MISAEL GALVÃO
Já era fim do expediente de domingo, estava no Shopping Popular e fui para casa às 17h, com sentimento de dever cumprido e se preparando para uma próxima semana decisiva, de ampliação do estacionamento para suprir nossa demanda. Fui dormir cedo, mas na madrugada do dia 15 de julho de 2024, o telefone tocou e quando atendi, ouvi. “Presidente, o shopping está pegando fogo.” E tinha mais de 100 mensagens de aviso. Corri até a janela e vi as chamas subindo contra o céu de Cuiabá. Naquele momento, senti algo que não dá pra descrever. Um aperto no peito, uma sensação horrível e inacreditável. Mesmo vendo não quis acreditar.
Fui às pressas até o shopping, e quando cheguei o cenário estava desolador. As chamas já consumiram tudo, estava interditado ao entorno pelos bombeiros. Chorei. Não consegui segurar, incrédulo. Vi o patrimônio dos camelôs, pais de família de anos de esforço e trabalho, virarem cinzas. E cada banca que queimava levava junto uma história, um sustento, um pedaço de história. Mais de 600 associados perderam tudo.
Felizmente, apesar da tragédia, não houve vítimas. E isso, em meio ao caos, foi um alento. Mas sabíamos que dali em diante o desafio seria imenso. Mudou a vida de muita gente!
Nos dias seguintes, nos reunimos com os associados, ainda em choque, mas com a certeza de que precisaríamos de apoio para seguir em frente. Tivemos encontros importantes com representantes do poder público: municipal, estadual e federal. Foram momentos de muita escuta, cobrança, planejamento e união. O sentimento coletivo era um só: o Shopping Popular não podia acabar ali.
Meses depois, com muito esforço, conseguimos montar uma estrutura provisória no antigo estacionamento. É uma estrutura grande, improvisada, sem o conforto de antes — mas é digna. E mais do que isso: um respiro de esperança e recomeço. Cada trabalhador que voltou a montar sua banca ali carregava, junto com as mercadorias, a coragem de recomeçar do zero.
Hoje, um ano depois, a cena é diferente. O novo Shopping Popular já tem 85% da estrutura pré-moldada concluída. A “parte cinza”, como muitos chamam, é mais que concreto. Ela representa cada passo dessa reconstrução coletiva, cada gesto de solidariedade, cada noite mal dormida que transformamos em força.
O incêndio nos marcou profundamente. Mas se tem algo que ele nunca conseguiu destruir foi nossa fé, coragem, determinação, esperança e muito temor a Deus. O Shopping Popular sempre foi mais do que um centro de comércio. É um espaço de vida, de cultura popular, de sonhos que se renovam todos os dias, nas mãos de gente que acorda cedo e luta com dignidade.
E mais do que tudo: essa reconstrução está sendo movida pela força dos próprios camelôs. Além do fogo, esta classe que já perdeu com alagamentos de grandes chuvas, que sofreu na transferência do centro para este local sem nenhuma infra-estruturar, esta é nossa história que sempre foi construída com dificuldades, mas com muito trabalho. A família popular é sempre de luta, história de resistência que se transforma a cada dia em um novo capítulo de esperança e ressurgimento das cinzas.
Quando as novas portas se abrirem, não estamos apenas entregando uma obra. Estaremos honrando um legado. Porque mesmo quando o fogo levou tudo, nós continuamos aqui — juntos, fortes e determinados.
Das cinzas, nasceu uma nova história. E o que estamos construindo agora é mais do que estrutura: é o reflexo de um povo que nunca se curvou. Um povo que segue lutando. E que vai vencer e o povo cuiabano terá de volta o seu patrimônio. Shopping Popular que todo mundo gosta!
Vamos ressurgir das cinzas! Já construímos uma vez e vamos construir tudo novamente. Deus é muito generoso com a família popular.
Misael Galvão, camelô e presidente do Shopping Popular.