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Cuiabá, 05 de Julho de 2025
05 de Julho de 2025

05 de Julho de 2025, 08h:00 - A | A

POLÍCIA / RELEMBRE O CASO

Assassinato de Renato Nery completa um ano

Advogado foi alvejado com sete tiros no dia 5 de julho de 2024, em frente ao seu escritório, na Avenida Fernando Corrêa da Costa, em Cuiabá

VANESSA MORENO
DO REPORTÉR MT



Foi no dia 5 de julho de 2024, por volta das 9h, que o advogado e ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Mato Grosso (OAB-MT), Renato Nery, foi atingido com sete tiros de arma de fogo. Ele estava chegando em seu escritório de advocacia, localizado na Avenida Fernando Correa da Costa, em Cuiabá, quando um motociclista, que pilotava uma moto vermelha e usava jaqueta, calça e capacete pretos, se aproximou estrategicamente da vítima e efetuou os disparos, todos direcionados à cabeça.

Nery chegou a ser socorrido e levado a um hospital na capital, onde passou por cirurgia. No entanto, na madrugada do dia 6 de julho, ele morreu.

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Neste sábado (05), o assassinato do advogado completa um ano. E desde então, muita coisa foi revelada através das investigações da Polícia Civil de Mato Grosso. Uma delas, a motivação do crime.

Renato Nery atuava como advogado em uma disputa judicial por uma terra de mais de 12 mil hectares, localizada no município de Novo São Joaquim. Após décadas de briga na Justiça, Nery acabou se tornando coproprietário da terra.

Em março de 2024, ele conseguiu uma liminar no Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT), que suspendeu o pagamento de contratos de arrendamentos vigentes da área, que somavam mais de R$2 milhões.

Em junho do mesmo ano, uma decisão confirmou o bloqueio dos arrendamentos.

Dez dias antes de morrer, Renato apresentou uma representação ético-disciplinar na Ordem dos Advogados do Brasil seccional Mato Grosso (OAB-MT), referente à disputa da terra, contra advogados, sendo um deles Antônio João de Carvalho Júnior, bem como jornalista, médico e até mesmo membros do Poder Judiciário.

Na representação, o advogado denunciava um “escritório do crime”.

No dia 1º de julho, Renato Nery tornou a representação pública. Quatro dias depois ele foi assassinado.

Executor e intermediário

As investigações da Polícia Civil identificaram ainda o autor dos disparos, Alex Roberto de Queiroz Silva, bem como outras peças chaves para a resolução do caso.

Alex é um montador de móveis planejados, natural do município de Barão de Melgaço. Antes de atirar no advogado, ele se preparou. Acompanhou a rotina da vítima e fez treinamentos de tiros com a pistola usada no assassinato, uma Glock modelo G17, calibre 9 milímetros, equipada com seletor de tiro para permitir o uso nas funções semiautomática e automática e adaptada para tiros em rajada. Ele foi contratado pelo policial militar da Rotam, Heron Teixeira Pena Vieira, por R$ 40 mil.

Heron é outro nome revelado pelas investigações. Ele atuou como intermediário entre os mandantes do assassinato e o executor Alex. Foi ele quem providenciou a arma do crime por meio de contatos da Rotam.

Foi ele também quem contratou Alex, pois ambos possuíam uma relação de amizade íntima e convivência regular. Heron, por sua vez, foi contratado mediante a promessa de R$200 mil, dos quais seriam retirados os R$ 40 mil do executor.

Três meses antes do crime, Heron arrendou uma chácara no bairro Capão Grande, em Várzea Grande, que, antes do assassinato, foi usada para os treinamentos de tiros e para os encontros entre Heron e Alex. Posteriormente, o local foi usado como esconderijo.

Heron e Alex foram denunciados pelo Ministério Público de Mato Grosso (MPMT) e respondem na Justiça por homicídio qualificado com as agravantes de promessa de recompensa, perigo comum, dificuldade de defesa da vítima e idade avançada da vítima, além de fraude processual por tentativas de ocultar provas e dificultar as investigações e organização criminosa. O PM também foi acusado de abuso de autoridade, por uso indevido do poder.

Os dois confessaram os crimes e estão presos.

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Outros intermediários

Outros dois policiais militares foram identificados pela polícia como intermediários do assassinato de Renato Nery. São eles: o policial da inteligência da Rotam, Ícaro Nathan Santos Ferreira, e o cabo Jackson Pereira Barbosa.

Eles também foram denunciados pelo MP e são réus por homicídio qualificado, fraude processual, abuso de autoridade e organização criminosa.

De acordo com a denúncia, Ícaro e Jackson “participaram do meticuloso planejamento e execução do homicídio qualificado do advogado”.

Enquanto Jackson teria coordenado o crime e realizado os pagamentos, Ícaro forneceu a arma usada, bem como facilitou a transferência da recompensa do crime.

Os dois PMs também estão presos.

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Mandantes

O casal de empresários Julinere Goulart Bentos e César Jorge Sechi, de Primavera do Leste, foram apontados como os mandantes do assassinato de Renato Nery. Eles são herdeiros de uma parte da terra em Novo São Joaquim, fruto da disputa judicial.

Ao serem identificados e presos pela Polícia Civil, ambos ficaram em silêncio durante os primeiros depoimentos.

Entretanto, em segundo momento, Julinere fez declarações espontâneas, dizendo que deu ordem para o PM Jackson Pereira matar o advogado por ele ter "tomado as suas terras". Ela disse também que chegou a desistir da ideia, mas César Sechi insistiu que teria que assassinar Renato Nery.

O casal permanece detido.

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Falso confronto

Outros quatro policiais militares da Rotam também se conectam ao assassinato de Renato Nery. Jorge Rodrigo Martins, Wailson Alessandro Medeiros Ramos, Wekcerlley Benevides de Oliveira e Leandro Cardoso foram acusados de forjar um confronto para dar fim na arma utilizada para matar o advogado.

O suposto confronto aconteceu uma semana após a morte de Renato, no dia 12 de julho do ano passado, por volta da 1h, no Contorno Leste, próximo à região do bairro Pedra 90, em Cuiabá.

Na ação, eles teriam matado um jovem de 26 anos e ferido dois adolescentes de 16.

Após o falso confronto, a arma, supostamente encontrada no local, foi entregue em mãos por Jorge. Depois, a perícia constatou que não houve troca de tiros naquela madrugada e que a arma era a mesma usada para assassinar Renato Nery e outra vítima em 2022.

Diante dos crimes cometidos pelos policiais, o MP denunciou Jorge Rodrigo, Wailson Alessandro, Wekcerlley e Leandro por organização criminosa, abuso de autoridade, porte ilegal de arma de fogo de uso restrito e falsidade ideológica.

Durante as investigações sobre a morte do advogado, eles chegaram a ser presos, mas foram soltos após determinação da Justiça. Posteriormente, foram submetidos à medidas cautelares como obrigação de comparecimento periódico em Juízo; proibição de manter contato com pessoas relacionadas com o processo, vítimas e testemunhas, por qualquer meio, seja diretamente, por mensagem, ligação ou mídia social; proibição de sair da cidade; recolhimento domiciliar noturno das 20 horas às 6 horas; além da suspensão do exercício de função pública; monitoramento eletrônico e suspensão do porte de armas de fogo.

Os PMs Jorge Rodrigo e Leandro Cardoso figuram como réus na Operação Simulacrum, que ganhou destaque nacional por se tratar de uma organização criminosa responsável pela morte de dezenas de vítima em confrontos forjados.

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Conforme informado pela Polícia Civil, as investigações continuam. 

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