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Cuiabá, 09 de Setembro de 2025
09 de Setembro de 2025

09 de Setembro de 2025, 17h:56 - A | A

GERAL / PROTEÍNA DA PLACENTA

Medicamento brasileiro inédito, tido como capaz de reverter lesão medular, é apresentado em SP

Durante a fase experimental do antídoto, que é aplicado diretamente na coluna, pacientes tiveram recuperação total de seus quadros.

DA FOLHA DE S. PAULO



Vem de um tenro invólucro da vida humana, a placenta, a extração de uma proteína que aponta para dar uma solução para algo que, até agora, a ciência não tinha caminho claro nem nunca tão comemorado: restabelecer a medula espinhal em pessoas que tiveram lesões medulares e perderam movimentos do corpo.

A pesquisadora brasileira Tatiana Coelho de Sampaio, professora doutora da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), se aprofundou em silêncio com uma equipe de biólogos, nos últimos 25 anos, sobre a potência reparadora e multiplicadora da proteína laminina, que atua no sistema nervoso.

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Os estudos acabaram gerando o atual medicamento polilaminina, uma novidade mundial, apresentada nesta terça-feira (9) pelo laboratório Cristália, como capaz de regenerar a medula em pessoas que tiveram rompimento do órgão em acidentes de diversas naturezas e que levaram a uma paraplegia —paralisa dos membros inferiores— ou tetraplegia —paralisia de membros inferiores e superiores.

Durante a fase experimental do antídoto, que é aplicado diretamente na coluna, pacientes tiveram recuperação total de seus quadros, sem sequelas e retomando uma rotina sem restrições.

Há quase três anos, o laboratório aguarda a autorização da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para fazer o estudo clínico regulatório ampliado do medicamento. O laboratório tem a expectativa que, dentro de um mês, a autorização deve ser feita.

A Anvisa afirma que aguarda os dados complementares do laboratório sobre os estudos pré-clínicos. "Estes estudos são indispensáveis para a avaliar se o produto pode seguir para fase de teste em seres humanos. Os dados submetidos para a Anvisa, até o momento, referem-se aos estudos iniciais da fase não clínica (sem uso em seres humanos). Ou seja, não há solicitação referente a este estudo aguardando aprovação da Anvisa. Existe um processo ainda com dados que precisam ser complementados pela empresa", diz em nota.

"Embora os resultados de laboratórios sejam promissores, ainda não é possível fazer qualquer afirmação quanto a segurança e eficácia da substância. Este é um processo normal quando se trata da avaliação de novos medicamento, visto que a ciência é dinâmica e incerta. O processo aberto na Anvisa é para avaliação da proposta de ensaio clínico utilizando-se o produto biológico polilaminina para o tratamento de lesões de medula espinhal em humanos", afirma a agência.

Basicamente, a polilaminina é capaz de estimular neurônios maduros, que não iriam mais se desenvolver, a rejuvenescerem e a criarem novos axônios —fios extremamente finos que transportam os impulsos elétricos pelo corpo.

Na apresentação do fármaco, 2 dos 8 voluntários que passaram pelo procedimento em estudo acadêmico clínico, aprovado pelos órgãos éticos, e que tinham lesões que haviam comprometido movimentos, estavam presentes.

A atleta paralímpica de rugby Hawanna Cruz Ribeiro, 27, ficou tetraplégica em 2017 após uma queda de dez metros de altura. Perdeu os movimentos do pescoço para baixo. Três anos depois, foi submetida como voluntária à aplicação da polilaminina.

"Recuperei entre 60% e 70% do controle do meu tronco. Sinto que a sensibilidade na minha bexiga voltou, mas ainda não sou independente nessa questão. Não tenho nenhuma dúvida da minha melhora", afirmou.

Hawanna Cruz Ribeiro
atleta paralímpica de rugby

Já Bruno Drummont de Freitas, 31, lembra de ter o corpo completamente paralisado do pescoço para baixo após um acidente de trânsito. Ele recebeu a polilaminina 24 horas depois do trauma.

"Em cinco meses, mais ou menos, eu já estava completamente recuperado. Tenho uma rotina normal, faço esportes e não passo mais por nenhum tipo de tratamento. Tenho consciência do quanto é importante para milhares de pessoas o que estou relatando, mas não tenho dúvidas. Eu me recuperei totalmente e poderia estar tetraplégico."

Na aplicação em cães que tiveram lesões não provocadas, os resultados também impressionaram os pesquisadores, com a retomada total da marcha naqueles que tiveram o órgão neural rompido. Em ratos de laboratório, os efeitos da aplicação aconteciam em 24 horas.

O medicamento já está sendo produzido na planta de biotecnologia do Cristália, a partir de placenta doada por mulheres saudáveis que são acompanhadas durante toda a gravidez.

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