KAMILA GARCIA
“Haja luz!”, disse o Senhor no princípio de tudo. E assim nasceu a dualidade: o que era trevas tornou-se luz. Foram nomeados o Dia e a Noite, como se o Sol, com todo o seu calor e luminosidade, tivesse sido colocado na explosão de um pensamento divino: “Como ordenares, assim será!”
Desde então, cada pensamento humano carrega também essa mesma dualidade: luz e sombra. Tal como no mito da caverna, é preciso coragem para encarar os monstros internos que se escondem na escuridão da mente, alimentados pelas imagens distorcidas de si mesmo.
O homem não é frágil nem vazio. Apenas escolhe, muitas vezes, permanecer acorrentado às suas próprias sombras, limitado pelos pares que julga absolutos: luz e escuridão, amor e ódio, belo e feio, bondade e maldade. Julga o mundo exterior sem ousar olhar para dentro de si. “Conhece-te a ti mesmo.”
Olhar para dentro exige coragem. É levar luz ao coração humano, acostumado a carregar rancores, mágoas, vaidades, fofocas e julgamentos. É suportar os primeiros raios do sol, quando as pupilas se contraem e a alma, ainda frágil, tenta manter os olhos fechados diante da intensidade da revelação.
A escuridão, no entanto, não é um vazio absoluto, mas o oculto do que existe. Descobrir o que nela habita é condição necessária para iluminar. Seja pela luz do conhecimento, pelas revelações do espírito ou pela beleza ainda velada dentro de cada ser.
Essas revelações são individuais — não profanas, nem necessariamente sagradas, mas profundamente humanas. São escolhas oraculares, caminhos que conduzem ao autoconhecimento, ao amor e à verdadeira felicidade. Virtudes divinas que, quando despertas, iluminam a mente e permitem que até a língua humana se torne instrumento de sabedoria e luz.
*Kamila Garcia é bacharel em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, com pós-graduação em Psicanálise. Atualmente é estudante de Psicologia.