EDUARDO MAHON
Encerra-se um ciclo em Mato Grosso. Boa ou má, a era da administração de grandes empresários está dando lugar a outro tipo de diálogo com a sociedade.
A esperança na gerência empresarial da estrutura burocrática estatal encheu de esperança os cidadãos que foram contemplados com doze anos de um grupo político que se despede com vários hiatos: não só não fizeram os sucessores como o próprio grupo anuncia a despedida da política.
É preciso reconhecer que Mato Grosso precisava de novos conceitos administrativos, mas o fim de festa deste governo que se despede é sintomático: orientações técnicas, empresariais ou essencialmente políticas equivalem-se ou distinguem-se, dependendo da qualidade da equipe formada.
Noutras palavras: o sucesso não depende do conceito pessoal do governante, se “técnico”, se “político”.
Varia, sobretudo, se é ou não eficiente e está ou não comprometido com o bem público acima de interesses particulares.
O grupo que se retira não sai vitorioso. A propaganda de grandes realizações não só deixou de render dividendos políticos como amealhou ações judiciais de toda a ordem, projetando-se no tempo, podendo gerar inelegibilidades.
A proposta, basicamente, era excelente: trazer para a administração pública os valores bem sucedidos da iniciativa privada do setor agroexportador que faz fortuna no meio nacional e internacional.
Todavia, algo deu errado. Ninguém administra sozinho e os laços necessários à governabilidade ocasionam a entrega de postos de comando a pessoas menos capazes, cujo mérito está muito mais ligado ao lobby do que à capacidade pessoal.
Forma-se, então, o que há de pior na administração pública: o discurso autorreferente e grandiloquente dos subordinados que cercam o chefe executivo.
Os líderes, reféns da vaidade de um grupo que os blinda da realidade, são seduzidos pelos profissionais do serviço público.
Em resumo: quem nunca sobreviveu na iniciativa privada gruda-se ao chefe como um mexilhão nos cascos de navios de grande calado.
Na república romana, após o consulado, o administrador retirava-se para o campo. Era uma opção honrada, já que os patrícios não tinham a perspectiva de eternizarem-se no poder.
Por essas bandas, ocorre o contrário: o autoexílio é a última alternativa para o político, atestando grave crise de credibilidade pessoal, administrativa e política. Por vezes, até mesmo afetado por escândalos pessoais dos mais patéticos.
A população sente que o governante mais foi servido do que serviu, observando atônito às escaladas patrimoniais sem paralelo na iniciativa privada.
Afinal, para que investir milhões em campanhas? Qual o retorno do grupo empresarial de sustentação eleitoral?
A contraprestação pode atender às vaidades pessoais ou poderá ser pior – o uso da máquina pública para incrementar negócios particulares, por meio de isenções tributárias, de obras públicas que valorizem empreendimentos de determinados grupos ou de concessões públicas a aliados.
Essa recompensa pecuniária geralmente está calçada por acertos que, quando não são criminosos, configuram-se improbidades administrativas. O fenômeno não é exclusivo de nenhuma unidade federada, infelizmente.
Então, o anúncio do “perfil técnico” já foi visto. Após tantos anos, não há nada de novo que deixe de revisar propagandas antigas.
A expectativa técnica já foi um paradigma do atual grupo que se despede. Aos poucos, foi cedendo à política tradicional para se sustentar.
As experiências brasileiras de reeleição nos convence que o custo de manter o poder é enorme para a sociedade. Deu-se o mesmo em Mato Grosso. Não poderia ser diferente.
As intenções realmente eram excelentes, tudo corria para fazer o Estado despontar nos indicadores nacionais de produtividade privada e, com esses paradigmas, seguir dinâmico e forte na administração estatal.
Há muita gente que se arrependeu de ter apostado na equipe, no conceito, na imagem, na postura que, em muitos casos, não passa de blefe.
Paciência. A vida não é feita somente de acertos. Essa eterna lição fica aos futuros administradores: na escolha entre técnicos e políticos, não há uma paleta de valores para o melhor ou o pior.
O que faz o governo funcionar e ser bem sucedido é, antes de tudo, a honestidade.
EDUARDO MAHON é advogado em Cuiabá.