckar Volpato, também é investigada pois recebeu transferências recorrentes de seu marido, Augusto Frederico, entre 2021 e 2023, totalizando R$132.725,00.
O valor recebido, de acordo com a polícia, pode indicar ocultação de valores de origem ilícita.
Júlia Maria também foi submetida a um mandado judicial de busca e apreensão.
Além de João Gustavo, Luiza e Augusto, foram presos na manhã dessa quarta-feira os advogados Wagner Vasconcelos de Moraes, Melissa França Praeiro Vasconcelos de Moraes, Rodrigo Moreira Marinho, Themis Lessa da Silva, João Miguel da Costa Neto, Régis Poderoso de Souza e Denise Alonso.
O servidor do TJ Mauro Ferreira Filho também é alvo de um mandado de prisão, mas não foi encontrado pela polícia e é considerado foragido.
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Quanto aos mandados de busca e apreensão, além de Flávia e Júlia Maria, são alvos Wagner Vasconcelos de Moraes, Melissa França Praeiro Vasconcelos de Moraes, o Escritório de advogacia França e Moraes, João Gustavo Ricci Volpato, Luiza Rios Ricci Volpato, Augusto Frederico Ricci Volpato, RV Empresa de Cobranças LTDA, Labor Fomento Mercantil LTDA, Rodrigo Moreira Marinho, Themis Lessa da Silva, João Miguel da Costa Neto, Guilherme Porto Corral, Mauro Ferreira Filho, Keyyly Gonçalves Martinez, Eva da Guia Magalhães, Cláudia Regina Dias de Amorim Del Barco Correa e Denise Alonso.
Mais de 160 ordens judiciais foram deferidas pelo juiz Moacir Rogério Tortato, do Núcleo de Justiça 4.0, e são cumpridas em Cuiabá, Várzea Grande e na cidade de Marília (SP). Além das prisões e das buscas e apreensões, foram determinadas também 16 ordens de bloqueio judicial totalizando mais de R$ 21,7 milhões, além de 46 quebras de sigilo fiscal e bancário e sequestro de 18 veículos e 48 imóveis.