“Vamos construir uma Câmara cidadã, não de escândalos”, diz João Emanuel

ANA ADÉLIA JÁCOMO

O vereador João Emanuel (PSD) foi o campeão de votos (5.824) nesta eleição. Ele será um dos mais jovens parlamentares na Câmara de Cuiabá, a partir de janeiro de 2013. Genro do deputado estadual e presidente da Assembleia Legislativa, José Riva (PSD), ele avalia sua campanha e comenta as estratégias para alcançar a marca. Ele analisa ainda o cenário político da Casa e comenta a iniciativa de lançar uma nova maneira de fazer política, realizando sessões itinerantes pela Capital.

Ao RepórterMT, João Emanuel se defende, de antemão, dos possíveis ataques que poderá sofrer na Câmara, já que foi investigado no início deste ano por uma suposta participação na reforma do Palácio Paschoal Moreira Cabral, superfaturada em R$ 1,1 milhão. Ele afirma que a Câmara, presidida à época por Deucimar Silva, é quem precisa prestar contas pelo desvio. Esta semana o Ministério Público pediu a indisponibilidade dos bens do ex-presidente da Casa.

Confira abaixo os principais trechos da entrevista com o vereador:

RepórterMT – O senhor foi o vereador mais votado deste pleito. Como foi construída essa campanha?

João Emanuel - Essa eleição foi construída mesmo. Tivemos um trabalho da militância, da família, da minha esposa Janaína, que me ajudou muito. Montamos a campanha seguindo as orientações do presidente da Assembleia José Riva. Dividimos Cuiabá em 18 polos. Por exemplo, em todos os setores tínhamos amigos que trabalhavam conosco e cada um conseguiu trazer pelo menos mais um para o projeto. Então, fazíamos as visitas e reuniões com cerca de 150 pessoas por encontro. Fizemos essa estratégia e por meio desse trabalho, e em união com a minha família, alcançamos o objetivo. Além disso, enquanto fui secretário de Habitação conseguimos entregar quase 13 mil casas. Eu estou construindo minha candidatura há algum tempo, já fui candidato em 2008 e fiquei na suplência. Desta vez eu vim com mais foco e trabalhei incansavelmente todos os dias.

RepórterMT - O senhor foi eleito com grande aceitação popular, mas como fazer para manter essa aprovação durante os próximos quatro anos de mandato, visto que seu colega de partido, o vereador Éverton Pop foi eleito em 2008 com muitos votos, mas, no entanto, neste pleito não conseguiu se reeleger?

João Emanuel – Independente de qualquer comparação, quero parabenizar todos os meus colegas de partido que trabalharam nessa campanha, porque se não fosse o trabalho deles eu não teria conseguido alcançar a legenda e nem seria eleito. Acredito que, a exemplo de grandes lideranças políticas que conseguem se firmar como construtor de ideias, tudo ocorre por conta do trabalho constante, da aproximação da Câmara com o eleitor. A forma é o instrumento de democracia ativa, a participação. O eleitor, além de ser agente de colocação de um representante na Câmara, passa a ser um agente de ideias porque as pessoas precisam sempre ser ouvidas. A campanha boa é aquela em que você consegue construir amizades, visitar sempre, defender ideias para Cuiabá.

RepórterMT – O senhor acredita que aqueles que não mantêm essa ligação com a população podem não ser reeleitos? Além disso, tem consciência da responsabilidade de ser o vereador eleito com maior número de votos desta eleição?

João Emanuel – Eu só tenho uma grande responsabilidade. Não errar. A população acreditou no meu trabalho e hoje tenho o direito e o dever de dar atenção à população. A Saúde tem problemas há muito tempo, mas a partir do momento que começamos a trabalhar para ajudar, o sistema a funcionar melhor, a população reconhece seu esforço. A partir do momento que você também não se distancia do eleitor, a fidelidade acontece e a probabilidade de você ganhar novamente o voto para o mesmo cargo passa a ser maior. Acredito que é motivo de honra para o eleitor reconduzir um vereador atuante para o cargo.

RepórterMT – A recente CPI da reforma da Câmara pode ser motivo de desgaste em seu mandato, já que houve um superfaturamento de R$ 1,1 milhão na época. O senhor era secretário de Habitação e teria cedido o engenheiro civil para atuar na obra. Foi convocado para depor, mas as investigações não levaram a uma explicação sobre o destino do montante.  Como avalia esse episódio e qual foi a sua participação na reforma do prédio?

João Emanuel – A reforma foi feita a partir de uma licitação na Câmara, que possui diretor, secretaria e membros que compõem essa licitação. O Tribunal de Contas do Estado disse que por conta disso a própria Câmara é quem precisa responder pelos atos subsequentes a essa reforma e não a Secretaria de Habitação. O TCE fez uma análise profunda e, por unanimidade, os conselheiros entenderam que a responsabilidade não era da secretaria. A única participação que tive foi referente a um termo de cooperação técnica, onde cedemos o engenheiro. Inclusive, esse profissional atuou sempre acompanhado de mais dois funcionários da Câmara.

RepórterMT – O engenheiro Carlos Anselmo de Almeida disse que não assinou as planilhas de preços e que nem leu os projetos, assinando todos os laudos sem ler. O senhor tem conhecimento sobre ele, se ainda atua na Secretaria de Habitação?

João Emanuel – Sinceramente eu não tenho informação sobre quais medidas foram tomadas em relação a ele, até porque tudo foi julgado pelo Tribunal de Contas. A partir do momento em que houve a desvinculação do meu nome nesse processo, eu fui para a campanha e fiquei focado nesse trabalho.

RepórterMT – O que o senhor tem mente para esse trabalho como vereador?

João Emanuel – Acredito que a comunidade pode participar. Para isso, podemos fazer com que as Câmaras Temáticas tenham mais atuação nos bairros. Por exemplo, a temática de Saúde. Podemos fazer sessões, reuniões e eventos em determinados bairros. Com isso, poderemos ouvir os pontos que são motivos de reivindicações. Esse trabalho faz com que a população fique satisfeita e nós, como vereadores, poderemos identificar com mais facilidade as necessidades de cada local. A aproximação da Câmara com o eleitor é o primeiro passo.

RepórterMT – O senhor vai começar um mandato onde a expectativa da sociedade é grande por conta da quantidade de parlamentares que nunca exerceram mandato terem sido eleitos. Contudo, a Câmara é vista com grande desgaste da imagem pública, já que vários escândalos consecutivos tiraram parte da credibilidade do parlamento. Como o senhor pretende agir para reduzir essa deterioração da função de vereador?

João Emanuel – O primeiro passo é me aproximar ainda mais da comunidade, porque a partir do momento em que conhecem os trabalhos, a imagem da Câmara passa a ser valorizada. Fomos eleitos para o povo e por isso é importante que haja sessões itinerantes, para trazer ao debate a questão do lixo, saúde, educação, pavimentação, tudo isso precisa passar pela própria comunidade. Precisamos construir o conceito de uma Câmara cidadã e não de escândalos.

RepórterMT – O fato de ser o genro do deputado José Riva ajudou seu projeto político, ou trouxe mais dificuldades e cobranças? Sente que há um estigma por pensarem que recebe mais privilégios por conta disso?

João Emanuel – O deputado José Riva, para mim, é um dos políticos que mais trabalham no Estado. Ele acorda 5h e começa atender na Assembleia. Assim vai até meia noite. Todos sabem que ele atende e retorna a todos os telefonemas e isso precisa ser tomado como exemplo por todos os políticos, já que estamos a serviço da comunidade. Além disso, ele me ajudou muito com ideias e orientações sobre como fazer uma campanha. Ele tem cinco mandatos como deputado estadual e é um grande exemplo para mim. Independente de período político ou não, ele nunca abandona as bases. É um referencial. É claro que a responsabilidade, a cobrança sobre mim, será muito maior. Mas eu assumo a responsabilidade disso. É até bom porque serei obrigado a trabalhar mais que os outros pela nossa cidade.