SONIA MAZETTO
Costumamos ouvir que “o que importa é o conteúdo”, que o essencial é o que está por dentro, que as pessoas vão nos reconhecer pela nossa competência, pela nossa entrega, pela nossa essência. Mas a prática mostra que, antes de qualquer avaliação de conteúdo, somos julgados pela forma.
Essa é uma questão que trabalhei em minha última palestra ao abordar a comunicação estratégica para mulheres visionárias, que reuniu um grupo de desbravadoras com atuações expressivas em diferentes regiões fora do Brasil e me trouxeram o seguinte desafio: a dificuldade na exposição pessoal, especialmente em momentos como pitchs de negócios ou palestras.
Mesmo aquelas com grande competência técnica se sentem acanhadas quando precisam se apresentar publicamente. O medo da exposição e do julgamento é uma constante. Afinal, estar diante de 80, 100 olhares, sozinha no palco, não é simples. É um enfrentamento desigual.
Pequenos ajustes fazem grande diferença para sustentar um grande público, como a direção do olhar, a expressão facial, a organização dos slides. Ainda hoje é comum encontrar apresentações repletas de textos, que tornam o conteúdo cansativo ao invés de gerar uma conexão com o público. E não se trata de desinformação, pois muitas vezes são profissionais de destaque, mas com pouca formação específica em comunicação estratégica.
O palco, que deveria empoderar, tende a provocar o efeito contrário: tira a segurança de quem, fora dele, demonstra grande domínio. Técnicas de apoio emocional e físico também são fundamentais para quem se sente desconfortável e tem a sensação de “perder o eixo” ao subir no palco.
A exposição em eventos é outro ponto importante sobre o posicionamento físico e a forma de apresentar o produto. Muitas empreendedoras se colocam atrás da mesa ou balcão e se posicionam inconscientemente no lugar da “atendente”, da “invisível”. A orientação é clara: o lugar de quem lidera é na frente, recebendo o público de igual para igual.
Segundo o conceito do cérebro trino, apenas uma pequena parte da comunicação está no conteúdo verbal, enquanto o restante envolve linguagem corporal, tom de voz e postura. Em uma experiência recente em meus trabalhos, durante uma exposição, enquanto alguns participantes realizaram cerca de 30 contatos, outra pessoa, utilizando essas estratégias, fez 230. O que mudou? Postura, visual, presença.
A escolha de um local mais sofisticado para um evento, não é mero capricho. É construção de imagem. É criar um ambiente onde as pessoas olhem ao redor e digam "nossa, que chique". Esse é o impacto da forma.
Isso vale para pequenos detalhes – a roupa que usamos, o sapato, o cabelo, a maneira de andar, até se você carrega ou não uma bolsa na mão. Em negociações importantes, por exemplo, eu faço questão de entrar apenas com meu salto alto e, no máximo, uma pequena bolsa de mão. Por quê? Porque no inconsciente coletivo, quem chega carregado de tralhas, com sacolas e mochilas, passa a impressão de que está sobrecarregado ou que não tem estrutura. Para quem quer fechar grandes negócios, é um sinal que pode jogar contra.
Existe uma diferença entre a preocupação da empreendedora e da empresária de alto nível. A primeira foca excessivamente no produto; já a empresária mais experiente cuida também da própria imagem, mas muitas ainda enfrentam o desafio de adequar a fala ao nível de impacto visual que já conseguem transmitir.
Por exemplo, ter um material visual de altíssimo nível, estar em locais sofisticados e ter uma imagem impecável nas redes sociais exige uma comunicação a altura desse público. É necessário ajustar o vocabulário, corrigir vícios de linguagem e evitar contrações de palavras que podem diminuir sua autoridade.
São detalhes que fazem toda a diferença, principalmente em ambientes de alta performance. O inconsciente coletivo não perdoa. Termos como "tamém", "craro" ou "probrema", por menores que pareçam, impactam diretamente na percepção de autoridade. A escolha das palavras, o tom de voz e até mesmo o timbre influenciam a leitura que o público faz.
Em cursos e palestras, eu enfatizo cada vez mais o conceito de inconsciente coletivo. Vai além de uma questão de concordância pessoal, se trata de uma realidade comportamental. Uma voz mais aguda ou infantilizada, por exemplo, tende a gerar menos autoridade, independentemente do conteúdo apresentado. É um fator que precisa ser considerado e trabalhado.
Para quem deseja ocupar espaços de destaque, seja no palco, nos negócios, nas redes ou em veículos internacionais como a Forbes, precisa alinhar forma e conteúdo. Afinal, em tempos de inteligência artificial e produções altamente editadas, o ao vivo continua sendo o verdadeiro termômetro de credibilidade.
Como ilustração desse fenômeno, vale lembrar o famoso experimento social com o violinista Joshua Bell no metrô de Washington, D.C., em 2007. Mesmo utilizando um Stradivarius avaliado em milhões e tocando obras-primas de Bach, poucos reconheceram sua habilidade naquele ambiente descontextualizado. Assim também acontece com a comunicação: o conteúdo pode ser valioso, mas se a forma não estiver adequada ao contexto, o impacto será limitado.
Sonia Mazetto - Gestora de Potencial Humano, Terapeuta Integrativa, Fonoaudióloga e Palestrante