ROBERTO BOAVENTURA
Embora pareça estranho, no título acima não há erro algum; trata-se de um neologismo que acabo de criar na reta final das eleições presidenciais 2014.
Por aglutinação, onde termina a palavra “Dilma” começa a outra: “Aécio”. Ou seja, nessa criação semântica, junto dois políticos e dois partidos que sintetizam praticamente o mesmo, como se fossem irmãos gêmeos.
Uma prova disso: seus bercinhos. Ambos os candidatos são mineirinhos, uai! Aparentemente, um mais “garradim" à terrinha e à família; a outra, menos.
Mas não importa; o que interessa é que são semelhantes. Mesmo assim, há quem insista em defender o contrário. Há quem até brigue por conta disso. Tolice!
Dias atrás, a contragosto, fui envolvido em uma dessas discussões que beiram a estupidez completa e depõem contra a suposta “Intelligentsia”: as diferenças entre o PT e o PSDB.
No calor daquela conversa informal, respirando fundo para não ser mal-educado com colegas de profissão, ponderei sobre as igualdades de fundo, e não as diferenças de superfície – que há – entre tais grupos. Hoje, lançando mão do discurso de autoridade, recorro a três artigos da Folha de S. Paulo.
O primeiro – “Pela esquerda, com a direita” (15/10/14) – é do historiador Daniel Aarão Reis, da Universidade Federal Fluminense.
Central e pertinentemente, Reis afirma: “O PSDB está de rosto colado com liberais e reacionários, e o PT, ‘cheek to cheek’ (de rosto colado) com a vanguarda do atraso”. Ao final, sentencia: “E assim vamos, e iremos, pela esquerda, sempre, mas com a direita”.
Antes disso, porém, o autor expõe a trajetória de ambos os partidos. Mostra que os dois tiveram origem na esquerda ou próximo disso; com o tempo – tudo em nome da “governabilidade” –, ambos se endireitaram. Ambos se neoliberalizaram.
Em 1994, o PSDB aliou-se “com a direita, o PFL, ancestral do atual DEM... Decidiu governar com lideranças liberais e carimbadas pelo apoio à ditatura...”
Depois, foi a vez do PT abraçar o capeta. Até hoje aconchega-se com ele: “...Dilma faz campanha com Collor, Barbalho e Sarney... Chegaram a fazer parte de sua ‘base’ o inefável Bolsanaro e Feliciano, o pastor homofóbico...”
Na mesma linha de reflexão, o escritor Ruy Castro, em “PT-Arena” (08/10/14) conclui: “Parece estar havendo uma certa arenização do PT. E não apenas porque sua força hoje se concentra no maciço apoio nordestino”.
Tal conclusão é fruto da seguinte passagem do artigo mencionado: “A Arena (Aliança Renovadora Nacional) abrigava os mais notórios adesistas, oligarcas, coronéis, oportunistas, corruptos e o que havia de mais atrasado nos grotões rurais e urbanos”.
Pertinente e triste síntese. Ao falar da velhaca Arena, Ruy parece estar falando do PT de hoje.
Diante desse quadro de promiscuidade política, no artigo “O fim do eleitor típico” (08/10/14), a jornalista Mariliz Pereira Jorge, trata do que sobrou ao eleitor que não quer votar em branco, anular ou nem aparecer para votar.
Na lógica do que é o que temos pra hoje, Mariliz – tentando relativizar a definição de “como seriam os eleitores típicos deste ou daquele candidato” – fala do voto de Ivonilde, sua diarista. O voto daquela doméstica coincide com o seu, a patroa.
Logo, conclui Mariliz: “Votar em Dilma ou em Aécio não define o perfil de ninguém”, como insistem os institutos de pesquisas.
“Rotular os outros é não somente leviano, como ridículo”; aliás, essa postura preconceituosa encontrou nas universidades federais – ninho de um petismo feroz e doentio – um dos espaços sociais mais pródigos.
Lamentável!
ROBERTO BOAVENTURA DA SILVA SÁ é doutor em Jornalismo pela USP e professor de Literatura da UFMT.