CELLY SILVA
DA REDAÇÃO
Um laudo de exame pericial formulado pela Perícia Oficial e Identificação Técnica (Politec) após análise técnica feita no apartamento dos tios do ex-secretário de Administração e réu na operação Sodoma 2, Pedro Elias Domingos, apontou que não houve arrombamento no imóvel onde ele dizia guardar documentos de imóveis oriundos de propina e que teriam sido furtados, supostamente, por Rodrigo Barbosa, filho do ex-governador Silval Barbosa.
“Não havia danos aparentes na superfície da porta social, esta que era confeccionada em madeira, não apresentava marcas de fricção ou mossas que indicassem que a porta sofreu algum tipo de força para que fosse rompida", diz trecho do documento.
Rodrigo Barbosa tornou-se o principal suspeito do desaparecimento dos documentos por ser morador do mesmo prédio, o edifício Rio Sena, localizado na Rua Brigadeiro Eduardo Gomes, no bairro Popular. Segundo declarações de Pedro Elias ao Ministério Público Estadual, Rodrigo sabia que era naquele local onde ele guardava os papéis relacionados à cobrança de propina do empresário Willians Mischur, dono da Consignum, que entregou dois apartamentos a Pedro Elias, após ser extorquido.
A perícia foi realizada no dia 29 de abril a pedido do delegado Márcio Moreno Vera, da Delegacia Especializada em Crimes Fazendários e contra a Administração Pública (Defaz) e já consta nos autos da Sétima Vara Criminal. O laudo é assinado pelo perito criminal Flávio Henrique Oliveira, que pesquisou e coletou os dados no local, onde foi acompanhado do próprio Pedro Elias.
Em seu relatório, o perito afirma que iniciou o estudo nas duas portas de entrada do apartamento, onde não constatou violação das portas que davam acesso ao interior do imóvel.
“Não havia danos aparentes na superfície da porta social, esta que era confeccionada em madeira, não apresentava marcas de fricção ou mossas que indicassem que a porta sofreu algum tipo de força para que fosse rompida. Observando a fechadura embutida não se notou qualquer dano à suas partes, sendo que esta não apresentava folga ou desencaixada/desalinhada em relação à porta. Foram realizados testes para verificar o funcionamento da fechadura e esta apresentava funcionamento normal tanto para a ação de trancar como de abrir com uma ou duas voltas na chave. A contra-testa da fechadura localizada na batente da porta também não apresentava danos ou marcas de fricção. A porta estava alinhada a batente da porta e suas dobradiças apresentavam-se íntegras”, diz trecho do documento.
Mesmo não tendo constatado arrombamento em nenhuma das duas portas que dão acesso ao interior do apartamento, o perito conferiu as portas dos demais cômodos do imóvel e também não constatou nenhum sinal de arrombamento nas fechaduras. Apesar disso, ele também não descarta a possibilidade de que, para evitar arrombamento das portas do apartamento, tenha sido usada chave micha, que pode abrir a porta pela manipulação do mecanismo interno do cilindro da fechadura.
Com relação ao armário de madeira onde Pedro Elias afirma que guardava os documentos supostamente furtados, a perícia apontou que apresentava apenas desgaste devido ao uso. “Analisando a superfície externa do imóvel não foram observados danos do tipo marcas de fricção, mossas ou marcas de sujidades. As gavetas estavam vazias. Analisando o sistema de fechaduras e trinco da porta de duas folhas verificou-se que este estava em funcionamento, e ainda conseguia trancá-la. A porta de duas folhas não apresentava folga e, realizados testes de resistência, não sedia quando trancada e puxada. Ressalta-se que no armário foram verificadas as dobradiças do mesmo e estas estavam intactas”, detalhou o perito.
Pedro Elias, que estava presente no momento da perícia, disse que entre o fato do desaparecimento dos documentos até a realização da perícia teriam se passado cerca de 10 dias, o que prejudica a busca de impressões digitais, segundo o perito.
O servidor da Politec percebeu também que “na parte interna do armário havia áreas limpas cercadas por marcas de sujidades na placa de compensado, indicando que ali havia objetos guardados por um período de tempo considerável”. Flávio Henrique Oliveira também observou que havia a presença de fragmentação de madeira. Segundo seu relatório, o que pode ter ocorrido pela inserção de instrumento contundente, como uma chave de fenda na fresta entre a borda interior do armário e a porta de duas folhas, usando-o como alavanca para desencaixar o trinco e puxar a porta para que ela abrisse. A segunda hipótese é que a fragmentação ocorreu devido ao uso no decorrer do tempo, já que o móvel era antigo.
Além das avaliações das portas dos cômodos do apartamento e do armário, o perito também realizou a busca de impressões digitais no armário. “Entretanto, após passar o pós por toda a extensão da porta de duas folhas na sua face interna e externa, além da superfície da tampa do armário, não foram encontrados fragmentos de impressões papilares”, explicou.
Pedro Elias, que estava presente no momento da perícia, disse que entre o fato do desaparecimento dos documentos até a realização da perícia teriam se passado cerca de 10 dias, o que prejudica a busca de impressões digitais, segundo o perito.
Em resumo, o perito criminal registrou que não havia danos na porta social e nem na porta para funcionários, não havia desalinho de objetos, portas e gavetas de armários em outros cômodos do apartamento, o armário apontado como alvo de arrombamento não possui danos estruturais e possui pequena fragmentação de madeira no ponto de encaixe do trinco e na borda de sua base.
Com isso, ele inferiu que “através dos elementos materiais encontrados no interior do apartamento e devido ao lapso temporal do alegado arrombamento até a data da perícia não é possível concluir que houve rompimento de obstáculo para subtração de objeto no interior do imóvel”. Em sua conclusão, o perito deixou registrado que o imóvel não apresentava danos que caracterizam arrombamento.
Confira laudo na íntegra:
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