ARLINDO ABURAD
Os incríveis benéficos das canetas emagrecedoras estão cada dia mais conhecidos. Esse sucesso todo para a saúde sistêmica das pessoas, baseado principalmente na perda de peso, em um momento em que boa parte da humanidade está com sobrepeso e obesidade, desperta curiosidade sobre como elas realmente funcionam. No entanto, além do uso clínico, é possível observar um crescente número de pessoas que, por razões estéticas, recorrem às canetas emagrecedoras mesmo sem necessidade médica comprovada. Pior ainda: utilizam esses medicamentos sem o acompanhamento adequado de profissionais da saúde — uma prática conhecida como uso off label, que levanta sérios riscos à saúde.
Pouco se fala, entretanto, sobre os efeitos colaterais desses remédios na saúde bucal. Entre os sintomas mais comuns relacionados ao seu uso estão náuseas intensas, vômitos, dores abdominais, diarreia, constipação, refluxo, azia, dores de cabeça, fraqueza e indigestão. Em casos raros, podem ocorrer pancreatite, hipoglicemia, problemas gastrointestinais mais graves, queda de cabelo e alterações na visão.
Além dessas reações, um efeito colateral menos conhecido, porém preocupante, é o impacto na cavidade oral. A diminuição da produção de saliva — condição conhecida como xerostomia — é frequente em usuários dessas canetas. A saliva exerce um papel vital na proteção da boca, controlando a proliferação de microrganismos como bactérias e fungos. Com a boca seca, esses microrganismos se proliferam mais facilmente, elevando o risco de cáries, gengivites e mau hálito. Pessoas com histórico de problemas bucais ou que não mantêm uma higiene rigorosa são especificamente vulneráveis a essas complicações.
Um estudo recente publicado na edição de março/abril, da Brazilian Journal of Health Review, por pesquisadores de Patos de Minas, reforça esses riscos. Intitulado “Potenciais efeitos colaterais de Ozempic®️, Mounjaro®️ e outros emagrecedores na cavidade oral: revisão de literatura”, o artigo detalha os perigos que pacientes que utilizam essas medicações correm em relação à saúde bucal.
As reações adversas relacionadas às canetas emagrecedoras ocorrem principalmente porque as substâncias nelas contidas retardam o funcionamento do sistema digestivo, que começa justamente na boca, com a ação da saliva sobre os alimentos. Por isso, é fundamental que o uso desses medicamentos seja acompanhado rigorosamente por médicos, e que os pacientes também busquem um acompanhamento odontológico para prevenir e tratar os efeitos colaterais na cavidade oral.
É preciso destacar que as canetas emagrecedoras representam uma importante ferramenta no combate à obesidade, mas seu uso exige responsabilidade e atenção multidisciplinar. A saúde bucal, muitas vezes negligenciada, deve estar no centro desse cuidado, para evitar complicações que podem impactar não apenas a boca, mas a qualidade de vida.
*Arlindo Aburad é dentista, doutor em Patologia Bucal pela USP, patologista bucal do LPB – Laboratório de Patologia Bucal e Maxilofacial e do CPC – Centro de Patologia e Citopatologia.