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Cuiabá, 15 de Março de 2025
15 de Março de 2025

15 de Maio de 2013, 14h:47 - A | A

OPINIÃO / GUILHERME BEZERRA DE CASTRO

Retirada das mamas

Conduta corajosa de Angelina Jolie coloca em discussão esse procedimento

GUILHERME BEZERRA DE CASTRO



 

O câncer de mama, o mais agressivo das doenças neoplásicas, mais pela agressão psíquica que provoca nas mulheres do que pela mortalidade atual, ganha a cada tempo um novo fato na mídia que tumultua a cabeça de todo mundo, mas põe à mesa uma discussão saudável.
 
A mama feminina tem significado muito abrangente na estrutura global do gênero, pois, na adolescência representa a entrada na feminilidade, ao amamentar ela se torna mãe, sob as roupas é sexy e ainda é órgão de estímulo sexual.
 
Retirar uma mama ainda representa uma agressão brutal em todos os valores acima mencionados. Ontem o mundo acordou com uma notícia de que Angelina Jolie retirou suas mamas preventivamente. Porque isso?
 
A razão tem embasamento técnico que requer análises muito bem estruturadas que não são disponíveis universalmente e por isso não é difundida como padrão de tratamento preventivo.
 
Existem dois Genes, nos núcleos das nossas células, identificados como BRCA1 e BRCA2 (Breast Cancer 1 e 2 – Câncer de Mama 1 e 2) que atuam como vigilantes no organismo humano prevenindo o aparecimento do câncer, desacelerando o crescimento rápido e desordenado das células. Quando sofrem mutação, isto é, são agredidos por agentes externos e perdem sua função ocorre um anormal risco de aparecimento de câncer de mama e ovários. 
 
O que existe de diferente na mutação deste gene é que ele pode ser transferido para os descendentes dos que sofreram a agressão, isto é, desenvolve o poder da hereditariedade. No entanto, a mutação concomitante dos dois genes, quando não existe relação familiar da doença, é responsável por apenas 5 a 10% dos cânceres de mama e de 10 a 15% nos de ovário. Quando há hereditariedade envolvida no desenvolvimento de uma das doenças, a mutação só está presente em 2% dos casos. Portanto, o risco de que alguém com mutação nesses genes, herdados dos pais, para desenvolver câncer é muito pequena. 
 
Outros fatores envolvidos no aparecimento da doença são avaliados na indicação de uma mastectomia preventiva, como a que Angelina Jolie se submeteu. Uma das que influenciam é a inserção de grupos étnicos específicos e a força da mutação. 
 
Estudos que avaliam melhor essa conduta identificam que mesmo com a retirada dos ovários e das mamas, mulheres com altíssimo risco de desenvolver a doença não se livram de surgirem em algum momento da vida com uma surpresa. Algumas desenvolvem o câncer no peritônio, que é uma fina membrana que envolve todas as vísceras abdominais, como um papel celofane, decorrente dessa mutação genética dupla. A doença que Hebe Camargo teve. 
 
Outras desenvolvem o câncer de mama em fragmentos mínimos do tecido remanescente que a cirurgia não foi capaz de retirar totalmente. Não por má técnica cirúrgica, mas porque é cientificamente impossível ressecar 100% do tecido. Ainda manter as mulheres com a dupla mutação herdada sob vigilância ativa é o melhor caminho para prevenção avaliando o aspecto universal de uma conduta, isto é, que pode ser reproduzida em todos os cantos do planeta. 
 
A análise desses genes só deve ser efetuada por mulheres que possuam histórico familiar de câncer de mama e de ovário em vários indivíduos e que possuam equilíbrio emocional estruturado para saber que se encontra num grupo de alto risco para a doença. Tem que ter a cabeça de Angelina Jolie.
 
A conduta corajosa dessa mulher surpreende o mundo e possui um valor extraordinário por colocar em discussão abertamente uma doença com componente estigmatizante muito forte.
 
Falar sobre um problema ajuda extrair preconceitos e alcançar resultados globais de prevenção, detecção precoce e controle da doença. 
 
GUILHERME BEZERRA DE CASTRO é médico cirurgião, oncologista e mastologista em Cuiabá.

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