VICENTE VUOLO
No último final de semana, o ministro dos Transportes, Paulo Passos, esteve visitando Mato Grosso. Para nossa surpresa, ele afirmou que a "ferrovia até Cuiabá não é prioridade".
A declaração destoante e inconsequente, além de contraditória - diante do que disse a presidente Dilma na inauguração do Terminal em Rondonópolis - mostra o despreparo, a mediocridade e a falta de visão de um ministro acostumado a se ajeitar nas entranhas do poder, totalmente desinteressado em mudar os rumos da logística do nosso país.
Parece que a sua visita teve como único propósito de agradar ao seu candidato do Partido da República (PR) ao Senado e dizer, em alta voz, que a institucionalização partidária prevalece no país.
Ele obedece ordens do seu partido. E não da presidente da República. Falou contra a presidente e contra o país.
Esse fato vem fortalecer a tese do presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Raymundo Damasceno, que afirmou: "Temos um problema grave, falta um projeto de nação.
Não adiantam iniciativas isoladas por parte de quem está à frente do país. Se não decidir isso, ficamos assim, desenvolvendo iniciativas pontuais aqui e acolá. E só"!
O sr. Passos, que deveria dar um passo à frente, está na contramão da história. Seu colega e presidente da Empresa de Planejamento e Logística (EPL), Bernardo Figueiredo, rebateu as argumentações do ministro.
"A construção de ferrovias é mais importante para o país do que a duplicação ou ampliação da malha rodoviária. O país está invertendo a sua logística, pois faz o transporte de longa distância por meio das rodovias e utiliza as ferrovias apenas para curtas distâncias. Um único trem é capaz de substituir até 300 caminhões no transporte de cargas".
O ministro descabeçado deveria estudar mais. Saber que a ferrovia é prioridade sempre. Isto porque pode transportar grandes quantidades de mercadorias, mas também mercadorias de muito peso e de grande volume, tudo de uma só vez, podendo percorrer grandes distâncias. Isso torna o frete mais barato.
Deveria estudar mais, sim, para saber que embora a construção de uma ferrovia possa demandar, em um primeiro momento, um maior investimento, o custo de manutenção é muito inferior ao das estradas de rodagem.
E a estrada de ferro tem maior durabilidade, tanto do seu leito quanto dos equipamentos. Isso, se comparados aos recursos empregados nas estradas. Deveria saber, senhor ministro, que as ferrovias podem, com muito mais facilidade, usar como fonte de energia a eletricidade.
A ferrovia São Paulo-Cuiabá, por exemplo, está a 50 km da montante de Ilha Solteira, podendo ser facilmente eletrificada. Além disso, o transporte ferroviário pode ser projetado para ficar associado a uma série de entrepostos no sistema portuário do Brasil, quando tratarmos da exportação de mercadorias.
É totalmente viável, no caso de grãos e minérios, a construção de terminais especiais em portos onde seria possível transferir diretamente a carga dos vagões para os porões dos navios, reduzindo significativamente o "custo Brasil".
Como pode o ministro dos Transportes de um país continental afirmar que a ferrovia não é prioridade? O Brasil está enfrentando um momento decisivo de sua história. Terá que escolher se quer ser um gigante próspero e desenvolvido ou caminhar para trás.
Por isso, é profética a palavra do presidente da CNBB. O país suplica por pessoas que pensem e se proponham a agir com um projeto de nação e não fiquem olhando pelo retrovisor e amesquinhadas em negócios de curta duração.
A ferrovia São Paulo-Cuiabá foi descrita por Euclides da Cunha (há mais de 100 anos) como o caminho mais curto e econômico para ligar o Norte ao Sul do país.
Quase 60 anos depois, um mato-grossense ilustre seguiu esse ideal. Por isso, a homenagem ao idealizador do projeto, senador Vuolo.
Faltam apenas 200 km para os trilhos da moderna ferrovia de bitola larga, dormentes de concreto (ecologicamente mais correto) chegarem à nossa capital.
E não será um ministro descabeçado quem vai impedir o sonho dos cuiabanos!
VICENTE VUOLO é cientista político e analista legislativo do Senado Federal
[email protected]
victor hugo 05/09/2014
Desde a minha infância tenho ouvido falar do quanto uma ferrovia passando por Cuiabá e o interior do nosso estado seria benéfica ao nosso povo mas, o que não entendo é a incompetência daqueles que nos representaram e representam no senado e no congresso nacional.Realmente o nosso estado carece de uma referência verdadeiramente política pois até hoje o que temos são apenas promessas de estudos, viabilidade e etc...e nada de trilhos.
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