BRUNA GHETTI
Sou ginecologista há muitos anos e, ao longo da minha trajetória, ouvi inúmeras mulheres dizerem que sentir dor na relação era normal depois dos 40. Algumas acreditavam que fazia parte da menopausa, outras pensavam que era um preço a se pagar com a idade. Muitas, infelizmente, apenas se calaram. Mas a verdade precisa ser dita com todas as letras: dor durante o sexo não é normal. Nunca foi. E, sim, tem tratamento.
A mulher que chega aos 40, em muitos casos, está no auge da sua maturidade emocional. Tem mais clareza do que quer, mais autonomia, mais espaço para se reconectar com seus desejos. Mas é também quando muitas começam a perceber mudanças no corpo e, junto com elas, o desconforto na vida sexual. Ardência, ressecamento, dor à penetração e sensação de que algo mudou. E mudou mesmo. Só que isso não precisa ser definitivo.
Com a queda dos hormônios, natural do climatério e da menopausa, a mucosa vaginal pode se tornar mais fina, menos elástica, e a lubrificação diminui. Isso por si só já pode causar dor. Mas há outros fatores que também precisam ser investigados: infecções, alterações musculares, uso de certos medicamentos, endometriose e até questões emocionais. O corpo fala, mas muitas vezes a mulher não se sente ouvida.
É comum que o desconforto leve ao afastamento do parceiro ou parceira, à perda da libido e até a sentimentos de culpa e tristeza. A sexualidade, que deveria ser fonte de prazer, vira um território de medo e silêncio. Por isso é tão importante procurar ajuda. Porque viver com dor não é uma sentença. E o prazer, a conexão, o bem-estar íntimo não têm prazo de validade.
Hoje a medicina oferece diversas abordagens, muitas delas simples e minimamente invasivas. Temos desde reposição hormonal feita com critério até tratamentos como laser íntimo, radiofrequência e bioestimuladores. Há também fisioterapia pélvica e acompanhamento psicológico, que são aliados poderosos nesse processo de recuperação da saúde e da autoestima.
O mais difícil, muitas vezes, é dar o primeiro passo. Falar sobre isso ainda é um desafio para muitas mulheres, principalmente porque fomos ensinadas a não olhar para a nossa intimidade com naturalidade. Mas acredite: cuidar da saúde íntima é um ato de amor-próprio. Nenhuma mulher precisa conviver com dor. E quando ela se permite buscar ajuda, o que encontra não é só alívio físico. É reconexão com o próprio corpo, com o prazer e com a vida.
Dra. Bruna Ghetti é médica ginecologista, referência em saúde íntima e longevidade feminina.