MARGARETH BOTELHO
A Metamorfose, de Franz Kafka, que faz do homem um inseto enorme e disforme, em suas várias interpretações, já indicava a extinção de parte da espécie humana ou o desespero do homem perante o absurdo do mundo?
Conheço muita gente antenada que simplesmente lá no fundinho tá cheio de Kafka. Nada de um simples ‘baratão’ que, na gíria, seria um cara legal e bem grande.
Nan, nan, nan! O que mais a gente anda vendo por aí é a falta de tolerância, solidariedade e amor, nem sempre no sentido romântico, mas aquela satisfação de estar ao lado de alguém simplesmente pelo prazer de uma amizade sincera.
É paradoxal. Enquanto o ser humano se isola, mais ecoa o seu grito por socorro. A independência supostamente genética do homem e a criada pelo feminismo nas mulheres andam valorizando arroubos insensatos, gestos exibicionistas e a imposição de viver sem qualquer tipo de emoção.
Estou falando aqui não simplesmente das relações afetivas entre homens e mulheres, e sim de todas elas que movem o mundo e direcionam a capacidade de se doar ao amigo, ao colega de trabalho, ao familiar, e, por fim, a um companheiro.
Dizem que o coração aponta a direção, mas é a razão que escolhe o caminho. Portanto, a metamorfose de Kafka é controversa.
É muito chato passar a vida correndo atrás de um ‘baratão’ que não tem a menor inclinação para se entregar à vida de forma intensa. Pior é perceber-se tonta, fazendo coisas que nada tem a ver com você. O jornal do dia pode até avisar:
‘Há uma novidade no ar, mas poucos enxergam. E estagnados, muitos vão cheirando a mofo’. E olha que existem zilhões de pessoas se esforçando para encontrar a famosa luz no fundo do túnel.
No mundo dos cientistas, por exemplo, as pesquisas são tão variadas e tentam buscar justificativas para as situações mais exóticas possíveis. Nada de compor uma música ou fazer um verso pela falta de algo e de alguém e muito menos se esvair em lágrimas ao assistir a um melodrama.
Quem disse que questionamentos, frustrações e fantasias possuem escoadouro criativo? Negativo! O planeta sofre de tédio e como dizem os mineiros cada um que cuide de seu perrengue. Pode isso?
Descobriram os brilhantes estudiosos que até o mau humor tem seu lado positivo. Bestial, diriam meus ancestrais lá de ‘Trás-os-Montes’, em Portugal.
Pois é, por A + B eles provam que os emburrados, aqueles de mal com a vida, ‘tendem a lidar melhor com situações difíceis do que aquelas que vivem mais felizes’. Volta a frase. Leia novamente.
É isso mesmo! Para certos casos nada melhor que os mal-humorados, porque deles é o reino das decisões sensatas e com menos margem de erro. E eu que pensava que os ‘zangados’ da vida eram só pessoas infelizes.
Que todos então aplaudam de pé aqueles que deixam tudo para quarta-feira de uma semana qualquer, que simplesmente não registram o que não querem ver e, embora inteligentes e sensíveis, preferem modelar sua vida com uma forma bem amarga, quase fel. Um viva - com todo respeito - ao professor Joseph Forgas, da Universidade de Nova Gales do Sul, em Sydney (Austrália), que diz, abre aspas: o mau humor melhora a capacidade de julgar os outros, aumenta a memória e facilita um pensamento mais prudente, fecha aspas.
Pronto, meu mundo caiu. E eu que pensava que o legal era ser feliz, acreditar em Papai Noel, fazer relaxamento, entoar o Ommmmmmmmmmmmmmmm, meditar e, sobretudo, confiar no ser humano, cantarolar, soltar o corpo até com o Gonga La Conga, da Gretchen, ouvir histórias do tempo do onça, relembrar os apuros de um passado inocente e rir de gargalhada por qualquer besteira.
Mas não, se os cientistas profetizam: Que morra a alegria idiota e sobreviva o mau humor eficaz. Será?
Eu, por mim, prefiro pisar no ‘baratão‘ do Kafka.
MARGARETH BOTELHO é jornalista em Cuiabá.