GISELE NASCIMENTO
Em tempos tão acelerados, onde o imediatismo das redes sociais muitas vezes ocupa o lugar da escuta profunda e do aprendizado verdadeiro, participar da Bienal do Livro no Rio de Janeiro foi como respirar um ar mais puro. Um alento. Um sinal de que, apesar de tudo, ainda há esperança.
Fui como expositora. Levei comigo minha história, meu livro, minha verdade. Mas voltei de lá muito mais rica do que fui. Voltei como alguém que viu com os próprios olhos que a leitura continua viva. E não só viva: pulsante.
Caminhei pelos corredores lotados da Bienal e me emocionei ao ver famílias inteiras carregando sacolas de livros, olhos brilhando de curiosidade. Vi pais e mães de mãos dadas com os filhos, incentivando a leitura como um legado. Vi avós empurrando carrinhos de bebê, mas também empurrando sonhos e futuro. Vi adolescentes e jovens disputando espaço nos estandes, não para tirar selfies, mas para conhecer autores, escolher livros e mergulhar em novas histórias.
Vi o Brasil que dá certo. O Brasil que lê.
Num país onde tantas vezes ouvimos que a educação está esquecida, que a cultura não é valorizada, que o livro perdeu espaço para as telas, estar na Bienal foi um poderoso contraponto. Foi enxergar, de perto, que o conhecimento ainda tem apelo, ainda emociona, ainda transforma.
A leitura nos salva. Ela forma cidadãos mais críticos, mais humanos, mais preparados. Ela amplia horizontes e reconstrói identidades. Em cada livro vendido, em cada história contada, em cada criança encantada com uma capa colorida, eu vi um país possível. Um país que pensa, que sente, que cria.
E que esperança bonita é essa de ver tanta gente, de tantas idades, de tantas regiões, unidas por um mesmo desejo: o de aprender.
Como autora mato-grossense, me senti representando não apenas o meu livro, mas milhares de mulheres, mães, escritoras e sonhadoras do nosso estado. Mostrar que é possível chegar lá, ocupar aquele espaço, foi também um grito de resistência e de afirmação. Porque quando uma mulher do interior chega à Bienal, todas nós chegamos juntas.
Por isso, volto com o coração cheio e a alma renovada.
Ainda há esperança, sim. Ela está nos livros. Ela está nas feiras literárias.
Ela está nas crianças que saíram da Bienal abraçadas com seus livros como se fossem tesouros. Ela está em cada história que ainda será escrita.
E que Mato Grosso possa sonhar mais, ler mais, escrever mais. Porque cultura é raiz. Leitura é semente. E esperança é o fruto que brota quando tudo isso se junta.
Gisele Nascimento é advogada especialista em direito previdenciário e escritora.