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Cuiabá, 16 de Novembro de 2025
16 de Novembro de 2025

16 de Novembro de 2025, 15h:13 - A | A

CIDADES / FARRA DO INSS

Entidades de pesca têm indícios de lavagem e desvios, mostra Coaf

As entidades são suspeitas de fraudar o seguro-defeso, benefício pago a pescadores artesanais que entrou na mira da Polícia Federal e da CGU após o número de beneficiários disparar nos últimos anos.

NATÁLIA PORTINARI
UOL



Relatórios do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) enviados à CPMI do INSS apontam movimentações financeiras atípicas das entidades de pesca, levantando suspeitas de lavagem de dinheiro e de desvio de recursos públicos.

As entidades são suspeitas de fraudar o seguro-defeso, benefício pago a pescadores artesanais que entrou na mira da Polícia Federal e da CGU (Controladoria-Geral da União) após o número de beneficiários disparar nos últimos anos.

As colônias de pescadores, em nível municipal, têm acordo com federações estaduais que, por sua vez, são coligadas em uma confederação nacional. A maior, hoje, é a CBPA (Confederação Brasileira dos Trabalhadores da Pesca e Aquicultura).

As entidades e empresas envolvidas nas movimentações financeiras foram procuradas pelo UOL, mas não responderam. O espaço está aberto para manifestações.

A CBPA foi criada em 2020 por Abraão Lincoln Ferreira, um dos principais sindicalistas da pesca, para contornar uma decisão judicial que o proibiu de assumir um cargo no Piauí enquanto respondia a ações criminais.

Como mostrou o UOL, a partir de 2020, os acordos do INSS com entidades de pesca dispararam, assim como as inscrições de supostos pescadores.

Lincoln depôs na CPMI do INSS e, nesta semana, foi alvo de busca e apreensão da Polícia Federal por suspeita de envolvimento com os descontos nas contas de aposentados.

A CBPA recebeu R$ 99 milhões em descontos de aposentados de 2023 a 2025, mas sua receita era muito maior do que isso.

Apenas entre maio de 2024 e maio de 2025, a entidade gastou R$ 410 milhões em uma de suas contas bancárias.

 
 
 

"Movimentação muito acima da declarada. Suspeitamos de lavagem de dinheiro, podendo conter desvios de dinheiro público e outras ilicitudes, como favorecimento de crimes ambientais", disse a instituição financeira em comunicação ao Coaf.

 

Parte dos recursos da CBPA foram repassados a empresas que, também segundo comunicações de bancos ao Coaf, possivelmente serviam como contas de passagem para ocultar o destino do dinheiro da confederação.

Entre elas está a Home Staff, empresa em São Paulo em que 98% do faturamento, o correspondente a R$ 6,4 milhões, veio de repasses da CBPA. Desse valor, R$ 4,7 milhões foram repassados a outra firma, a Arpar Administração Participação.

Um mecanismo semelhante foi detectado na Titanium Pay, que recebeu R$ 2 milhões da CBPA em 2024, praticamente seu único faturamento, e mandou R$ 1,3 milhão para a Arpar.

Considerando um escopo temporal maior, outro relatório demonstra que, entre 2024 e 2025, a Home Staff recebeu R$ 20,4 milhões da CBPA e a Titanium, R$ 15,9 milhões.

"É possível supor que o tipo de transação realizada se configura atípica e incompatível, com indício de burla da origem e do destino do recurso, além de movimentação em benefício de terceiro", diz uma das comunicações da instituição financeira, obtidas pelo UOL.

"O tipo de movimentação realizada, bem como o montante transacionado no período, não guarda relação com o perfil operacional do cliente e de suas contrapartes" e o tipo de transação das duas empresas "parece compor um conjunto de operações com o fim de dissimular o real beneficiário do recurso".

A Arpar Administração é citada no inquérito das fraudes nos descontos de aposentados como uma empresa usada para ocultação de valores. É citada também como destino de desvios no contrato da Vai de Bet com o Corinthians, como revelou o Metrópoles.

Nos últimos três anos, a confederação também gastou R$ 14 milhões identificados em notas fiscais, segundo a quebra de sigilo enviada à CPMI do INSS.

O maior gasto, descrito como "fornecimento do e-book", foi com uma empresa de intermediação financeira, a Pagglo Serviços Financeiros Digitais. Foram R$ 4,6 milhões enviados à empresa. Em seguida, há um gasto de R$ 3,3 milhões com uma gráfica.

Abraão Lincoln não costumava fazer gastos em seu próprio nome, segundo os relatórios. A Receita Federal encontrou apenas R$ 1,6 mil em gastos com seu nome em 2024 e R$ 96,3 mil em 2025.

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