VANESSA MORENO
DO REPORTÉR MT
A empresária Julinere Goulart Bentos, apontada como mandante do assassinato do advogado Renato Nery, fazia ameaças públicas à vítima, chegando a dizer que “ele não ia viver para gastar o que tomou dela”, conforme consta na denúncia do Ministério Público de Mato Grosso (MPMT).
Ela e o marido, Cesar Jorge Sechi, estão presos desde o início de maio e foram denunciados na última sexta-feira (18) por homicídio triplamente qualificado por motivo torpe, que resultou em perigo comum e com recurso que dificultou a defesa da vítima, além de organização criminosa.
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De acordo com o MP, as investigações da Polícia Civil de Mato Grosso evidenciaram elementos robustos do envolvimento de Julinere e Cesar no assassinato de Renato Nery, em julho de 2024, em Cuiabá. Ela teria exercido o papel de mentora intelectual do crime, juntamente com o marido, pois ambos tinham um profundo ressentimento decorrente de uma derrota judicial envolvendo uma propriedade no município de Novo São Joaquim.
“Após décadas de litígio, a vítima Renato Gomes Nery obteve êxito na ação judicial relacionada à área em litígio com os denunciados, circunstância que gerou manifesto inconformismo por parte de Julinere Goulart Bentos e Cesar Jorge Sechi”, destacou o Ministério Público.
De acordo com o relato do jornalista Cláudio Natal, que chegou a ser preso durante investigações do assassinato do advogado, Julinere exteriorizava publicamente sua indignação contra Renato Nery.
“Consoante o relato da testemunha Cláudio Roberto Natal Júnior, durante o transcurso das disputas judiciais, a denunciada Julinere asseverava que "ele não ia viver para gastar o que tomou dela. Posteriormente ao óbito da vítima, a referida testemunha declarou compreender que a ameaça havia se concretizado", diz trecho da denúncia.
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Julinere, tomada por inconformismo após perder a ação judicial, teria articulado contatos para viabilizar o crime. O MP chegou a destacar que, durante as investigações, a mandante confessou, de modo informal ao delegado responsável pelo caso, Bruno Abreu, que mandou matar o advogado.
Quanto a Jorge Sechi, ele também foi apontado pelo MP como mentor intelectual do assassinato e, de acordo com a denúncia, foi ele quem viabilizou o dinheiro usado para encomendar o crime.
Julinere e Jorge contrataram os executores de Renato Nery por R$200 mil. O policial militar Jackson Pereira Barbosa, que também está preso e também foi denunciado pelo MP, foi o intermediário.
Ainda de acordo com o MP, o envolvimento de Cesar Sechi ficou ainda mais evidenciado com provas de que, em outubro do ano passado, três meses após o assassinato, Jackson teria escrito um bilhete de próprio punho cobrando o pagamento pelo crime, a ser repassado para o policial militar Heron Teixeira, que é réu por também atuar como intermediário do crime, e para o executor Alex Roberto.
“O conteúdo do bilhete constitui prova irrefutável do contato entre os envolvidos após a consumação do delito e corrobora a autoria atribuível ao denunciado Cesar Jorge Sechi, mormente no que concerne à articulação financeira e à contratação do réu Jackson Pereira Barbosa como intermediário no assassinato da vítima Renato Gomes Nery”, narra o MP.
A denúncia foi assinada pelos promotores de Justiça Élide Manzini de Campos, Rinaldo Segundo e Vinicius Gahyva.
Articulação com os envolvidos no assassinato
Julinete Goulart e Cesar Jorge estabeleceram contato com o PM Jackson Pereira, que mantinha amizade com outros PMs e contratou Heron e Alex para cometerem o assassinato.
Jackson teria informado para Heron que o casal de empresário eram os mandantes do crime.
Renato Nery foi assassinado com sete tiros no dia 5 de julho, às 9 horas, em frente ao escritório de advocacia dele, na avenida Fernando Correa, em Cuiabá.
Os disparos foram efetuados por Alex, que usava uma arma Glock modelo G17, calibre 9 milímetros, equipada com seletor de tiro para permitir o uso nas funções semiautomática e automática e adaptada para tiros em rajada. A arma teria sido fornecida pelo também policial militar Ícaro Nathan Santos Ferreira, que integrava o Batalhão de Ronda Ostensiva Tático Metropolitana, e entregue em mãos a Heron dentro do batalhão.
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Dias após o crime, outros quatro PMs forjaram um falso confronto para dar fim na pistola. São eles: Jorge Rodrigo Martins, Wailson Alessandro Medeiros Ramos, Wekcerlley Benevides de Oliveira e Leandro Cardoso. Todos chegaram a ser presos, mas foram soltos mediante a medidas cautelares, como uso de tornozeleira eletrônica.
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