NAILTON REIS
“Homem de verdade não chora. Homem de verdade aguenta. Homem de verdade não fala de dor.” Essa cartilha atravessa gerações e continua a moldar a vida de meninos e homens adultos. O preço, no entanto, pode ser devastador.
A masculinidade hegemônica construiu uma ideia de força associada ao silêncio. Engolir o choro, esconder a angústia e seguir adiante como se nada estivesse acontecendo se transformou em regra. Esse silêncio, tratado como virtude, se torna uma prisão. Para muitos, uma prisão letal.
Dados revelam que, no Brasil e em outros países ocidentais, os homens morrem por suicídio de três a quatro vezes mais frequentemente do que as mulheres, mesmo que as mulheres tentem suicídio com maior frequência. Em 2019, por exemplo, a taxa de mortalidade masculina por suicídio no Brasil foi de 10,7 por 100 mil, contra 2,9 por 100 mil entre mulheres — um risco 3,8 vezes maior para os homens. Esse contraste se explica em parte pelos métodos adotados: os homens escolhem formas mais letais, em geral, para expressar uma dor que não souberam verbalizar.
O suicídio entre homens mostra como o fardo de “ser homem de verdade” pode ser insuportável. Não se trata apenas de números, mas de vidas interrompidas pela ausência de espaços de fala, de escuta e de cuidado.
Falar, nesse contexto, não é sinal de fraqueza. É ato de coragem. É um gesto de sobrevivência. Ao quebrar a regra da mudez imposta, o homem abre uma porta para a vida. Entre o peso de provar masculinidade e a chance de romper o silêncio, escolher falar pode significar salvar-se.
Setembro Amarelo nos lembra que cada palavra dita pode ser um fio de resgate. Entre o homem de verdade e o silêncio que sufoca, há sempre uma possibilidade de vida — e nela, a saída que pode preservar muitos.
Se você ou alguém que você conhece está em sofrimento ou pensando em suicídio, procure ajuda agora:
• CVV – 188 (ligação gratuita, 24h/7)
• cvv.org.br (chat, e-mail e atendimento online)
• Emergência: 190 (Polícia) ou 192 (SAMU)
• Violência contra a mulher: 180 (Central de Atendimento à Mulher)
Cuidar da vida é responsabilidade de todos nós.
Nailton Reis é Psicólogo Clínico com especialização em Neuropsicologia Cognitiva Comportamental, Avaliação Psicológica e Psicologia do Trânsito em Cuiabá-MT
CRP 18/7767