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DO UOL
O planejamento do assassinato do advogado Roberto Zampieri, executado no final de 2023 em Cuiabá e pivô de uma investigação sobre venda de decisões judiciais, ficou registrado em uma série de diálogos obtidos pela Polícia Federal entre o matador de aluguel e um grupo de militares que formaram uma empresa para serviços de espionagem e assassinatos de autoridades.
O grupo foi alvo, na semana passada, de uma operação da PF que prendeu o mandante do crime, o fazendeiro Aníbal Manoel Laurindo. Segundo a investigação, o motivo do assassinato foi uma disputa de terras.
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A PF também encontrou vínculos dele com os militares apontados como responsáveis pelo crime, como transações bancárias, uma foto em um evento e telefonemas em período próximo à execução do advogado.
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O autor dos disparos que mataram o advogado na porta de seu escritório, em 5 de dezembro de 2023, foi Antônio Gomes da Silva —ele admitiu o crime, de acordo com a polícia.
Ele foi identificado na investigação da Polícia Civil de Mato Grosso a partir de imagens das câmeras de segurança. Antônio ficou sentado por aproximadamente uma hora em um local próximo ao escritório de Zampieri e, quando o advogado deixou o local, aproximou-se e atirou 12 vezes, segundo a polícia.
A investigação traçou o histórico de preparação do crime. No mês anterior, Antônio foi ao escritório de Zampieri fingindo que estava interessado em contratar seus serviços.
Ele inventou uma história: disse que um sobrinho nos Estados Unidos havia recebido uma herança após a morte do sogro e desejava investir o dinheiro na aquisição de terras em Mato Grosso. Em depoimento à Polícia Civil, o sócio de Zampieri, José Sebastião de Campos Sobrinho, disse ter achado estranho o relato, mas afirmou que Zampieri deu prosseguimento às tratativas porque entendeu ser uma oportunidade de negócio.
Enquanto se aproximava de Zampieri, seu algoz informava os detalhes da empreitada para Hedilerson Barbosa, instrutor de tiro que foi responsável por contratá-lo para o assassinato.
Ele estava estruturando uma empresa com o coronel da reserva do Exército Etevaldo Caçadini voltada para espionagem e assassinatos.
Antônio Gomes avisou a Hedilerson que se encontrou com Zampieri e iniciou uma aproximação. Uma semana após o primeiro encontro, ele explicou a Hedilerson que era necessário cautela até ganhar a confiança do advogado.
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"Igual eu te falei, sô. Se eu chegasse no primeiro dia aqui e me turbiasse [tivesse um atitude suspeita], qualquer vacilo que eu desse, ele não ia me receber na segunda vez de jeito nenhum. E nem me passar os áudios, nem aquelas fotos lá, entendeu? Então tem que ser na calma, muito bem feito, bem trabalhado, pro cara, você olhar no olho do cara assim, e passa confiança pra ele, entendeu?", disse, em uma mensagem de áudio.
Para tentar camuflar a ação criminosa, eles usavam códigos para se comunicar. Antônio Gomes era o empreiteiro, enquanto o coronel Caçadini seria o "engenheiro", contratante da "obra".
"Fala pro engenheiro que está bem tranquilo os resultados ok. Cautela e parcimônia para não der errado", disse Antônio. Hedilerson responde: "Vou passar para ele cronograma da obra".
Dias depois, o coronel Caçadini pergunta: "Será que termina hoje? O cliente só fica me perguntando, está ansioso". Hedilerson repassa a informação para Antônio Gomes, mas deixa claro que não era necessário ter pressa.
Antônio responde: "Isso mesmo. Eu não fico desesperado nestes casos para não errar. Pressão 12 por 8 kkkkkkk". Hedilerson concorda: "Cautela e sangue-frio".
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