MANAYRA LEMES
O sucesso corporativo, por muito tempo, foi medido apenas por lucros e resultados financeiros. Hoje, em um mercado que clama por transparência e responsabilidade, o conceito de sucesso se expandiu. A performance de uma empresa agora é inseparável de sua atuação nos pilares Ambiental, Social e de Governança (ESG).
É justamente nesse contexto que a as atualizações da NR1 Norma Regulamentadora 1 (NR-1), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), com ênfase na saúde mental e no cuidado com os riscos psicossociais, surge como um convite para as empresas redefinirem a forma como cuidam de seu ativo mais valioso: as pessoas.
As atualizações da norma nos força a olhar para a cultura organizacional de forma integral, reconhecendo que a saúde mental não é um bônus, não é um “custo” a mais, ao contrário, é a base de um ambiente de trabalho saudável e sustentável. Portanto, a adequação à NR-1 é, em essência, a materialização do “S” (Social) do ESG.
Empresas que se destacam nesse pilar não só atraem e retêm talentos, elas também são vistas com bons olhos por investidores. Uma análise recente da Bloomberg revelou que empresas com boas práticas de ESG superam as demais em termos de retorno financeiro, e o mercado global de investimentos nesse setor deve atingir 53 trilhões de dólares até 2025.
No cenário atual, readequar-se é apenas o primeiro passo. A verdadeira oportunidade está em atender às novas demandas do mercado, já que empresas com altos índices de burnout e turnover são vistas como um risco, índices que afetam a sua reputação e o seu valor de mercado. Por outro lado, o investimento em bem-estar e saúde mental retorna em engajamento, inovação e performance.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a depressão e a ansiedade custam à economia global 1 trilhão de dólares por ano em perda de produtividade. Outro dado relevante: para cada 1 dólar investido em suporte à saúde mental, há um retorno de 4 dólares em melhoria da saúde e produtividade nas empresas. Empresas com funcionários altamente engajados (reflexo direto de um ambiente de trabalho saudável) apresentam 21% mais lucratividade, segundo a Gallup.
Nessa jornada, um dos pontos principais para qualquer tipo de mudança ou melhoria está nas lideranças da empresa, já que a cultura não acontece apenas a partir de políticas de RH. É necessário, principalmente, um trabalho para desenvolver um novo olhar, moldado pelos gestores que possuam inteligência emocional, pratiquem a comunicação assertiva e desenvolvam a Comunicação Não-Violenta.
Ter um “olhar para o cuidado” significa reconhecer o impacto das relações no ambiente de trabalho e agir proativamente para fortalecer a segurança psicológica da equipe. Um estudo da McKinsey & Company (2022) mostrou que a liderança que demonstra empatia pode aumentar o bem-estar dos colaboradores em até 30%, reduzindo casos de burnout e aumentando a produtividade das equipes.
A integração entre saúde mental e os princípios de ESG não é uma teoria, mas uma realidade praticada por grandes corporações. Empresas como Natura, Hypera Pharma, Magazine Luiza e Porto Seguro são pioneiras em oferecer programas de apoio psicológico e canais de assistência para seus colaboradores. O Banco do Brasil, como instituição pública, mostra a viabilidade da pauta em qualquer setor.
A jornada rumo à conformidade com a NR-1 e à integração efetiva dos princípios ESG pode parecer complexa, mas é um investimento no futuro da empresa. É um processo que exige diagnóstico, plano de ação e monitoramento contínuo. O verdadeiro sucesso corporativo reside na capacidade de construir um ambiente de trabalho onde as pessoas não apenas produzam, mas prosperem.
“O futuro não é algo que esperamos. É algo que construímos.” Essa poderosa frase de Peter Drucker, um dos mais influentes pensadores da administração moderna, é mais do que uma citação inspiradora. É um convite à ação.
No novo contexto corporativo, isso significa ir além de simplesmente “cumprir a lei”, e enfrentar os desafios de um mercado cada vez mais exigente. A verdadeira transformação não é sobre o trabalho em si, mas sobre o propósito que o move. É sobre a oportunidade de deixar um legado para as próximas gerações, um legado de cuidado, de valorização humana e de prosperidade sustentável.
Manayra Lemes Rosa, psicóloga clínica, implementadora da NR-1 em empresas e organizações