OSCAR SOARES MARTINS
Depois de compreender a gravidade dos crimes digitais que atingem a juventude, é preciso explicar de forma clara como eles acontecem, quais os riscos e o que os Pais podem fazer para proteger seus filhos. Esses crimes não estão escondidos apenas em ambientes obscuros da internet; eles acontecem diariamente em jogos, redes sociais, aplicativos de mensagens e até em plataformas educacionais, sempre com aparência de inocência.
O mecanismo é quase sempre o mesmo: aproximação e manipulação. O criminoso cria perfis falsos, utiliza fotos roubadas e se passa por adolescente. Inicia conversas aparentemente banais, ganha confiança, oferece recompensas, propõe brincadeiras e vai escalando o contato até conquistar domínio emocional da vítima. Essa prática, chamada grooming digital, é hoje um dos maiores perigos enfrentados por crianças e adolescentes. Aos poucos, os pedidos se tornam chantagens, e o jovem, com medo da exposição, obedece.
Um caso real, noticiado recentemente, mostra como isso acontece. Um adolescente começou a interagir com um suposto colega dentro de um jogo online. Primeiro, vieram os desafios inocentes: permanecer conectado por horas, trocar roupas do avatar, enviar imagens engraçadas. Em seguida, os pedidos se transformaram em exigências mais graves: compartilhar fotos pessoais, ligar a câmera e até realizar atos perigosos fora do jogo. Quando hesitou, recebeu a ameaça: “se não fizer, vou mostrar para todos o que você já me mandou”. A chantagem psicológica aprisionou o jovem. Esse é o padrão: confiança, manipulação e depois o medo como ferramenta de controle.
Jogos como Roblox, Fortnite, Minecraft, Free Fire e até plataformas de voz e chat como Discord são citados frequentemente em investigações. No Roblox, por exemplo, existem comunidades inteiras criadas para atrair jovens, com promessas de acesso a mundos exclusivos ou recompensas raras. Muitos adolescentes, pressionados ou seduzidos, acabam aceitando realizar desafios ou até expor informações íntimas. Esses ambientes são campos férteis para pedófilos, estupradores, traficantes e criminosos de todas as naturezas.
O risco não se limita aos jogos. Redes sociais como Instagram, TikTok, Snapchat e aplicativos de mensagens como WhatsApp e Telegram são extensões usadas pelos criminosos para aprofundar contatos iniciados em jogos. Até chatbots anônimos e inteligências artificiais abertas vêm sendo explorados para coletar dados ou induzir jovens a conversas íntimas. A ameaça está em todos os lugares digitais.
Diante desse cenário, os Pais precisam agir. Não basta conhecer o problema; é necessário adotar medidas concretas. A primeira delas é o acompanhamento ativo: saber quais jogos, aplicativos e redes sociais os filhos usam, com quem conversam e quanto tempo passam conectados. A segunda é instalar softwares de controle parental, muitos deles gratuitos, que ajudam a monitorar, limitar e bloquear acessos. Entre os mais conhecidos estão Qustodio, Kaspersky Safe Kids, Norton Family, Google Family Link e Microsoft Family Safety. Essas ferramentas permitem definir horários, restringir conteúdos impróprios, receber alertas de comportamento suspeito e até localizar o dispositivo em tempo real. A terceira medida é estabelecer regras claras de convivência digital, como limitar o uso noturno, evitar dispositivos em quartos fechados e exigir que telas fiquem sempre em áreas comuns da casa. A quarta, e talvez a mais importante, é o diálogo. Crianças e adolescentes precisam sentir que podem relatar situações estranhas sem medo de punição imediata. A confiança entre Pais e filhos é a linha de defesa mais poderosa.
Ignorar os crimes digitais é entregar nossos filhos a um risco invisível, mas devastador. É ingenuidade acreditar que muros e portas os protegem quando o verdadeiro perigo entra pelas telas. Não se trata de proibir a tecnologia, mas de usá-la com responsabilidade e vigilância. O futuro da juventude depende do que fazemos agora: vigilância, diálogo, educação e ferramentas tecnológicas são as armas mais eficazes contra esse inimigo que cresce dentro de nossas próprias casas.
Oscar Soares Martins – consultor e especialista em cybersegurança e em IA.