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Cuiabá, 10 de Setembro de 2025
10 de Setembro de 2025

10 de Setembro de 2025, 15h:22 - A | A

OPINIÃO / ANDREA MARIA ZATTAR

Cada um tem seu mistério, seu viver, sua ilusão

Entre a poesia de uma canção e a urgência da prevenção ao suicídio

ANDREA MARIA ZATTAR



Andando pela cidade, vejo pessoas cruzando ruas, calçadas, corredores. Uns carregam sacolas, outros carregam silêncios. Cada rosto guarda um mundo que não se revela na pressa do cotidiano. Foi nesse cenário que me veio à mente a canção Casinha Branca, de Gilson e Joran, que retrata com simplicidade a complexidade da alma humana:

Às vezes saio a caminhar pela cidade,

 

À procura de amizades,

 

vou seguindo a multidão.

Mas eu me retraio olhando em cada rosto: Cada um tem seu mistério, seu viver, sua ilusão.”

Essa poesia traduz o que esquecemos todos os dias: cada olhar que cruza o nosso guarda histórias ocultas, dores, lutos, recomeços, esperanças não ditas. E, ainda assim, julgamos, rotulamos, apressamos. Sem perceber que, por trás de um sorriso, pode existir alguém à beira do abismo.

A mesma canção que fala dos mistérios escondidos nos rostos da cidade também traz um desejo universal: o de encontrar refúgio, paz, um lugar onde a vida seja leve:

Eu queria ter na vida simplesmente

Um lugar de mato verde pra plantar e pra colher,

Ter uma casinha branca de varanda,

Um quintal e uma janela para ver o sol nascer.”

Essa “casinha branca” é metáfora daquilo que todos buscamos: um abrigo contra as tempestades internas, um espaço de descanso quando viver se torna pesado demais.

É justamente esse abrigo que falta a muitos, e a ausência dele nos leva ao tema do Setembro Amarelo, mês de conscientização sobre a prevenção do suicídio.

A campanha nos lembra que milhares de pessoas, todos os anos, não encontram sozinhas sua casinha branca. Que precisam de alguém que enxergue além das aparências, que ofereça escuta, que estenda a mão.

Escuta que salva vidas

O suicídio, muitas vezes, não nasce de uma única dor, mas de um acúmulo de silêncios. Silêncios impostos pelo medo do julgamento, pela falta de espaço para falar, pelo cansaço de não ser compreendido. Por isso, falar pode salvar, mas ouvir salva ainda mais.

O gesto de prevenção começa no cotidiano: perguntar se está tudo bem, respeitar o mistério do outro, oferecer presença verdadeira. Pequenos gestos que parecem simples podem impedir que uma vida se perca.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, a cada 40 segundos, uma pessoa tira a própria vida no mundo — são mais de 800 mil mortes por ano. No Brasil, os registros mais recentes giram em torno de 13 mil vidas perdidas anualmente. Atrás de cada número, existe uma história que poderia ter tido outro final se tivesse havido acolhimento.

Humanidade é prevenção

Todos carregamos um mistério, um viver, uma ilusão. Reconhecer isso é o primeiro passo. O segundo é agir com humanidade. Ver o que não se mostra, ouvir o que não se diz, caminhar ao lado mesmo sem entender o que acontece no interior do outro.

No Setembro Amarelo, a música e a vida se encontram: o desejo de um lugar de paz é real.

Talvez a verdadeira prevenção não esteja apenas em números ou campanhas, mas na delicadeza do olhar, no respeito às batalhas invisíveis e na coragem de oferecer companhia.

Que possamos ser menos pressa e mais presença. Porque, às vezes, ser visto, ser compreendido é a diferença entre desistir e continuar.

Se você estiver passando por um momento difícil ou conhecer alguém que precise de ajuda, ligue 188 — o CVV (Centro de Valorização da Vida) está disponível 24 horas por dia, em todo o Brasil.

*Andrea Maria Zattar, advogada trabalhista, membro da Associação Brasileira das Mulheres de Carreira Jurídica – ABMCJ; membro efetivo da Comissão de Direito do Trabalho da OAB/MT e ativista em causas sociais.

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