ANA ADÉLIA JÁCOMO
O presidente regional do PSB e deputado federal, Valtenir Pereira, expôs nesta segunda-feira (23) uma forte crise interna da legenda. Sem papas na língua, o socialista afirmou ter recebido um recado anônimo garantindo que a cúpula municipal pretende naufragar sua candidatura à reeleição, bem como destituí-lo do comando da sigla.
O “aviso” teria partido do grupo formado pelo prefeito de Cuiabá e presidente municipal do PSB Mauro Mendes, pelo ex-senador Antero Paes de Barros e pela deputada estadual Luciane Bezerra.
“Em 2011 conversei com o presidente nacional Eduardo Campos e combinamos que eu conduziria as eleições em Cuiabá para ajudar o Mauro. Ajudei, fui às feiras pedir voto e saímos vencedores. Agora, preciso de estabilidade. Me deram o recado de que iriam trabalhar para eu não me reeleger”, reclamou Valtenir. Eduardo Campos é candidato à presidência da República.
A situação ficou mais crítica após o deputado receber a informação de que o grupo socialista teria ido a Pernambuco para apresentar a Eduardo Campos uma lista com nome dos pré-candidatos sem consultar a Executiva Estadual. A atitude foi o estopim da crise e Valtenir chegou a se classificar como “bobo da corte”.
“Não pode meia dúzia sair daqui e ir na Nacional dizer que vai trazer uma lista de pré-candidatos. Não é assim, tem que estabelecer a ordem estatutário do PSB em Mato Grosso. A Nacional não cuida de eleições estaduais, mas da eleição do Eduardo. Daqui a pouco vai ter conflito, dois candidatos para um posto só. Quer dizer, eu estou parecendo um ‘bobo da corte’ nesse jogo”, reclamou ele.
Valtenir relembrou com mágoas a filiação de Antero. “Saíram daqui e foram filiar o Antero lá em Pernambuco, conversaram com o Eduardo Campos, fizeram a comemoração aqui e fiquei sabendo de tudo pela imprensa. A Executiva Nacional diz que sou o presidente, para eu ficar tranquilo que tenho moral com eles, mas as coisas não acontecem”.
MUDANÇA DE SIGLA
Aparentemente enfraquecido após enfrentar várias crises no PSB, Valtenir admitiu que pensa em deixar o grupo. Ele disse que já recebeu convite do PROS (Partido Republicano da Ordem Social), PTB, PCdoB e PV. O mais próximo das negociações seria o PROS.
“Recebi o convite do presidente nacional do PROS, o Eurípedes Júnior, mas a Nacional precisa reestabelecer a ordem. Está havendo uma inversão, todo mundo querendo fazer o papel de presidente do PSB. Isso não pode acontecer”, disse Valtenir.
O deputado chegou a comparar seu grupo político com o PMDB, do cacique Carlos Bezerra. Segundo Valtenir, os assuntos partidários da sigla são debatidas primeiramente na esfera estadual. “Não pode ter um PSB paralelo. Precisamos colocar o ‘pingo no i’. Os outros vão continuar indo na Nacional futricando e enchendo o saco?”.
A CRISE
O clima entre Mauro Mendes e Valtenir é de racha há muito tempo. Mesmo com a afirmação do deputado, de que ajudou a eleger o prefeito, durante a campanha a esposa de Mauro, Virgínia Mendes, chamou Valtenir de mau caráter, acusando-o de trabalhar nos bastidores pela candidatura à presidência da Câmara de João Emanuel (PSD), do bloco de oposição.
Em 2012, a disputa pelo comando da Associação Mato-grossense dos Municípios (AMM) também foi motivo de tensão entre Valtenir e Mendes. Enquanto o deputado fechou acordo para que o PSB apoiasse a candidatura do prefeito de Juscimeira, Valdecir Colle, o “Chiquinho do Posto” (PSD), Mendes declarou apoio ao prefeito de Lucas do Rio Verde, Otaviano Pivetta (PDT).
Ao anunciar seu projeto de candidatar-se e pedir o apoio do grupo, no começo de dezembro, o pedetista ouviu de Valtenir que o PSB já estava apoiando o candidato do PSD. Na ocasião, houve uma discussão acalorada e Valtenir deixou a reunião afirmando que sempre tinha sido excluído do movimento.
Mendes, por sua vez, preferiu apoiar Pivetta, que foi o candidato a vice-governador em sua chapa em 2010, quando perderam para Silval Barbosa (PMDB). A relação entre Mauro Mendes e Valtenir também sofreu fortes estremecimentos ao longo do ano passado. Em entrevistas, Mendes abriu fogo contra Valtenir, acusando-o de ser centralizador e querer mandar no partido sozinho.
