AÉCIO NEVES
Tornou-se lugar comum a defesa conceitual da educação como caminho seguro para o desenvolvimento dos estados nacionais. Não é sem razão: as emblemáticas experiências de inúmeros países demonstram que a travessia para outro patamar de qualidade de vida exige um decidido, concentrado e duradouro (para não dizer paciente) investimento na qualidade da educação pública. Esse direito praticamente nunca existiu para os brasileiros.
As avaliações do MEC têm sido claras em mostrar o quanto ainda estamos distantes de realizar a sonhada transformação do nosso ensino público –municipal, estadual ou federal– em escolas equipadas, professores motivados e bem remunerados, alunos preparados e capacitados para enfrentar o mundo.
Ainda assim, ao ver os últimos números do Ideb, não posso deixar de registrar os resultados obtidos pelos alunos de Minas, que ficaram nos primeiros lugares na avaliação.
Muitos perguntam como o Estado conseguiu esse resultado, com tantas e graves diferenças regionais e o maior número de municípios entre os Estados brasileiros.
Eu respondo: priorizando o que é prioritário. Foi isso que levou Minas a ser o primeiro Estado a universalizar o ensino fundamental de nove anos, o que, ao lado de outras medidas inovadoras no campo da gestão, tomadas ao longo dos últimos anos, criou as bases para os avanços conquistados.
Sabemos que o país fez parte do dever de casa nos anos 90, quando universalizamos o acesso ao ensino fundamental, sob a gestão do presidente Fernando Henrique. Deste marco em diante, poucos avanços foram registrados, como a extensão do ensino fundamental para nove anos e a implantação dos sistemas de avaliação de desempenho de escolas e alunos.
Nada de relevante ocorreu para reverter a baixa qualidade do ensino oferecido a crian ças e jovens, que coloca o Brasil em posição inferior à de muitos países menos desenvolvidos economicamente.
O fato é que estando com a responsabilidade de traçar e coordenar uma política educacional para o país, função intransferível do governo federal, o MEC parece ensaiar novos passos sem a segurança necessária a quem responde já há uma década pelo futuro de uma geração inteira.
Impossível não temer as consequências para os nossos alunos do ensino médio na implantação da nova grade curricular anunciada. Se a necessidade de uma reforma é quase um consenso entre especialistas da área, poucos acreditam na capacidade do MEC em conduzi-la na intricada rede de ensino e escolas do país. A ausência de políticas públicas que requerem planejamento de médio e longo prazos tem sido um problema constante em todas as áreas que dependem do Estado brasileiro nos últimos dez anos.
*Aécio Neves é um político e economista brasileiro.
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