LOUREMBERG ALVES
Encerrada a apuração dos votos das urnas de Cuiabá, renovação passou a ser a palavra de ordem. Ela ocupou um espaço enorme na imprensa, foi comemorada nos canais televisivos e radiofônicos e passou a ser badalada nas redes sociais.
Os analistas foram chamados para comentar o dito fenômeno, e dois ou três deles caíram na onda do “oba-oba”, embalados pela cantilena de uma nota só. Porém, perderam o tom ao se equivocar com o tempo que deveria ser conjugado o renovar na Câmara cuiabana.
As imagens, então, se misturaram. A ponto de dar visibilidade o que passa por verdade, sem sê-lo de fato.
Tudo porque os reeleitos ficaram abaixo da metade dos vereadores candidatos. Números que confundem o olhar desatento, e extasiam os que se deixam seduzir com facilidade. Bem mais quando há interesse de um ou outro coronel partidário.
Interesse que faz sentido, especialmente ao se levar em conta o tamanho do eleitorado cuiabano. Eleitorado, até pela sua importância no cenário regional, que passa a ser o objeto de desejo do político que cobiça a cadeira central do Palácio Paiaguás.
Compreende-se, então, o porquê este político procura um meio, uma maneira para envolver-se ou fazer-se encantar pelo eleitor da região. Por isso, ele é levado a financiar campanha de candidatos do lugar, inclusive ao Parlamento estadual e federal, a meter-se com o time mais popular da cidade e a ajudar na eleição para a Câmara municipal de pessoas que lhe são bastante próximas.
O curioso é que já se tem um movimento, ainda tímido, para que o próximo presidente da Casa saia da lista dos “novos” vereadores.
Isso, por outro lado, denúncia o uso de velhas práticas. Tão antigas quanto à compra de votos, a retirada de candidaturas por dinheiro e a troca de apoios por benesses.
Situação que descarta, de vez, a conjugação do verbo renovar. Mais precisamente ao se referir à futura composição da Câmara Cuiabana. Composição que está longe de ser renovada.
Trocaram, isto sim, os rostos do álbum de fotografias. Tanto que das vinte e cinco, apenas sete são antigas feições, que se somam a dois ou três que marcaram presenças como suplentes em legislaturas passadas, e se vêm acrescidas de perfis também moldados pela mesma escola onde passaram os doze vereadores não reeleitos.
Trocas, no entanto, que não implicam em mudanças de comportamentos. São estes, não as fotos que precisam ser mudadas.
Equivocam-se os que pensam de maneira diferenciada. Pois perdem não só o tempo correto para conjugar o verbo renovar, como igualmente fazem confusão com o modo a ser aplicado e o cenário então vivido.
Assim, é incorreta a aplicação da palavra renovação quando se refere à composição do Parlamento cuiabano.
Apesar das “caras” “novas” que se tem ou se terá, porém não desconhecidas dos núcleos coronelísticos ou da velha escola de políticos, a Câmara local continuará ser palco da mesmice, da taciturnidade e da ingerência.
Pois o comportamento de hoje, que alimenta tais vícios, permanecerá presente na legislatura que virá. Infelizmente. Pois a renovação, tão falada e badalada, não existiu de fato.
LOUREMBERGUE ALVES é professor universitário e articulista político em Cuiabá.
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