SHEILA KLENER
Neste mês estive na comunidade tradicional de São Benedito, na zona rural de Poconé, participando da linda e emocionante Festa de São Benedito.
A celebração, que dura vários dias, é mais do que uma festa — é um testemunho de fé, cultura e resiliência de um povo que guarda com orgulho suas tradições católicas e familiares. Vários são os momentos simbólicos como a missa, a chegada da cavalgada, o almoço comunitário, o levantamento do mastro, os cururueiros e tudo preparado com muito respeito às tradições.
Para mim foi e é uma experiência que toca profundamente. A gente sente a fé nos gestos, nas orações, na alegria de quem prepara cada detalhe com tanto carinho. Durante a visita, conheci a antiga casa de adobe da comunidade, que foi morada de um dos líderes daquele povo. Um lugar simples, mas carregado de história. Há mais de 80 anos de pé, essa construção já foi berço de muitas vidas.
Ali nasceram gerações de famílias. As paredes de barro guardam o tempo, as memórias e os afetos de um povo que segue firme. É um patrimônio vivo da memória e da história dessa comunidade. Outro momento que me tocou foi ao visitar a antiga escola rural, hoje desativada. Ver aquele prédio silencioso, onde tantas crianças já aprenderam a ler e sonhar, reforçou em mim a certeza de que é fundamental dar atenção à educação nas comunidades.
As crianças precisam crescer com dignidade, conhecimento e fé — e é dentro do seu próprio território que esse caminho começa. Conversando com os moradores, ouvi sobre os desafios com o acesso à água para irrigação da roça. Existe apenas um poço na região que abastece a comunidade inteira, e já não está conseguindo cumprir seu objetivo. Sempre me preocupei com a segurança hídrica em Mato Grosso, e posso garantir: essa luta inclui as comunidades rurais e tradicionais.
Água é vida. Água é direito. Também conheci de perto o trabalho da Associação da Farinha São Benedito — e provei, claro, a farinha artesanal produzida ali. Um verdadeiro patrimônio gastronômico! E não poderia deixar de citar as mulheres da comunidade, que estão desenvolvendo um projeto belíssimo de hortas comunitárias, que pretende fornecer alimentos para escolas e feiras da região e da capital.
Começando com passos pequenos, mas com incentivo e valorização, essa comunidade tem tudo para crescer. Vai ter produção, vai ter renda — e, principalmente, a juventude vai poder permanecer aqui, com dignidade e oportunidade. A visita terminou com uma roda de conversa na igreja da comunidade, ao lado dos festeiros. A eles e a todos que me acolheram com tanto afeto, deixo aqui meu profundo agradecimento.
Levo comigo a fé, os sorrisos, os pedidos e os compromissos. E reforço: estarei ao lado dessa comunidade para transformar cada palavra em ação.
Sheila Klener é servidora pública e geóloga