MARGARETH BOTELHO
A história se repete e sem a menor preocupação quanto à forma. Os personagens são praticamente os mesmos, com raríssimas alterações no tabuleiro eleitoral.
Doze anos depois de o ex-metalúrgico assumir a presidência do Brasil, parece que a corrida pela sucessão de Dilma Rousseff (PT) engasga em promessas, propostas e falácias. Não há novidades.
Candidatos com melhor desempenho reapareceram de cara lavada, mas incapazes de apresentar diagnóstico e tratamento para o grande mal do país: o modelo econômico.
Atitudes tragicômicas emprestam o tom aos piores lances protagonizados pelos eternos rivais Dilma Rousseff e Aécio Neves (PSDB).
A petista cometeu a gafe de antecipar que o ministro Guido Mantega não irá acompanhá-la num virtual segundo mandato. Ora se Mantega não corresponde aos seus ideais, porque esperar nova eleição para a troca?
Aécio, por sua vez, foi além. Campeão de ‘bolas fora‘, o tucano decidiu antecipar a nomeação em seu eventual governo de Armínio Fraga.
Alguém neste país consegue esquecer esta figura? O homem do arrocho. Aquele que, à frente do Banco Central, elevou a taxa de juros de 25% para 45%.
Quem imaginava uma Marina Silva (PSB), que pegou carona na campanha a partir da trágica morte de Eduardo Campos, diferente pelo menos em relação ao futuro da economia nacional, quebrou igualmente a cara. Com discurso e retórica excelente, a candidata dispara críticas sobre recessão, desemprego etc.
Mas apregoa austeridade fiscal com bastante ênfase. Não é necessário ser um ‘bambambam‘ em economia para saber que austeridade significa corte profundo no orçamento. E se vamos ter cortes, como a presidenciável conseguirá ampliar benefícios e fortalecer políticas sociais?
Saindo do universo econômico onde, ao que tudo indica, terá sobrevida a velha prática do neoliberalismo, caímos em pontos reincidentes nos debates. Legalização do aborto, liberação da maconha, casamento gay e direitos LGBT.
Temas de grande divergência que, colocados com viés religioso, só complicam o quadro. Num Brasil laico, que significa manter constitucionalmente posição de imparcialidade em assuntos religiosos, opiniões repetitivas se comparam a um disco arranhado.
Além de um Estado laico, vale lembrar que o ato de elaborar leis é missão do Poder Legislativo. Portanto legalizar aborto ou uniões gays cabem aos parlamentares.
Aos presidentes da República restam posturas favoráveis ou não e a garantia de veto ou sanção. Sei que essas temáticas mexem com a população e deve ser por esta razão que retornam à pauta a cada ano eleitoral. Não vejo motivo para não escancarar essas questões.
Uma mulher pode apoiar a legalização do aborto e jamais se submeter ao procedimento por princípios pessoais e religiosas.
Qual o problema? Grave é fazer vista grossa e permitir que milhares de mulheres morram todos os anos durante intervenções em clínicas clandestinas pelas mãos de aborteiros da pior qualidade. Os bons, claro, estão camuflados em clínicas de luxo.
A respeito do casamento entre pessoas do mesmo sexo, a análise não escapa de uma situação envolvendo luta de classe. Casais com maior poder aquisitivo ou profissionais com vida estruturada sofrem discriminação sim, entretanto se preparam melhor para romper obstáculos.
Passam até a ser exemplos de comportamento. Na periferia das cidades não. Dilemas com o corpo e desejo sexual ‘diferente‘ levam os LGBTs à condição de marginalidade. Marginalidade aqui traduzida como vida à margem da sociedade.
Basta ver nas novelas de TV. Gay rico é gay bem-sucedido, que tem final feliz na história. Os da ‘zona norte‘ geralmente apresentam-se como travestis, estereotipados ao máximo e aparentemente alegres e resolvidos.
Ao exemplificar assuntos que vêm sendo utilizados na última década para derrubar ou constranger candidatos, fica claro que campanha eleitoral não espelha a realidade do que vem a ser uma proposta de governo.
Tudo o que se fala em troca de votos aponta para um Brasil cinematográfico, dividido entre cenas de horror e as de um paraíso. Simples assim. Para Dilma, o país vai bem e poderá ficar melhor desde que seja com ela.
Para os adversários a nação vive penúrias que, sem eles, se multiplicarão. Com um cenário assim de egos, não duvide: estaremos sempre dando um passo à frente e dois para trás.
MARGARETH BOTELHO é jornalista em Cuiabá.
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