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Cuiabá, 08 de Agosto de 2025
08 de Agosto de 2025

19 de Fevereiro de 2016, 10h:16 - A | A

JUDICIÁRIO / "RELAÇÕES PERIGOSAS"

Ex-secretária admite ser 'laranja' de Pedro Nadaf e diz que cuidava até da família dele

Por 16 anos Karla foi assistente de Nadaf. O depoimento dela apontou uma relação profissional complexa e antiga com o ex-chefe, que se confunde com a vida particular de ambos.

KEKA WERNECK
DA REDAÇÃO



A ex-secretária institucional e pessoal do ex-secretário de Estado, na gestão do ex-governador Silval Barbosa (PMDB), Pedro Nadaf, confessou, em depoimento no Judiciário na noite desta quinta-feira (18), que realmente emprestou o nome como sócia e portanto era “laranja” na empresa de Nadaf, a NBC Assessoria e Consultoria, assim como apontou a denúncia do Ministério Público Estadual (MPE). Ela também disse que, como “funcionária” dele, apenas cumpria ordens e nunca questionou os motivos de transações financeiras que poderiam ser suspeitas, nem participou de reuniões decisivas políticas e de negócios.

"Também cuidava das coisas pessoais dele, via documentos de carros, fazia compras de mercado e por isso não achei nada demais emprestar meu nome até que o filho dele completasse a maioridade”, disse a ré Karla Cintra à juíza Selma Rosane.

Karla Cintra, que é ré no processo da Operação Sodoma, foi interrogada pela juíza Selma Rosana, da Sétima Vara Criminal de Cuiabá, em fase de instrução processual.

O depoimento de Karla confirmou uma relação profissional complexa e antiga com o ex-chefe, que se confunde com a vida particular de ambos.

Por 16 anos ela foi funcionária da Federação do Comércio (Fecomércio), que Nadaf presidiu por mais de uma década. Mas também recebia “ajuda do custo” da empresa NBC, no valor de R$ 3 mil, segundo ela, e pelos “favores” familiares que fazia, que iam desde pagar IPTU dos mais de 30 imóveis da família Nadaf, até levar a mãe dele para comprar um sofá.

Sobre os depósitos em cheques da Tractor Parts, que somam R$ 80 mil, na conta pessoal dela, alegou que recebeu, como remuneração, por férias atrasadas.

“Eu sempre trabalhei muito. Era muito trabalho, muito estresse, sem tirar férias, engolindo o almoço, na Fecomércio e também na NBC. Mas também cuidava das coisas pessoais dele, via documentos de carros, fazia compras de mercado e por isso não achei nada demais emprestar meu nome até que o filho dele completasse a maioridade”, disse a ré Karla Cintra à juíza Selma Rosane.

Sobre os depósitos em cheques da Tractor Parts, que somam R$ 80 mil, na conta pessoal dela, alegou que recebeu, como remuneração, por férias atrasadas.

A Tractor Parts é a empresa do delator neste processo, o empresário João Batista Rosa. Ele confirmou que pagou R$ 2,6 milhões em propina a Nadaf, mediante extorsão e ameaça, e que o dinheiro era para cobrir gastos da última campanha do ex-governador peemedebista. Após o depoimento dele, de delator passou à vítima no processo.

A juíza pediu a Karla um documento, como um recibo por exemplo, comprobatório do pagamento, mas ela disse que este foi um acordo verbal entre ela e o ex-chefe.

A promotora Ana Cristina Bardusco indagou à ré se ela nunca desconfiou da suspeita vida financeira de Nadaf e se jamais o avisou que certas transações eram irregulares. “De certo que na sua profissão te alertaram para essas burlas, mas a senhora, sendo formada em contabilidade, não estranhou esses cheques picadinhos?” – questionou a acusação. Karla respondeu que “na correria, não via problemas, apenas fazia meu trabalho”.

Na saída da sala de audiências, Karla encontrou com Nadaf, que estava entrando, também para depor. Ele chamou por ela e pegou na mão da ex-assistente. No depoimento dele, ele confirmou que ela apenas “cumpria ordem”.

Ela disse também que outros funcionários, tanto da Fecomércio quanto da NBC, também cumpriam ordens, recebiam depósitos e emitiam notas, assim como ela.

A promotora conduziu a ré a confirmar que, apesar dos outros funcionários, era ela quem controlava praticamente toda a contabilidade da Fecomércio, da NBC e da vida pessoal de Nadaf, demonstrando ser difícil, por ocupar tal papel, não saber das tais transações ilegais que pesam sobre o ex-chefe e amigo antigo.

Karla foi questionada por advogados se Nadaf em algum momento foi para ela mais do que um chefe ou um amigo. Ela respondeu apenas que era “funcionária” dele.

Quando Karla terminou de depor, na saída da sala de audiências, encontrou com Nadaf, que estava entrando, também para depor. Ele chamou por ela e pegou na mão da ex-assistente. No depoimento dele, ele confirmou que ela apenas “cumpria ordem”.

O advogado de Karla, Tiago Miolino, disse que ela não pode responder sozinha pelos crimes atribuídos  aos réus neste processos, porque era apenas uma funcionária, e ficava com parte do dinheiro somente como remuneração.

Tendo que respeitar medidas restritivas e usar tornozeleira, Karla responde, em liberadade, por crimes de lavagem de dinheiro, corrupção, concussão (delito praticado por funcionário público, que exige para si ou para outra pessoa vantagem indevida) e formação de quadrilha, assim como os demais réus – Silval, Nadaf, um outro ex-secretário de Estado de Silval, Marcel de Cursi, o procurador aposentado Francisco Lima e  o ex-chefe de gabinete de Silval, Sílvio Cézar.

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