RENATA MEIRA COELHO
É notório que hoje mais do que nunca, a instituição escolar intermedia de maneira mais direta as relações de ordem familiar e institucional em prol de uma melhoria na educação, portanto os profissionais da educação deverão estar sempre alertas, ao que diz respeito a sistema de valores, que prevalece na vida do aprendiz. O educador tem uma função importante na educação e posição social destes, podendo até influenciar o educando, no sentido da existência e escolha de seu campo profissional futuramente.
Em se tratando de educação é natural que encontremos conflitos e dissociações, pertinentes aos jovens. Estas atitudes se tornam importantes na visão de um educador, uma vez que estas são oriundas de um contexto de valores sociais mais amplos. Portanto se a educação for visualizada em todos seus aspectos, será um caminho para a realização de tarefas ocupacionais no futuro. Ou seja, o adulto útil é aquele que de alguma forma compreendeu a situação de uma escolha ocupacional e sua importância. Seja esta compreensão, vinda pela via institucional escolar ou pela própria pedagogia familiar.
Se faz necessário quanto educadores, que olhemos para o que o futuro destes educandos implica, é de grande importância para nós mediadores do conhecimento, vermos o que se passa por trás dos conflitos e dissociações destes.
É confuso para o aluno ainda jovem definir um comportamento a meios tantos conflitos, entender a importância real de um bom aprendizado para o seu futuro profissional, quando ainda mal entende o que se passa dentro dele e todas as transformações corporais, hormonais. É difícil ter que ser adulto quando ainda mal saímos da adolescência! Por todos esses fatores é muito comum encontramos jovem estudantes, que apresentam determinado tipo de comportamentos hostis, nos quais eles próprios acreditam que o estão fazendo por auto defesa. Quando na verdade eles estão travando uma luta interna pelo simples fato de poder destituir o poder do outro. Quase que instintual, algo como a lei dos animais, quando, permanece no poder o mais forte.
Cabe aos educadores, entender parte da realidade do aluno que vem camuflada em comportamentos assumidos e posto em cena. Ou seja, o vínculo que o educando faz com o educador, deve ser visto e entendido como sentimentos manifestos provenientes do inconsciente, podendo tratar-se de algo recalcado ou não. Estes vínculos sejam eles manifestos ou não, podem vir a produzir um comportamento de oposição, contradição, dissociação, etc. lembrando sempre que o manifestar ou não desses sentimentos, na maior parte das vezes são gerados por fantasias por parte do aluno em relação ao educador.
Quando me refiro à educação, visualizo - a como um todo. A educação deve ser vista e entendida por vários ângulos, entre eles devemos levar em conta, que o educando passa por grandes mudanças, que são contínuas e amplas. É imprescindível perceber que uma ideologia utópica ou não, existe e é a somatória para a formação de uma identidade. As boas elaborações dessas ideologias, irão contribuir para uma boa estruturação da identidade do sujeito quanto ser no mundo. O jovem aprendiz costuma apresentar de forma notória, dúvidas e indecisões quando lhe é cabido decidir. O educador deve se ater as crises de cada fase, e aqui quando me refiro ao educador, estou me referindo a todos que compartilham da formação do educando, desde o professor à família. São nas crises que os educandos irão mostrar seu período de transição, adaptando-se e acomodando-se. Este deve ser um olhar preciso que vai pra além do vínculo, envolve também intuição e compreensão dos comportamentos manifestos.
É um educar com novo olhar, um meio de colaborar para a descoberta do eu, do ser no mundo.
As instituições escolares, não possuem mais o perfil de formadora de ideias, e junto com a família mediam dentro do possível troca de informações que resultarão em uma futura identidade, esta agora não mais impressa, não mais formadora e sim construída, uma vez que entende-se por construção de identidade, aquela que é estruturada pela via da interação de fatores internos e externos a cada um.
Este entendimento que deu início a mudança do perfil da instituição escolar, ocorreu já no final do século XIX, com a entrada da chamada pedagogia nova, esta surge para contrapor-se a pedagogia anterior, a chamada tradicional citada mais acima como moldadora de tabulas rasas. A instituição escolar passa a ser detenta de procedimentos democráticos, deixam de lado a ideia de sujeitos iguais, aplicam novas práticas de aprendizagem como auto atividade, a individualidade era um fator valorizado.
A base da aprendizagem para a pedagogia nova, é que o educador deveria entender que o educando tem a mente como instrumento de adaptação progressiva ao meio. Neste momento a pedagogia fala a mesma linguagem da psicologia, quando iniciamos este artigo. Falamos da capacidade de formação de vínculo educador para a captação do comportamento manifesto do educando, e podemos ver que a muito a pedagogia e a psicologia vem concordando, com a necessidade de o educador entender o que está por trás de um comportamento manifesto.
É na união das necessidades fisiológicas com as necessidades intelectuais, que podemos presenciar a realidade de cada um como algo subjetivo e singular. Podendo então entendermos que o homem e sua identidade bem como seu comportamento se constrói. Devemos quanto educadores considerar que o educando é dotado de poderes individuais, ele tem liberdade, iniciativa, autonomia, interesses, valores e crenças, estes são fatores influentes na formação de um perfil.
Quero finalizar esse artigo com uma crítica de Freire ao falso dilema entre o Humanismo e a Técnica.
“....quem afirma uma educação que se oponha a capacitação técnica dos indivíduos é tão ineficiente como a que reduz à competência sem uma formação geral humanista.....”Paulo Freire.
Renata Meira Coelho é professora da Universidade de Cuiabá, nos cursos de Segurança do Trabalho e Radiologia.