MARCIO CAMILO
DA REDAÇÃO
O advogado Neyman Monteiro, que faz a defesa do cabo Gérson Corrêa, declarou que o Ministério Público Estadual (MPE) "não quis cortar na própria carne" ao recusar a delação de seu cliente sobre suposto envolvimento de promotores, no caso que ficou conhecido como "Grampolândia Pantaneira".
Conforme o advogado, Gerson, que é apontado como o operador das escutas clandestinas em Mato Grosso, revelou em sua delação muitas provas e caminhos para a investigação contra os promotores, principalmente os do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MPE.
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"É só querer investigar. Na opinião deste humilde advogado, ele não quis cortar na própria carne. A grande verdade é essa", disse ao se referir ao procurador de Justiça Domingos Sávio, coordenador do Núcleo de Ações de Competências Originárias (Naco) do MPE, que recusou a delação premiada do cabo Gerson, no início deste mês.
Já o promotor de acusação Vinícius Gahyva, argumenta que Gerson procurou o MPE para fazer delação nas alegações finais do processo, sendo que tinha oportunidade de fazer isso bem antes.
"É só querer investigar. Na opinião deste humilde advogado, ele não quis cortar na própria carne. A grande verdade é essa", disse ao se referir ao procurador de Justiça Domingos Sávio, coordenador do Naco.
No entendimento dele, trata-se mais de uma manobra desesperada da defesa para diminuir a pena do réu, diante de uma condenação iminente.
Também disse que o fato de o procurador Domingos Sávio não ter aceitado a delação não quer dizer que o MPE deixará de investigar os promotores.
"Se ele faltar com a verdade [Gerson], como me parecer estar sendo no caso da presente audiência, indicando pessoas, efetivamente sem lastro de provas, para confirmar aquilo que está falando, me parece que não tem cabimento, e nesse sentido me parece que o doutor Domingos Sávio age correntemente, no sentido de não aceitar aquilo [delação] para efeitos de diminuição de pena, perdão judicial, dentre outros benefícios que podem ser dados pela colaboração, o que não significa que os fatos noticiados não serão objetos de investigação por parte do Ministério Público", argumentou.
Dentre as informações que constam na delação de Gerson está a suspeita de grampos clandestinos promovidos entre os promotores do Gaeco Marco Aurélio e Samuel Frungilo contra a deputada estadual Janaina Riva (MDB). Leia AQUI
Também tentaram firmar acordo deleção com o MPE, mas sem sucesso, os coronéis Zaqueu Barbosa e Evandro Lesco.
Grampos
O caso dos grampos veio à tona em 2016 a partir de denúncia do promotor de Justiça, Mauro Zaque, que deixou a pasta de Segurança Pública do Estado após relatar o caso e documentar a denúncia ao então governador Pedro Taques (PSDB).
Segundo a denúncia, policiais militares e integrantes da cúpula do Governo do Estado mantinham escutas telefônicas sobre as linhas de políticos, empresários, juízes e jornalistas. Para conseguir autorização judicial, os números eram anexados a uma lista para interceptação de pessoas investigadas por tráfico de drogas na Comarca de Cáceres. Um esquema também conhecido como “barriga de aluguel”.
Anteriormente, o caso já foi investigado pelos delegados Ana Cristina Feldner e Flávio Stringuetta. Em maio, três novos delegados assumiram sendo: Jannira Laranjeira, da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Cuiabá; Luciana Canaverde, delegada regional de Água Boa e Rafael Mendes Scatalon, que atua como delegado regional de Pontes e Lacerda.