GUILHERME BEZERRA DE CASTRO

Retirar uma mama ainda representa uma agressão brutal em todos os valores acima mencionados (Assessoria)
GUILHERME BEZERRA DE CASTRO
Retirar uma mama ainda representa uma agressão brutal em todos os valores acima mencionados (Assessoria)
GUILHERME BEZERRA DE CASTRO
O câncer de mama, o mais agressivo das doenças neoplásicas, mais pela agressão psíquica que provoca nas mulheres do que pela mortalidade atual, ganha a cada tempo um novo fato na mídia que tumultua a cabeça de todo mundo, mas põe à mesa uma discussão saudável.
A mama feminina tem significado muito abrangente na estrutura global do gênero, pois, na adolescência representa a entrada na feminilidade, ao amamentar ela se torna mãe, sob as roupas é sexy e ainda é órgão de estímulo sexual.
Retirar uma mama ainda representa uma agressão brutal em todos os valores acima mencionados. Ontem o mundo acordou com uma notícia de que Angelina Jolie retirou suas mamas preventivamente. Porque isso?
A razão tem embasamento técnico que requer análises muito bem estruturadas que não são disponíveis universalmente e por isso não é difundida como padrão de tratamento preventivo.
Existem dois Genes, nos núcleos das nossas células, identificados como BRCA1 e BRCA2 (Breast Cancer 1 e 2 – Câncer de Mama 1 e 2) que atuam como vigilantes no organismo humano prevenindo o aparecimento do câncer, desacelerando o crescimento rápido e desordenado das células. Quando sofrem mutação, isto é, são agredidos por agentes externos e perdem sua função ocorre um anormal risco de aparecimento de câncer de mama e ovários.
O que existe de diferente na mutação deste gene é que ele pode ser transferido para os descendentes dos que sofreram a agressão, isto é, desenvolve o poder da hereditariedade. No entanto, a mutação concomitante dos dois genes, quando não existe relação familiar da doença, é responsável por apenas 5 a 10% dos cânceres de mama e de 10 a 15% nos de ovário. Quando há hereditariedade envolvida no desenvolvimento de uma das doenças, a mutação só está presente em 2% dos casos. Portanto, o risco de que alguém com mutação nesses genes, herdados dos pais, para desenvolver câncer é muito pequena.
Outros fatores envolvidos no aparecimento da doença são avaliados na indicação de uma mastectomia preventiva, como a que Angelina Jolie se submeteu. Uma das que influenciam é a inserção de grupos étnicos específicos e a força da mutação.
Estudos que avaliam melhor essa conduta identificam que mesmo com a retirada dos ovários e das mamas, mulheres com altíssimo risco de desenvolver a doença não se livram de surgirem em algum momento da vida com uma surpresa. Algumas desenvolvem o câncer no peritônio, que é uma fina membrana que envolve todas as vísceras abdominais, como um papel celofane, decorrente dessa mutação genética dupla. A doença que Hebe Camargo teve.
Outras desenvolvem o câncer de mama em fragmentos mínimos do tecido remanescente que a cirurgia não foi capaz de retirar totalmente. Não por má técnica cirúrgica, mas porque é cientificamente impossível ressecar 100% do tecido. Ainda manter as mulheres com a dupla mutação herdada sob vigilância ativa é o melhor caminho para prevenção avaliando o aspecto universal de uma conduta, isto é, que pode ser reproduzida em todos os cantos do planeta.
A análise desses genes só deve ser efetuada por mulheres que possuam histórico familiar de câncer de mama e de ovário em vários indivíduos e que possuam equilíbrio emocional estruturado para saber que se encontra num grupo de alto risco para a doença. Tem que ter a cabeça de Angelina Jolie.
A conduta corajosa dessa mulher surpreende o mundo e possui um valor extraordinário por colocar em discussão abertamente uma doença com componente estigmatizante muito forte.
Falar sobre um problema ajuda extrair preconceitos e alcançar resultados globais de prevenção, detecção precoce e controle da doença.
GUILHERME BEZERRA DE CASTRO é médico cirurgião, oncologista e mastologista em Cuiabá.
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