DANIELE BARRETO
Era uma vez um país chamado Brasil…
Olha, não tem como começar a coluna de hoje sem lançar mão desse manjadíssima frase que inicia dez entre os dez mais belos contos de princesas e castelos pelo mundo afora. Mas, utilizo-o para trazer uma história sem princesas e sem castelos, mas com muita fantasia. Para ser mais exata, uma “fantasia coletiva” chamada Brasil.
E não são raros os casos de “fantasia coletiva” no país.
A gente faz de conta que o presidente da Câmara dos Deputados não está envolvido numa série de escândalos e, por isso, em qualquer país minimamente sério, – no mínimo – não teria legitimidade para ocupar o cargo. Fazemos de conta que o presidente do Senado, Renan Calheiros… (ah, sobre Renan não vou nem falar, gente; deu preguiça). Fazemos de conta que basta uma Reforma Política para resolver todos os problemas morais (que resistirão a mais dura e complexa mudança no ordenamento jurídico pátrio) que envolvem nossas eleições. E fazemos de conta que nosso Congresso tem legitimidade para fazer uma Reforma Política.
Para fazer de conta que o povo está saindo da miséria, por exemplo, temos um jeitinho muito nosso: diminuir os valores da faixa de renda per capita considerada ‘classe média’ e ‘alta’. E para fazer de conta que temos altos índices de alfabetização, passamos de ano todos os alunos sem condição para tanto, de forma indiscriminada; afinal, para um país ser mesmo de ‘faz-de-conta’ tem que apresentar números e não resultados. Fazemos de conta que que não somos um país de analfabetos funcionais. Fazemos de conta que problemas sociais relacionados à juventude, idosos, negros e homossexuais se resolvem com estatutos e curas.
Fazemos de conta que todos os problemas da saúde pública estão resolvidos com importação de médicos cubanos. Fazemos de conta que Obama está preocupado com o eleitoreiro discurso de Dilma sobre a espionagem americana. Fazemos de conta que propaganda institucional é fonte de informação sobre os governos. Fazemos de conta que não sabemos que as maiores redes de comunicação sobrevivem dos valores pagos pelos governos a título de publicidade oficial, o que termina por comprometer – nesse país que não prima pela ética – os programas jornalísticos. Fazemos de conta que não compreendemos que os discursos oficiais são elaborados por bem estruturadas e talentosas equipes de marketing político. Fazemos de conta que a Justiça funciona e sua morosidade não compromete as decisões e o próprio Poder.
E porque estou falando isso, hoje?
Nesta madrugada, o Congresso Nacional anulou a sessão do Senado de 2 de abril de 1964, que declarou vago o cargo de presidente da República. Explicando melhor: o senador Pedro Simon apresentou no Senado um projeto de resolução que torna sem efeito a sessão que declarou a vacância da Presidência da República naquela data. Na sessão, entendeu-se que João Goulart havia abandonado o país, mas na verdade ficou comprovado que ele estava no Rio Grande do Sul. Sendo assim, Pedro Simon (a quem tenho grande admiração), visa anular a destituição do então presidente.
O que nosso Congresso fez na noite passada foi… NADA! Ops, foi anular a sessão citada com o argumento técnico de que João Goulart estava no Rio Grande do Sul e, portanto, a decisão de destituí-lo da Presidência da República não poderia ter sido tomada. Pronto! Já botamos Jango de volta no cargo de Presidente. Agora, a gente anula os atos da Ditadura e faz de conta que ela nunca existiu. Aí, fica tudo resolvido, né?!
Daniele Barreto é advogada, pós-graduada em Direito Público, consultora política, especialista em marketing político e escreve no blog www.danielebarreto.com.br.
Jailson Aleixo 28/11/2013
Parabéns Daniela. Vi para o meu Face (jailson aleixo), e para o meu blog (mft7.blogspot.com.br
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