ROBERTO BAOVENTURA
Nesta semana, a UFMT encontra-se em festa! 43 anos! Das comemorações, destaco as apresentações do Coral e da Orquestra Sinfônica.
Quando ingressei na UFMT, ela tinha 16 anos; eu 26. Portanto, há 27 anos tenho me dedicado para ajudar na consolidação dessa importante instituição de ensino superior.
Todavia, minha contribuição nem sempre tem ocorrido nos moldes corriqueiros, pois, além de ensinar, pesquisar e – mais no início da carreira – fazer o que era possível em termos de “extensão”, ou algo próximo disso, tenho podido participar das atividades do ANDES-SN (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior).
Essa participação político-sindical – que tem sido um dos meus aprendizados mais relevantes sobre a própria vida acadêmica – tem me ajudado saber quando devo aplaudir e quando preciso cruzar os braços para expor meu senso crítico, diariamente buscado.
Por isso, tenho sido um dos observadores da vida universitária em nosso país, nela incluindo o cotidiano da instituição onde trabalho. Em menos de três décadas, é possível exclamar: como mudou a universidade brasileira! Como mudou a UFMT! Como mudamos (quase) todos nós que fazemos a academia no Brasil!
Contudo, mais precisamente nesses últimos quinze anos, essa mudança não tem nos qualificado como deveria. Tem, sim, nos quantificado, nos “numerificados” como não podia.
Resultado: mesmo com visível melhoria na estrutura física das universidades, nossa vida acadêmica – praticamente sem autonomia – está a caminho da cova. Na frente do cortejo, vão as licenciaturas, justamente onde não podia haver descida de tom, até porque o tom desses espaços nunca foi alto.
Para falar dessa queda de nível das universidades, alio-me a Luiz Felipe Pondé, professor da PUC/SP. Nossa crítica abrange o sistema em geral. Dele, nosso destaque fica por conta da vida (ou na morte) da pós-graduação.
De Pondé, extraio fragmentos lidos no artigo “A ratazana com PhD” (Philosophiae Doctor), publicado na Folha de São Paulo em 17/11/14.
1. “...no universo do mestrado e doutorado, a universidade existe para fazer relatórios que supostamente medem a qualidade da pós-graduação”;
2. “A originalidade é perseguida a pauladas...”;
3. “O aluno é a variável menor porque ele não ‘conta’ ponto nenhum para a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior)...”;
4. “E o aluno, como todo miserável numa cadeia alimentar em que é a parte mais fraca, sonha virar predador: submete-se ao matadouro porque quer passar em algum concurso. Mas, se quiser, trate de arranjar alguém que manipule uma banca a seu favor”;
5. “A produção na universidade é industrial, do tipo produção de salsichas. Puro capitalismo chinês”. E capitalismo chinês é assim: TVs, carros baratos e gente estúpida, correndo da ratazana devoradora de almas”.
Quanta pertinência e força nessas palavras!
Mais do que isso: Pondé denuncia o que virou a universidade, a começar pelo topo, agora, sem a dignidade da toga. A pós-graduação tornou-se império dos conchavos. É farsa atrás de farsa. Com raras exceções, nunca se produziu tantos mestres e doutores tão débeis.
Nunca tanta tolice foi publicada como científico. Há quem vá até ao exterior mostrar esses trabalhinhos de m..., muitos no campo do exótico. Gringo pós-moderno também curte tolices. Porém, nada desse lixo acadêmico servirá para o crescimento intelectual de nosso país.
Nunca antes... a pós foi espaço de tanta canalhice e/ou covardia.
Esse quadro precisa ser revertido; e logo, antes que seja tarde.
ROBERTO BOAVENTURA DA SILVA SÁ é doutor em Ciência da Comunicação/USP e professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)..