SORAYA MEDEIROS
A gente passa tanto tempo tentando caber nos formatos que os outros criaram para nós que, quando a ficha cai, o estrondo é inevitável. E a ficha é simples: ser você de verdade é o único trabalho que realmente importa.
Quando essa decisão finalmente amadurece — essa de desengavetar a alma e assumir o próprio formato — algo dentro do mundo, naquele microcosmo que te cerca, se rearranja de forma quase sísmica. É como se, ao apertar o botão da autenticidade, você acendesse uma luz forte demais numa sala acostumada à penumbra. E é aí que o espetáculo começa — ou melhor, a revolução silenciosa.
A sua luz, essa que agora irradia sem filtro, incomoda quem ainda insiste em viver na sombra. Sua verdade não é apenas sua; ela funciona como espelho involuntário da covardia alheia. Ela balança estruturas que contavam com o seu silêncio, com a sua versão diminuída, aquela que não fazia barulho nem questionava o que estava posto.
E porque o mundo não sabe lidar com rupturas, a reação vem. Surgem comentários, opiniões não solicitadas, críticas disfarçadas de zelo: "Você está exagerando". "Não mude tanto". "Pense no que os outros vão dizer".
São as vozes do medo tentando te puxar de volta para o conforto do previsível. Mas nada disso, absolutamente nada, define você.
A autenticidade é um teste de Rorschach para quem te cerca: ela sempre mexe com quem ainda não teve coragem de se encontrar. Ser você não é rebeldia, é sagrado. É a alma assumindo corpo, voz e destino. Você não veio para agradar plateias. Veio para honrar o seu próprio script — ainda que alguns torçam o rosto quando você escolhe crescer e sair do papel de coadjuvante.
Continue firme. Responda ao chamado da sua essência, e não às exigências da conveniência. Ser você é um pacto inegociável com a própria alma. Não é sobre aplausos; é sobre verdade. Quanto mais você se assume, mais portas se abrem — justamente porque outras, incompatíveis, se fecham.
Quem precisa ficar, fica. São os que entendem que o seu crescimento não ameaça o deles. São os que vibram com a mesma frequência de coragem. Quem não suporta a sua verdade se afasta, e isso é libertação.
No final, só permanece o que vibra no mesmo campo em que você escolheu existir. E toda vez que você escolhe a verdade, não é só o seu mundo que se reorganiza: o universo inteiro abre espaço para o que é, e sempre foi, realmente seu.
*Soraya Medeiros é jornalista.
















