ANA ADÉLIA JÁCOMO
DA REDAÇÃO
Única mulher eleita em Mato Grosso nessas eleições, a deputada estadual Janaína Riva (PSD) diz que não terá o direito de “errar” em seu mandato na Assembleia Legislativa. A social-democrata admitiu que “carrega nas costas” o peso político das condenações judicias de seu pai, o deputado estadual José Riva (PSD), e a cassação de seu marido, ex-vereador João Emanuel (PSD).
“Depois de tudo que aconteceu com meu pai, com o João, é um momento que eu não posso errar. Não tenho chance de errar. Todos os seres humanos estão suscetíveis, mas eu não tenho essa oportunidade. Não por mim, mas pelo histórico do que já tivemos dentro da família”, avaliou ela.
Janaína concedeu entrevista exclusiva ao RepórterMT e fez um balanço sobre as obras da Copa, de como será a relação com o governador eleito Pedro Taques (PDT), e sobre a frustração pelo projeto do VLT, idealizado por Riva, ter hoje situação duvidosa e ser motivo até de piadas. Para ela, o ideal era que Mato Grosso entregasse a construção para empresas experientes da China ou Estados Unidos.
Confira os principais trechos da entrevista.
RepórterMT - Você foi eleita com o segundo maior número de votação e será a única mulher na Assembleia Legislativa. Qual será sua principal bandeira e os primeiros atos?
Janaína Riva - A primeira tem que ser a Saúde. Vejo que essa é a prioridade de todos os eleitos, desde o governador aos deputados. A Saúde, as estradas da região Norte, que é de onde eu vim, são as minhas maiores prioridades. Vou me basear no principio do municipalismo, assim como meu pai sempre fez. Essas são as queixas que a gente mais ouve. A Atenção Básica à Saúde das mulheres e das crianças também será prioridade.Não fui só a única deputada eleita, fui a única mulher eleita. Não houve senadora, governadora, deputada federal ou suplente. Tenho, sim, que erguer a bandeira das mulheres lá dentro. Na Saúde, creio que podemos criar na LOA (Lei Orçamentária Anual) um recurso para Atenção Básica à Saúde, porque hoje quando se fala em Saúde se refere a média e alta complexidade, por isso temos falta de remédio e de médicos especialistas. Tem que haver um dinheiro específico para essa área. Isso vem através de uma emenda que deve ser feita na Assembleia.
RepórterMT- Você é filha de José Riva, um político amado e odiado por muitos, que teve seu registro de candidato a governador barrado pelo TSE por ser considerado “ficha suja”. É esposa de um vereador que foi recentemente cassado. Tem noção do peso e da responsabilidade política de ter que fazer um mandato diferente?
"Os problemas do Taques com meu pai já ficam no passado. Ele é governador e meu pai não terá mais mandato"
Janaína Riva – Com certeza. A minha decisão de ficar longe da eleição da Mesa Diretora nesse primeiro momento é porque todo deputado que se põe num cargo como a Mesa está sujeito a um processo, investigações, porque isso vem junto com o cargo. O executor fica sujeito a todo tipo de coisa, como foi com meu pai. No caso do João [Emanuel], por exemplo, faltou muita experiência e eu preciso adquirir mais experiência para depois pensar num cargo na Mesa Diretora, me inteirar da LOA, do Regimento Interno e das minhas responsabilidades. Essa foi uma decisão familiar. Não é porque eu sou filha do Riva, que tenho o conhecimento que ele tem. A gente ainda não sabe como vai ser a relação com o Governo, o tratamento da Casa. Depois de tudo que aconteceu com meu pai, com o João, é um momento que eu não posso errar. Não tenho mais chance de errar. Todos os seres humanos estão suscetíveis, mas eu não tenho essa oportunidade. Não por mim, mas pelo histórico do que já tivemos dentro da família, eu não posso errar. Por isso eu prefiro ficar distante desses problemas, ou do que venham me gerar problemas depois. Vou atuar como deputada, com opinião própria.
RepórterMT- Como já adiantou que não irá disputar a presidência da Assembleia, quem são os candidatos mais cotados? O seu papel será de oposição ao Governo?
Janaina Riva – Desde o início, Mauro Savi (PR) demonstrou vontade de ser presidente da Assembleia. Acho um bom nome, pela experiência e conhecimento da Casa e de outros parlamentares. Tem facilidade para dialogar com os pares, o Mauro não teve problema nenhum com o governador e com nenhum partido.
RepórterMT- Já formou sua equipe de gabinete? O Riva ou o João Emanuel irão atuar?
Janaina Riva – No gabinete, não, mas em casa com opiniões, me dando nortes e compartilhando experiências. Acho que no gabinete tem que ser uma equipe técnica. Lá, eu já tenho uma equipe experiente, alguns já estão com meu pai há 20 anos.
RepórterMT- Como acredita que será sua convivência com os ‘tubarões’ da política que foram reeleitos? Você vai seguir linha combativa, ou buscará dialogo?
"Represento o povo e não meu pai, ou minha família. Eu não tenho a chance de errar, não por mim, mas pelo histórico do que já tivemos dentro da família"
Janaina Riva – Com os colegas eu tenho que buscar o diálogo. Todos se mostraram solícitos em me ajudar a ter o posicionamento independente. Eu deixei claro que seria oposição, que gostaria de ser livre pra usar a tribuna, porque essa era minha principal preocupação, de eu não ter espaço lá dentro, mas acredito que não terei dificuldades, até pelo respeito por eu ser mulher.
RepórterMT- Como acredita que será sua relação com o governador eleito, até pelo histórico de desavenças pessoais e políticas que ele teve com seu pai. Acredita que vai dificultar sua relação?
Janaina Riva – O Taques tem tudo pra ser um governador diferente, pautado no que ele disse nos debates e em tudo que ele propôs para o Governo dele. Não acredito que possa haver perseguição, até porque os problemas dele com meu pai agora já ficam no passado. Ele é
RpMT

Janaína: "histórico da família não me permite errar"
governador do Estado e meu pai, a partir do ano que vem, não tem mais mandato e vai se dedicar a assuntos particulares. Isso tudo ficou pra trás, tenho certeza que serão superados, até porque eu preciso muito do Governo do Estado. A vingança é o jogo do “perde-perde”. Se eu não conseguir ter esse diálogo, perde a população e eu como política. As criticas têm que ser fundamentadas, têm que ser propositivas, não pode ser levado para o âmbito pessoal. Represento o povo e não meu pai ou minha família.
RepórterMT- Durante a campanha, Taques afirmou que faria uma espécie de “limpeza” no Governo do Estado.
Janaina Riva – Eu acho que ele tem que manter o que falou. Tem que mostrar os responsáveis. Da mesma forma, vai ser o relacionamento da Assembleia com o Pedro governador. Eu, como deputada, pretendo fiscalizar o Executivo, até porque todas as promessas de campanha, a população espera que sejam cumpridas. O que aconteceu eu não sei, mas cabe responsabilidades. Mas quem vira vidraça é o novo governador e quem fiscaliza é a AL, ele não vai ter esse papel de fiscalizar como tinha no Ministério Público, agora é totalmente diferente. Ele vai ver o quanto é difícil para um gestor, com tamanha burocracia, conseguir fazer um mandato sem problema nenhum. É muito difícil manter o discurso, o controle do staff, porque nem tudo é sob o comando exclusivo do governador. Cada secretaria, cada funcionário é de responsabilidade dele, não basta só sua conduta, mas a conduta de uma equipe inteira que está sob sua responsabilidade.
"Quem vira 'vidraça' é o novo governador e quem fiscaliza é a AL. O Taques não vai ter o papel de fiscalizar, como tinha no Ministério Público, agora é totalmente diferente. Ele vai ver o quanto é difícil para um gestor, conseguir fazer um mandato sem problema nenhum"
RepórterMT- Como você acredita que os deputados vão encontrar o Estado depois do mandato do Silval?
Janaina Riva – Mato Grosso é um Estado que está extremamente endividado. Nós vamos ter que fazer muito, com pouco. A maioria das ações que foram propostas terão dificuldades de ser cumpridas, até pela situação do Estado hoje. Eu soube de uma decisão do Ministério Público, por exemplo, que o Hospital Central vai ter que constar na LOA do ano que vem, já é um ponto de dificuldade. 12 % do Fethab são usados para pagar folha, ou seja, o Estado realmente está acima do que consegue pagar. O enxugamento ter que ser feito. Acho que extinguir as secretarias é um inicio. Hoje se tem uma Secretaria de Esportes que não tem uma bola, um fardamento ou um troféu para o município. A secretaria fica limitada a apoiar um ou outro evento, criar projetos e ter funcionários públicos, mas deixa a desejar na sua atividade afim. Esse enxugamento é necessário. O fim das secretarias vai ser importante, acho que ele começa inovando ao enxugar os custos do Estado.
RepórterMT- Seu foco enquanto deputada será a região Norte do Estado, ou Juara, que é a base eleitoral do seu pai?
Janaina Riva – Meu foco tem que ser o Nortão, mas eu não posso esquecer-me de Cuiabá, que me deu a segunda maior votação no Estado. É aqui que eu moro, que moram meus filhos e onde eu vivo, onde a violência mais impacta, a Educação... Eu gostaria de priorizar Cuiabá e Várzea Grande. Eu sempre deixei claro para o meu pai que eu gostaria de me dedicar, até porque enquanto ele viveu a vida dele no Nortão, eu passei quase a vida toda na Baixada Cuiabana. A Saúde de Várzea Grande é uma das piores do Estado, o Pronto Socorro de Várzea Grande é o pior. Os prefeitos reclamam de recursos, e o Estado tem obrigação de ajudar. Não chega a 15% os repasses à Saúde, sendo que na Constituição tem que ser 35%, por isso eu digo que vai ser difícil para o Pedro manter esse discurso legalista.
RepórterMT- Acredita que nesse cenário dá pra terminar as obras da Copa do Mundo, e colocar o VLT em funcionamento?
Janaina Riva – Sim. O sonho do meu pai era um VLT que não seria bancado pelo Estado. Gostaríamos de ter terceirizado o VLT. Fica essa discussão por causa do preço das passagens, mas a população não Se importa em pagar por algo condizente ao serviço. A China, por exemplo, era um dos que se interessaram em fazer a obra e, pelo preço da passagem, conseguir operar. Não era só a China, os Estados Unidos também. Numa situação como está, o Estado se endivida e a União de endivida. Em nenhum momento meu pai achou que o Estado teria como bancar a construção do VLT, e ele disse isso várias vezes. Depois de construído, o Estado poderia ajudar nos custos com a passagem. Mas foi uma escolha da gestão, quem decide é o governador.
RepórterMT- Acha então que o governador Silval Barbosa errou em assumir essa obra?
Janaina Riva – Ele conseguiu fazer o projeto e aprovar, mas para o Estado seria melhor ter feito em parcerias com empresas de fora. O Pedro Taques disse que vai concluir e vai contar com o apoio dos deputados eleitos. É muito diferente do transporte urbano que temos, é muito melhor e vai ser o maior legado que o governo Silval vai deixar para o Estado. O
Hoje se você der um caixão é crime. Se você usar seu avião particular para carregar um paciente, é crime. Então, hoje não é mais como era antes. Meu pai responde por muitas dessas condutas dele, que antes eram permitidas e hoje não é. São morais, mas são ilegais.
que mais angustia a população é a demora na conclusão dessas obras e o medo de que elas não terminem. A Secopa, quando deu prazo, não conseguiu cumprir. Faltou planejamento e a forma de dar continuidade é chamando profissionais qualificados, como, por exemplo, o CREA [Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura] pra ajudar na conclusão. Mas essa é uma decisão política. Vocês viram que não adianta fazer uma obra mais barata, se ela não tem qualidade.
RepórterMT- O que tira de lição da vida pública do seu pai e o que faria diferente, ou melhor?
Janaina Riva – Meu pai é um homem que viveu intensamente a vida pública. Ao mesmo tempo em que teve vários ganhos, teve muitas perdas. Essa postura que ele tem de atender todo mundo, sem olhar a hora, o tempo e nem como, o prejudicou muito. Infelizmente, ele talvez não tenha sido tão reconhecido como deveria. É lógico que teve reconhecimento, foi o mais votado na ultima eleição, porém é muito desgastante emocionalmente e politicamente. Eu acho que tem que ter horário pra tudo. Tem que ter horário para trabalhar, para se dedicar à sua família. Meu pai fez isso, mas foi muito além, ele nunca teve hora, feriado, final de semana e isso tem um retorno positivo e negativo. Chamou muito a atenção para si. No primeiro mandato foi secretário da AL. Tudo que ele viveu foi intenso, momentos que serão difíceis de se repetir. Foram seis mandatos na Assembleia Legislativa. Ouvi que nunca existiu um deputado igual ao Riva. Jamais poderei me comparar a ele.
RepórterMT- Tem noção da quantidade de pessoas que se consideram “órfãs” do Riva e que podem procurar você para manter esse elo?
Janaina Riva – Tenho sim. E é por isso que em todos os comícios eu dizia: ‘Não esperem que eu vá ser igual ao meu pai’. Eu quero que as pessoas saibam que será totalmente diferente. A política mudou muito. Essa política como se fazia há 20 anos, mais paternal, você não vai conseguir fazer. Hoje, se você der um caixão pra ajudar num enterro de entre de família necessitada, pode ser considerado crime; se você usar avião particular para carregar um paciente é crime. Então, hoje não é mais como era antes. Por mais que exijam de volta, não volta mais. Meu pai responde por muitas dessas condutas dele, que antes eram permitidas e hoje não é. São morais, mas podem não ser legais. Tudo que ele fez, vão sentir falta. Àqueles que imaginam que eu serei igual, verão como será diferente. Não só eu, mas qualquer outro deputado.