JUACY DA SILVA
Antes de chegar ao centro do poder nacional com a eleição de Lula, o PT fazia da “ética na política” e da defesa da classe operária e demais trabalhadores, inclusive da classe média, suas principais bandeiras de luta.
Nesta caminhada rumo ao Palácio do Planalto foi conquistando vagas em câmaras municipais, prefeituras, governos estaduais, Assembleias Legislativas, Congresso Nacional até que, depois de algumas derrotas, seu candidato chegou aos píncaros do poder.
O PT, seus militantes e dirigentes não se cansavam de pronunciar inflamados discursos acusando os governos federal, estaduais, municipais e o Congresso Nacional (onde conforme Lula existiam 300 picaretas) de estarem infestados de corruptos e práticas de corrupção. Lula particularmente durante anos acusou o Governo Sarney de práticas de corrupção, da mesma forma que aproveitou a onda dos escândalos da era Collor fazendo disto verdadeiros palanques. Em São Paulo o PT cresceu graças `a cruzada que fez durante décadas contra Maluf, a quem acusava de corrupção, hoje seu aliado.
Quis o destino e o tempo contribuiu para que este véu que cobria uma certa “virgindade” política fosse rompido ou como diz o provérbio, acabou por morder a própria língua ou outro adágio que diz..”quem com ferro fere com ferro será ferido”.
Ao chegar ao poder em Brasília, o PT acabou fazendo alianças com todos os partidos e políticos a quem em passado recente acusava de corruptos. Fez aliança com o PP de Maluf, com o PMDB de Sarney, com o PTB da CPI dos correios, com outros políticos e empresários que aos poucos a opinião pública passou a conhecer como era este “jeito petista de governor”, igual ou pior do que dos governos anteriores, onde a corrupção corre solta com tantos escândalos já revelados.
Quando estouraram as denúncias de que havia um esquema, que depois o STF demonstrou que era na verdade uma quadrilha, todos os altos dirigentes petistas e inclusive o então Presidente Lula negaram os fatos, acusavam a imprensa, a oposição ou tentavam desqualificar os acusadores como mentirosos, caluniadores e outros adjetivos.
Assim, ao longo de sete longos anos o governo Lula passou pelo sufoco do Mensalão, gerenciado, segundo o Ministério Público Federal e o STF, por uma quadrilha enquistada no coracão do governo, tendo como chefe o então homem-forte ou todo poderoso chefe do Gabinete Civil da Presidência da República. Após meses de debates o julgamento chegou ao fim e condenou a cúpula pestista da época e inúmeros outros colaboradores e aliados a várias penas, algumas bem longas.
Antes mesmo que terminasse o veredito do Mensalão e a definição quanto ao regime a que vários dos integrantes da quadrilha devam ser submetidos, se em regime fechado, aberto ou semi-aberto ou se alguns que ainda detém mandatos eletivos devem ser cassados pelo STF ou se a perda de seus mandatos deverá ser declarada pelo Legislativo (Câmara federal ), o Governo Lula/Dilma voltou a ser sacudido por um novo e talvez maior escândalo do que o mensalão.
Nada menos do que a chefe do gabinete da Presidência da República em SP, uma Secretária que ao londo de anos gozou de intimidade com o poder, juntamente com três outros servidores graduados, dirigentes de Agências Reguladoras (a Anae a Anac), e o Advogado-Geral Adjunto da União, acabam de ser denunciados na Operaçao Porto Seguro por formação de quadrilha, tráfico de influência, lavagem de dinheiro, corrupcão e outros crimes.
Para completar, surgem novas denúncias do operador do Mensalão ao MPF, Marcos Valério, dizendo que o ex-Presidente Lula sabia de tudo e que até mesmo parte de suas despesas teriam sido pagas com dinheiro sujo, fruto da corrupção e outras práticas nada ética e muito menos republicanas.
Novamente o PT, partidos e aliados do Governo e a própria Presidente tentam desqualificar as acusações. A oposição quer ouvir o denunciante, o Governo prepara uma grande operação abafa. Alguns ministros do STF, inclusive seu presidente, dizem que é preciso ter cautela, mas cabe ao MPF aprofundar as investigações. Afinal todos são iguais perante a Lei.
A novella continua e deve se estender possivelmente até 2014. Quem viver verá!
JUACY DA SILVA é professor na UFMT, ex-diretor da Adufmat, mestre em Sociologia.
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