GIOVANA FORTUNATO
A Agência Reguladora de Medicamentos e Produtos de Saúde do Reino Unido (MHRA) emitiu um alerta sobre os medicamentos agonistas dos receptores de GLP-1(glucose-like peptídeo 1) desenvolvidos originalmente para o tratamento do diabetes tipo 2, como a semaglutida (Ozempic®, Wegovy®) e a tirzepatida (Mounjaro®), agonista também do GIP (glucose-dependent insulinotropic polypeptide) que vêm ganhando espaço como opção terapêutica para perda de peso. No entanto, o uso dessas medicações requer atenção especial quando associado a anticoncepcionais hormonais orais.
A principal preocupação é que esses medicamentos desaceleram o esvaziamento gástrico, o que pode interferir na absorção de fármacos administrados por via oral.
Estudos realizados com a semaglutida não demonstraram impacto relevante na eficácia dos contraceptivos hormonais orais. Em uma revisão com seis estudos em usuárias de contraceptivos hormonais orais e vários tipos de agonistas do GLP-1, entretanto, a tirzepatida mostrou uma redução clinicamente relevante nas concentrações séricas dos hormônios contraceptivos. Esse efeito parece ser mais importante nas primeiras quatro semanas de uso e durante o período de ajuste de dose.
Embora ainda sejam necessários mais estudos para conhecer melhor a interação entre a tirzepatida e os contraceptivos hormonais orais, a FEBRASGO recomenda:
1. Contraceptivos orais podem ser mantidos durante o uso de semaglutida, com acompanhamento médico.
2. Mulheres que utilizam tirzepatida devem ser orientadas a não usar contraceptivos hormonais orais, a trocar de método ou a associar métodos de barreira por, pelo menos, quatro semanas após o início do uso ou ajuste da dose.
3. O uso de outros métodos contraceptivos altamente eficazes deve ser oferecido a todas as usuárias de agonistas do GLP-1, com destaque para os Dispositivos Intrauterinos (DIUs – hormonal ou de cobre) ou implante contraceptivo hormonal de longa duração, visto que não é conhecido o potencial teratogênico destes medicamentos.
4. Não há evidência de segurança para o uso destes medicamentos para perda de peso durante a gestação e amamentação. A recomendação é suspender a semaglutida por no mínimo dois meses e a tirzepatida por pelo menos um mês antes de uma eventual gravidez.
Métodos contraceptivos que não dependem da absorção pelo trato gastrointestinal, como dispositivos intrauterinos (DIUs), implantes subcutâneos e preservativos, não sofrem interferência dos medicamentos para perda de peso, como semaglutida e tirzepatida.
A FEBRASGO reforça que, por serem medicamentos relativamente novos, ainda são necessários estudos mais aprofundados sobre os efeitos das medicações agonistas do GLP-1 na saúde reprodutiva. Por isso, é recomendado que mulheres que utilizam anticoncepcionais orais associem um método contraceptivo não oral, como preservativos, durante pelo menos quatro semanas após o início do tratamento com esses medicamentos, período em que os efeitos colaterais e a interferência na absorção são mais intensos.
A orientação médica individualizada é essencial para garantir a segurança das pacientes. Devido à falta de dados sobre segurança na gravidez, gestantes que estavam em uso desses medicamentos devem procurar orientação médica para possíveis alternativas.
Dra. Giovana Fortunato é ginecologista e obstetra, docente do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia do HUJM e especialista em endometriose e infertilidade no Instituto Eladium, em Cuiabá (MT).