KAENE ALMEIDA
Na minha memória, o Dia das Mães sempre teve cheiro de comida caseira, som de risadas e o calor das pessoas que mais amamos. Era uma época em que as casas se enchiam de vida: crianças correndo, os pratos preferidos de cada filho sendo preparados com todo carinho pelas nossas avós, e histórias contadas pelos tios. Lembro com ternura do cheirinho do macarrão comprido com frango caipira, dos pastéis douradinhos, da salada verde, do arroz soltinho com feijão empamonado, tudo feito com aquele tempero que só a memória sabe guardar. Os mais velhos se deliciavam com o tradicional licor de leite, enquanto as crianças não viam a hora de chegar a sobremesa, repleta de doces regionais.
Esses dias eram mágicos. Era tempo de mesa cheia, 10 lugares que não eram suficientes para todos. Era tempo de abraços apertados, de olhos brilhando de emoção. Era o verdadeiro encontro, onde o mais importante não era o presente com laço, mas a presença com alma.
Mas os tempos mudaram. E as mesas foram esvaziando.
A vida foi acelerando, os compromissos se empilhando, e aquela tradição calorosa foi se transformando em algo mais prático, quase automático. Hoje, o que deveria ser uma celebração do amor mais puro, muitas vezes se resume a uma mensagem rápida no celular, um almoço apressado no restaurante, uma visita encaixada entre os afazeres. O que era coração, virou conveniência.
Todos os anos, no segundo domingo de maio, há ainda muitos lares que se enchem de flores, sorrisos e reconhecimentos sinceros. Mas, em tantos outros, o que prevalece é a ausência. O Dia das Mães, para algumas famílias, tornou-se uma data comercial, onde a emoção é substituída por promoções e onde a lembrança viva é ofuscada por obrigações.
Aquelas conversas demoradas, os olhares cúmplices, o carinho silencioso que só mãe entende, vão ficando cada vez mais raros. Mães dizem que entendem. Dizem que estão felizes com aquela mensagem curta, com a visita rápida, com aquele almoço no shopping. E até tentam acreditar nisso. Mas a verdade é que mãe quer abraço. Mãe quer colocar seu filho no colo, independentemente da idade, fazer carinho nos cabelos, mesmo que por cinco minutos, mas que esses cinco minutos sejam só deles.
Porque para uma mãe, se falta um filho à mesa, o coração sente. Amor de mãe é assim: sente a dor sem dizer. E, mesmo assim, ama sem medida. Não quer luxo, não quer presentes caros. Quer a felicidade dos filhos, mesmo que isso custe a própria.
Neste Dia das Mães, se você tem a bênção de poder abraçar a sua, vá até ela. Sente-se à mesa com calma, saboreie aquela comida que ela preparou com tanto carinho, escute as histórias, mesmo que você já as conheça de cor. Para ela, contar é reviver. Para você, ouvir é retribuir amor.
E, se a distância não permitir o abraço, que pelo menos suas palavras carreguem verdade. Que seu gesto, mesmo pequeno, seja cheio de afeto. Porque o tempo passa, e não sabemos quantos Dias das Mães ainda teremos juntos. O que hoje parece simples, amanhã será eternamente valioso.
Crie memórias e faça com que as memórias de sua mãe sejam cheias de afeto. Porque, no coração de mãe, cada gesto simples, mas verdadeiro, se torna infinito.
*Kaene Almeida é cuiabana, gastróloga, nascida e criada no berço cultural da gastronomia cuiabana.