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Cuiabá, 30 de Setembro de 2025
30 de Setembro de 2025

30 de Setembro de 2025, 13h:58 - A | A

OPINIÃO / JULIANA PAZETTI

Traduzir o mundo: o papel invisível dos intérpretes nas negociações globais

JULIANA PAZETTI



No dia 30 de setembro, celebra-se o Dia Internacional do Tradutor. A data costuma passar despercebida pelo grande público, mas carrega uma importância silenciosa. Tradutores e intérpretes são os profissionais que tornam possível o diálogo entre culturas, empresas e governos. São eles que, nos bastidores, sustentam acordos, evitam ruídos e constroem pontes.

Aliás, a escolha da data não é aleatória: ela homenageia São Jerônimo, o primeiro a traduzir a Bíblia para o latim vulgar, considerado o padroeiro dos tradutores. Um símbolo de que traduzir é, desde sempre, um ato de mediação entre mundos e, também de tornar o conhecimento acessível a todos.

Em tempos de automação parcial e inteligência artificial, mesmo com muitos dizendo que esta seja uma profissão que não existirá mais, a profissão passa por mais uma transformação. Porque desde os tempos de São Jerônimo, traduzir não é apenas converter palavras, é interpretar contextos, entender silêncios e adaptar sentidos. É transmitir aquilo que é dito e, também, aquilo que muitas vezes está subentendido, seja numa fala, numa conversa ou num texto, algo que até agora, uma habilidade humana que dificilmente uma máquina será capaz de fazer.

E o que a maioria das pessoas não sabe, ou não se dá conta, é que existem diferentes modalidades de tradução e interpretação, as quais exigem diferentes técnicas, conhecimentos e habilidades dos profissionais dessa área.

· Interpretação simultânea: aquela que acontece em tempo real, como nas conferências internacionais. O intérprete ouve e fala ao mesmo tempo, sem pausas. É essa modalidade que mais veremos na COP 30, onde cada palavra dita precisa ser compreendida imediatamente por dezenas de delegações e que, consequentemente chegará aos jornalistas que depois compartilharão as notícias para o grande público.

· Consecutiva: o intérprete espera o orador concluir uma frase ou ideia para então traduzir. É comum em entrevistas, reuniões bilaterais e eventos menores. Aqui, o intérprete não atua de forma simultânea, aguarda até que haja uma pausa para que possa então traduzir o que foi dito e depois pausa para uma nova etapa.

· Sussurrada: feita para uma ou duas pessoas, em ambientes onde não há estrutura para interpretação simultânea. O intérprete fala baixo, quase ao pé do ouvido. Esse é o formato que mais vemos em reuniões entre presidentes de diferentes países, quando as câmeras se afastam e vemos alguém sentado próximo a eles, mas de forma a não sair na foto.

· Acompanhamento: usada em visitas técnicas, feiras internacionais, missões comerciais. O intérprete acompanha o cliente e traduz conforme a interação acontece.

· Tradução e versão: aqui, não há fala. São documentos, contratos, relatórios, apresentações, materiais de marketing, rótulos, embalagens, manuais, treinamentos. São tantos os materiais traduzidos ou versados com os quais nos deparamos ao longo de um único dia que acabamos não nos dando conta de sua relevância e importância.

· Dublagem e legendagem: são traduções voltadas para o mercado audiovisual. A tradução para legendagem exige síntese e ritmo, precisa de cuidados com o tempo de leitura, coloquialidade, intenção; a dublagem, além dos cuidados que a legendagem traz, ainda adapta a intenção de tom e o tempo de fala.

Cada modalidade exige formação, experiência e sensibilidade. E todas têm um ponto em comum: são invisíveis. Quando bem-feitas, ninguém percebe. Quando malfeitas, tudo desanda.

COP 30: quando a comunicação define o sucesso

A COP 30, que será realizada em Belém, coloca o Brasil no centro das negociações climáticas globais. E coloca os intérpretes no centro da comunicação intercultural. Sem eles, não há entendimento. Sem entendimento, não há acordo.

A presença de intérpretes capacitados será determinante para o sucesso das negociações. Porque não basta falar outro idioma. É preciso trabalhar em equipe, entender que quando uma autoridade fala em seu idioma, muitas vezes ele será traduzido para primeiro para o inglês para que, a partir deste idioma ele seja traduzido para cada um dos idiomas locais das demais autoridades. Há muito sincronismo, organização e trabalho em conjunto de diversas equipes de tradução de todo o mundo para que tudo possa ser compreendido, não apenas o que está sendo dito, mas também o “não dito”. É preciso traduzir intenções, não apenas palavras.

O futuro da profissão

A automação trouxe velocidade, mas não trouxe contexto. Ferramentas de tradução automática ajudam, mas não substituem. O tradutor humano continua sendo o elo entre o que se quer dizer e o que realmente se diz.

Neste 30 de setembro, mais do que celebrar a profissão, é hora de reconhecer seu papel estratégico. Tradutores e intérpretes não são apenas técnicos de linguagem.

São mediadores culturais. São facilitadores de negócios. São, muitas vezes, os responsáveis por transformar uma conversa em um acordo.

Porque no fim das contas, o mundo não se conecta por cabos. Se conecta por palavras. E por quem sabe usá-las com precisão e respeito.

 

 

*Juliana Pazetti é diretora executiva na Pazetti Traduções, empresa que conecta empresas e pessoas por meio da tradução, da interpretação e da acessibilidade. É especialista em Comunicação Multilíngue e atua há mais de 18 anos em tradução, localização, tradução audiovisual e coordenação de projetos de interpretação. Residiu na Inglaterra e Itália. É formada em Administração de Empresas e pós-graduada em Tradução. https://pazetti.com.br/

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