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Cuiabá, 02 de Julho de 2025
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23 de Setembro de 2015, 09h:23 - A | A

OPINIÃO / MARCUS TAQUES

E agora, José?

O momento não esta nada fácil para nós brasileiros.

MARCUS TAQUES



O momento não esta nada fácil para nós brasileiros. Os debates políticos e econômicos tomaram o lugar do papo descontraído nas mídias sociais, grupos de whatsapp, bares, almoços de família, festas de aniversários, etc. A crise econômica atinge a boa parte da população, com a alta do desemprego, da inflação e do dólar que esta semana atingiu o maior patamar em todos os tempos. Estamos como o José de Carlos Drummond de Andrade.

“E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José? E agora, você? Você que é sem nome, que zomba dos outros, você que faz versos, que ama, protesta? E agora, José?”. 

“E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José? E agora, você? Você que é sem nome, que zomba dos outros, você que faz versos, que ama, protesta? E agora, José?”.

Estamos à deriva e sem norte político, o que é mais preocupante, pois entendo que a nossa crise é muito mais política do que econômica. Desde a formação da chapa para presidente nas convenções, Dilma Roussef já encontrou resistência no PMDB, que aprovou a coligação de forma apertada com apenas 59% a favor e 41% contra. Aquilo já foi um sinal do que estaria por vir. Por fim, a vitória apertada contra Aécio que, em minha opinião, tem sido menos impactante nesta crise política do que a relação conturbada com a base de apoio do congresso, pois, em outras democracias estabelecidas, como os Estados Unidos e a França, disputas apertadas são a regra e não exceção. Por exemplo, Barack Obama venceu Mitt Romney em 2012 por uma diferença de menos de três por cento. Ainda em 2012, François Hollande se sagrou vitorioso com pouco mais de dois por cento sobre Nicolas Sarkozy.

“Está sem mulher, está sem discurso, está sem carinho, já não pode beber, já não pode fumar, cuspir já não pode, a noite esfriou, o dia não veio, o bonde não veio, o riso não veio, não veio a utopia e tudo acabou e tudo fugiu e tudo mofou, e agora, José?”

A crise econômica nos acometeria de qualquer maneira em 2015, o que se decidiu em 2014 foi como e pela mão de qual governante passar por ela. O que tem de fato surpreendido é a total falta de norte e articulação política que o governo vive. Um tremendo atestado de incapacidade política. Hoje, sem maioria no congresso, o governo não consegue aprovar nada, ainda mais com a baixa popularidade de nossa presidenta. Parece que estamos em um trem sem maquinista. A mercê da disputa entre situação e oposição, disputa esta que na maioria das vezes o que se almeja não é o bem comum da população, e sim o poder político. Enquanto isso, quem paga a conta? 

“Com a chave na mão quer abrir a porta, não existe porta; quer morrer no mar, mas o mar secou; quer ir para Minas, Minas não há mais! José, e agora?”

Neste cenário, sem governabilidade e força política, não teremos reestruturação da economia - que sim, se acontecer, infelizmente será às nossas custas com aumento de impostos e alta dos preços - nem tampouco estabilidade política. Ou seja, não saímos do lugar. Dias ainda mais difíceis estão por vir.

A instabilidade política gera insegurança no trabalhador, no pequeno comerciante, afasta investimentos nacionais e internacionais, conforme podemos ver no rebaixamento do grau de investimento do Brasil pela agência Standard and Poor's que fundamentou tal rebaixamento principalmente na instabilidade política e corrupção. O cenário, infelizmente tende a piorar, pois o pseudo – pseudo, pois seria a população a maior sacrificada - pacote econômico de cortes e investimentos do governo provavelmente não será aprovado no congresso. 

Se você gritasse, se você gemesse, se você tocasse, a valsa vienense, se você dormisse, se você cansasse, se você morresse... Mas você não morre, você é duro, José!

Neste cenário, sem governabilidade e força política, não teremos reestruturação da economia - que sim, se acontecer, infelizmente será às nossas custas com aumento de impostos e alta dos preços - nem tampouco estabilidade política. Ou seja, não saímos do lugar. Dias ainda mais difíceis estão por vir. 

“E agora. José? Sozinho no escuro qual bicho-do-mato, sem teogonia, sem parede nua para se encostar, sem cavalo preto que fuja do galope, você marcha, José! José, para onde?”

Marcus Taques é mestre e doutorando em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco

 

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